terça-feira, 25 de setembro de 2018

ENTREVISTA/EMBAIXADOR DA GUINÉ-BISSAU APELA EMPRESÁRIOS CABO-VERDIANOS A INVESTIREM AGORA NO PAÍS

Agência Inforpress


(c/áudio)

https://soundcloud.com/inforpress/mbala-fernades01

Cidade da Praia, 24 Set (Inforpress) – O embaixador guineense-bissau M’bala Fernandes apelou hoje os empresários cabo-verdianos a investirem na Guiné-Bissau e não esperar pela estabilização política, “porque o País não está em guerra”.

O chefe da representação diplomática da Guiné-Bissau em Cabo Verde lançou esse repto em entrevista à Inforpress, por ocasião do 45º aniversário da Independência do seu país, que hoje se assinala.

“Vamos para as eleições no dia 18 de Novembro, se tudo correr bem e Deus queira que tudo corra bem. Se houver eleições, mas se não houver uma mudança em termos de atitude dos dirigentes políticos, pode vir a acontecer o mesmo que aconteceu há quatro anos”, precisou M`bala Fernandes, acrescentando que, se não houver o “reconhecimento implícito e explícito” dos erros que, no passado, se cometeu na governação, “não serão as eleições que resolverão os problemas” com que se depara o país.


Para M’bala Fernandes, é preciso que haja uma “reflexão profunda” sobre os males que assolam a Guiné-Bissau e as suas raízes.


Na sua perspectiva, os políticos guineenses têm que ter a capacidade para resolver os seus problemas internos e lembra que, durante onze anos, o país fez uma luta armada de libertação nacional “tão brilhante, sob a liderança do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde)”.

Segundo ele, desde o tempo da luta de libertação, passando pela fase do partido único, “houve sempre problemas que ainda não foram saneados”, persistindo uma “certa desconfiança” entre as elites políticas e sociais do país.

Reconhece, porém, que tem havido um esforço para o diálogo, mas que se deve ir um pouco mais.

Ir além deste esforço, prossegue, significa reconhecer que este é melhor do que o outro e significa ainda “que temos que saber lavar a nossa roupa suja em casa”.

“O problema da Guiné é político e, como tal, tem que ser resolvido politicamente”, indicou o representante de Bissau na Cidade da Praia, realçando a postura dos militares nos últimos quatro anos que apontaram que a situação tem que ser resolvida politicamente.

Lamenta que o país ainda não consiga produzir o que almeja para sustentar a sua população, não obstante dispor de recursos naturais que não estão a ser explorados, nomeadamente fosfato, bauxite e a pesca.

“Neste momento, estamos apenas na monocultura do caju, porque é o que dá lucro rápido e é o que sustenta a economia do país”, notou o embaixador M’bala Fernandes que acredita que qualquer dia o país pode enveredar para outras produções e deixará de precisar de apoios que tem estado a receber, porque tem recursos que o podem tornar em “país auto-suficiente”.

Enquanto católico e praticante, Fernandes acredita que um dia “Deus há de iluminar alguém ou grupo de pessoas” para que o país saia da actual situação em que se encontra.

“Tenho fé e creio que muitos guineenses também confiam que um dia havemos de lá chegar. Não vai tardar. É verdade que os actores que estão a perfilhar poderão não se entender, porque há interesses, mas vamos chegar a um consenso que, realmente, o país pode avançar”, observa.


A cooperação empresarial entre a Guiné-Bissau e Cabo Verde constitui um grande desejo diplomata, que apela aos empresários dos dois países a uma maior dinâmica nesse sector.

“Os empresários terão um terreno fértil na Guiné-Bissau para produzirem exportar para Cabo Verde, em termos de milho e outros produtos”, concluiu, apelando aos homens de negócios para que “não esperem pela estabilização política porque o país não está em guerra”.

No entendimento de M’bala Fernandes, enquanto os cabo-verdianos aguardam pela estabilidade política e “funcionamento normal” das instituições do Estado, outros vão entrando na Guiné-Bissau e “são os que não têm nada a ver connosco”.

Sobre o recenseamento eleitoral já iniciado no seu país, é de opinião que Cabo Verde teve um papel “muito importante” neste processo.

Conforme revelou, as autoridades cabo-verdianas disponibilizaram-se para ceder à Guiné-Bissau 20 dos seus kits que estão operacionais, mas diz ele, surgiram problemas de ordem legal, uma vez que os equipamentos cabo-verdianos estão programados para que a entrega dos cartões se efectue depois do recenseamento, enquanto na lei da Guiné-Bissau está explícito que o eleitor recebe imediatamente o seu cartão.

Um outro obstáculo encontrado nesta cooperação com o arquipélago, ajuntou, é que os 20 kits colocados à disposição das autoridades guineenses não são suficientes para que o recenseamento eleitoral seja efectuado ao mesmo tempo em todo o território nacional, conforme estabelece a lei.

“Dada a experiência de Cabo Verde em matéria eleitoral, aproveitamos o Núcleo Operacional do Sistema de Informação (NOSI) para criamos um centro de informação eleitoral, com vista a desanuviar as reclamações, a desconfiança e, ainda, desdiabolizar, se assim podemos dizer, o processo”, ressalvou, adiantando que um processo eleitoral que se inicia com desconfiança “é muito provável que não chegue ao fim”.

O diplomata adiantou, por outro lado, que, neste momento, Cabo Verde está a ajudar na criação de um centro de atendimento durante o período eleitoral e do recenseamento, além da criação de sites e processos que permitam aos cidadãos aceder às informações através dos telemóveis.

“Queremos beber da experiência de Cabo Verde e, por isso, pedimos o apoio do Governo que aceitou e há contactos entre os gabinetes dos primeiros-ministros dos dois países para que isto aconteça”, destacou a fonte da Inforpress.

Para o presente recenseamento eleitoral, M’Bala Fernandes deseja que sejam enviados mais kits para Cabo Verde do que em relação há quatro anos que chegou apenas um.

No seu dizer, nas últimas eleições, a nível da diáspora, a comunidade guineense em Cabo Verde deu um “sinal de participação política de reconhecido mérito”.

Para o presente recenseamento, prevê que sejam contempladas as ilhas de maior concentração de cidadãos guineenses, sem, contudo, pôr de lado a hipóteses de outras partes de Cabo Verde serem abrangidas.

Conosaba/nforpress.publ.cv/e

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