Padre Augusto Mutna, coordenador de Clero da Diocese de Bissau, alertou que a Igreja Católica (dioceses de Bissau e de Bafatá) está preocupada com sinais de intolerância religiosa, numa clara alusão a dois episódios que aconteceram na Guiné-Bissau, um em Bissorã e outro em Bissau, envolvendo uma Igreja Evangélica e os responsáveis de um local de culto tradicional (baloba) e as declarações de um dos adeptos recém-convertidos ao islão com discurso de ameaças aos habitantes de uma tabanca em Bissorã.
“A Guiné-Bissau sempre teve pessoas ou etnias que conviveram muitíssimo bem, tanto nas suas vidas sociais quanto na religião. Esses sinais de ameaças e de atear fogo preocupam-nos um pouco. Penso que a nossa conferência vai refletir um pouco sobre isso”, indicou.
Padre Mutna Tambá, que falava esta quarta-feira, 22 de maio de 2024, no lançamento da décima Conferência da União Regional dos Padres da África Occidental – URPAO – que terá lugar em Bissau, de 03 a 09 de junho do ano em curso, lembrou que na Guiné-Bissau a diversidade cultural e religiosa nunca constituiu uma ameaça para a coesão e a convivência pacífica, o que “faz de nós um povo pacífico, seguro e tolerante, apesar da instabilidade político-militar e governamental”.
Lembrou que num passado recente, nos arredores de Bissorã, houve “declarações tristes” de um dos adeptos recém-convertidos ao islão a declarar com teor de ameaças aos habitantes daquela zona de que quem decidisse abandonar o islão teria consequências graves, sobretudo seria expulso da aldeia.
“Outrosim, desencadeou-se em Bissau um triste e inédito fenómeno nunca visto com campanha de atear fogo aos lugares sagrados da Religião Tradicional Africana, o que em resposta conduziu à violação, seguida do incêndio na igreja evangélica de Mindará”, referiu e disse que perante estes tristes episódios que têm estado a evoluir negativamente com indícios de intolerância étnico religiosa e paralelamente com outros fenómenos iguais, “ deixam qualquer um preocupado”.
Em relação à décima Conferência da União Regional dos Padres da África Ocidental, enfatizou dizendo que a capacidade dos africanos de se entenderem e colaborarem remonta aos primórdios dos povos que constituem o mosaico étnico e cultural subsahariano.
“A África subsahariana é uma das regiões mais religiosas do mundo, com mais de 80% da população a afirmar que a religião é muito importante nas suas vidas. No entanto, a região também é conhecida pela sua diversidade étnica, com diferentes línguas, religiões, música, arquitetura, culinária e vestimentas”, afirmou.
“A África subsahariana tem tradições conservadas, com uma presença significativa do islamismo, catolicismo e protestantismo. No entanto, o espírito de milhões de africanos é fortemente guiado pela Religião Tradicional Africana, e muitos africanos ainda guardam influências das religiões ancestrais, como na crença do poder protetivo dos amuletos”, notou, para de seguida afirmar que a Região da África Subsahariana também é conhecida por conflitos Etnico-Religiosos, originados do preconceito e da intolerância, sobretudo por parte dos cristãos e muçulmanos.
Afirmou que apenas em 2024, 25 dos 46 países da África subsaariana estão elencados na Lista Mundial da Perseguição por perseguição extrema e severa aos cristãos. A violência contra comunidades religiosas também inclui um ataque a muçulmanos durante o funeral de um proeminente xeique local em Gondar, em abril de 2022, e o massacre de cerca de 800 pessoas na Igreja Ortodoxa Maryam Tsiyon, em Aksum.
Na Conferência de Bissau vão estar presentes o Bispo de Bissau, Dom Lampra Cá, o Bispo Emérito de Bissau, Dom José Camnaté Na Bissign e, em princípio, a presença do Dom Arlindo, Presidente da Conferência Episcopal dos Bispos de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, da Mauritânia e do Senegal, do Núncio Apostólico e Embaixador do Vaticano na Guiné-Bissau e dos presidentes da CEREAO-RECOWA e da URPAO – RUPWA.
Por: Filomeno Sambú
Conosaba/odemocratagb
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