segunda-feira, 3 de setembro de 2018

«OPINIÃO» "RISCO DE MERCADO: NOVO PARADIGMA NO SISTEMA BANCÁRIO DA UEMOA" - 'MESTRE' ALIU SOARES CASSAMA

O risco é um elemento que existe em todas as actividades da nossa vida.

A actividade bancária, pela sua natureza específica, implica a exposição da instituição a diversos tipos de riscos.

No contexto bancário, entende-se por risco a probabilidade de perda, ou seja, o risco pode ser tudo o que impacte no valor de capital da instituição, podendo ser oriundo de eventos esperados ou não, razão pela qual o Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO) introduziu no seu quadro regulatório em janeiro 2018 em todo o sistema bancário da União dois tipos de riscos (Operacional e de Mercado). As autoridades internacionais lançaram um vasto programa de iniciativas regulatórias abrangendo matérias de natureza prudencial, contabilística e económica, com vista a reforçar a capacidade dos bancos absorverem choques em ciclos económicos adversos, melhorar os seus mecanismos de controlo interno, em particular os relacionados com a gestão do risco, aumentar a transparência e a qualidadade da informação divulgada, bem como tornar mais justa e prudente a relação com o cliente.

Globalmente, estas novas regras terão impacto positivo na resiliência das instituições bancárias, ao contribuirem para o reforço das almofadas de capital e para a melhoria dos processos de gestão.

Gerir um banco é constantemente gerir riscos: o risco de mercado (risco de taxa de juro e risco cambial), o risco de liquidez, o risco de crédito, o risco operacional, o risco reputacional… A permanente inclusão dos departamentos de risco, vulgo ‘’risk office’’ e dos departamentos de ‘’compliance’’ nas estruturas organizacionais dos bancos vem provar a importância deste tema.

Na Guiné Bissau, nenhum banco dispõe ainda deste serviço segundo as auscultações feitas nas cinco estruturas (ORABANK, BAO, BDU, ECOBANK, BANCO ATLANTIQUE). Tudo indica que o ORABANK, instituição onde trabalho, irá criar um serviço de risco de mercado em janeiro de 2019.

Assumir riscos é importante na atividade dos serviços financeiros e os riscos de índole operacional são uma consequência do exercício da atividade. O objetivo de um Banco é alcançar um equilíbrio entre risco e retorno esperado.

O risco de mercado é, dentre todos os diferentes riscos que incidem sobre o investimento, o mais percetível aos olhos do investidor, razão pela qual vai ser muito interessante para o nosso mercado esta mudança.

O risco de mercado pode ser originado por diversos eventos:
ü  -Mudanças políticas significativas
ü  -Vulnerabilidade a ataques terroristas
ü - Início de uma guerra
ü - Desastres naturais

São situações que podem impactar todo o mercado.

A Guiné-Bissau é um país essencialmente instável em termos políticos e militares, é um país vulnerável a ataques terroristas e ao branqueamento de capitais devido à fragilidade do nosso Estado, significando que todas as características supracitadas encaixam no nosso perfil. Por isso, temos que inverter este cenário para podermos ter um mercado atrativo para os investidores.

Somando a isto um panorama de um setor empresarial muito fragmentado e dependente de financiamento bancário, torna-se evidente e urgente profissionalizar a gestão de risco do mercado. Neste ambiente, uma gestão profissionalizada reduz a incerteza e, portanto, limita significativamente as perdas potenciais.

Os agentes económicos, as famílias, as empresas, o Estado, todos têm um papel fundamental na economia e no controlo do risco de mercado. Quando qualquer um destes atores económicos passa por dificuldades, o risco de contágio aos outros é elevado. Os indicadores económicos têm revelado um clima desfavorável e temos dados suficientes para sermos cautelosos quanto ao risco de mercado.

O facto da economia guineense ser excessivamente dependente da castanha de cajú representa um risco de mercado enorme. Uma economia altamente dependente de uma única commodity deve ser urgentemente reorientada para evitar os efeitos nefastos da vulnerabilidade da volatilidade desta matéria-prima.

Temos uma outra perspetiva que são as decisões de política monetária dos Estados Unidos, cuja subida das taxas de juros prejudica os mercados emergentes. Por outro lado, sempre que ocorre uma alteração ao nível da reserva federal norte americana, os bancos da zona euro também são afetados com taxas de juros negativas, e isto preocupa-nos porque a Europa é o nosso mercado privilegiado, com quem mantemos relações comerciais permanentes, e também pelo facto a nossa moeda (FCFA) ter uma paridade fixa com o EURO: 1euro=655,957 FCFA.

Apenas uma contribuição enquanto bancário.

Mestre Aliu Soares Cassamá

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