quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Pessoas com albinismo na Guiné-Bissau reclamam proteção do Estado

O presidente da Associação de Pessoas com Albinismo na Guiné-Bissau, Jerónimo Gomes, exortou hoje o Governo a criar uma lei que as proteja, a exemplo da legislação de pessoas portadoras de deficiências.
O responsável falava na abertura de uma ação de capacitação para pessoas ou membros de associações que defendem os portadores do albinismo na Guiné-Bissau, hoje iniciada na Casa dos Direitos, em Bissau, e a decorrer até dia 27.

Tomam parte na ação, financiada pelo Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) e executada pela Rede Nacional de Luta Contra a Violência Baseada no Género e Criança na Guiné-Bissau (RENLUV-GC/GB), 35 pessoas, na sua maioria jovens.

O presidente da Associação disse desconhecer, neste momento, o número de pessoas afetadas pela doença caracterizada pela ausência total ou parcial de pigmentação da pele, dos pelos e dos olhos, mas apontou que, num recenseamento realizado em 2009, só em Bissau, existiam cerca de 120 albinos.

"É claro que este número está desatualizado e existem muitos albinos nas regiões do interior do país", notou Jerónimo Gomes, licenciado em Administração Pública pela Escola Nacional de Administração (ENA) da Guiné-Bissau.

Gomes explicou à Lusa que o facto de ter nascido numa família "de pessoas letradas", nomeadamente, a mãe professora e o pai funcionário público, fez com que tenha "escapado do preconceito desde criança".

O presidente da Associação de Pessoas com Albinismo referiu que "muitos irmãos já não têm a mesma sorte" por enfrentarem o preconceito da própria família, que os faz "sentirem-se diminuídos ao ponto de se isolarem".

Jerónimo Gomes notou que o preconceito familiar -- em que se tem vergonha de apresentar e incentivar uma pessoa com albinismo -- e a forma como a sociedade encara um albino leva à discriminação que o Estado "tem o dever de combater".

"Peço ao Governo que faça uma lei de proteção de pessoas com albinismo como temos uma lei que protege as pessoas portadoras de deficiências. Estive em Moçambique recentemente onde pude saber que o Estado tem uma lei forte de proteção às pessoas com o albinismo", enalteceu Jerónimo Gomes.

O presidente do consórcio Casa dos Direitos, o jurista Gueri Gomes, disse que a sua organização apoia as exigências dos albinos da Guiné-Bissau, que enfrentam descriminações e dificuldades e deu como "exemplo flagrante de discriminação" o caso do próprio Jerónimo Gomes.

"O presidente da associação de pessoas com albinismo na Guiné-Bissau, que é um professor, foi colocado numa zona da Guiné-Bissau com altas temperaturas. Essa situação faz com que ele não consiga permanecer durante mais de três dias naquela localidade", adiantou Gueri Gomes.

Jerónimo Gomes queixou-se igualmente de falta de materiais de proteção, nomeadamente de óculos e cremes para pele, às pessoas com albinismo, salvo, disse, alguns apoios pontuais que a sua associação recebe de uma organização dos Países-Baixos.

Gomes adiantou que a associação tem estado em conversações com o Ministério da Ação Social, Família e Promoção da Mulher, das quais espera que saia uma legislação que proteja as pessoas com albinismo na Guiné-Bissau.

Conosaba/Lusa

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