quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

QUATRO CIDADÃOS DA GUINÉ-BISSAU ENTRE OS 47 MIGRANTES DO 'SEA WATCH'

Quatro cidadãos da Guiné-Bissau estão entre os 47 migrantes resgatados que aguardam a bordo do navio “Sea Watch 3” por um porto seguro para desembarcar, avançou à Lusa uma médica portuguesa que integra a missão de resgate.

Em contacto telefónico a partir de Lisboa, a infecciologista Catarina Paulo precisa que entre estas quatro pessoas oriundas da Guiné-Bissau, que integram este novo grupo de migrantes resgatado no Mediterrâneo no passado dia 19 de janeiro, está um rapaz menor não acompanhado.

“Entre os 47 migrantes a bordo estão 15 menores não acompanhados, um deles é da Guiné-Bissau. (…) Uma das razões pela qual ele fugiu foi também a perseguição religiosa”, indica a voluntária a partir do “Sea Watch 3”, navio de uma organização não-governamental (ONG) alemã com o mesmo nome, que se encontra atualmente a três quilómetros da costa de Siracusa (Sicília, Itália), a aguardar uma autorização das autoridades italianas para atracar.

Segundo o relato de Catarina Paulo, o menor da Guiné-Bissau conta, entre outros episódios, que “pelo facto de ser católico e não muçulmano, trabalhou sem que lhe pagassem nunca”.

Os 15 menores que se encontram a bordo do “Sea Watch 3” têm entre os 14 e os 17 anos.

A par da Guiné-Bissau, os migrantes resgatados pela atual missão da ONG alemã (a 18.ª) são oriundos da Guiné-Conacri e do Senegal (a grande maioria), mas também da República Centro-Africana, Costa do Marfim e da Gâmbia.

À Lusa, a médica portuguesa conta que as vidas destas pessoas estão marcadas por “histórias de arrepiar”.

“Quase todos foram escravizados, torturados, têm marcas de queimaduras de cigarros nas costas, facadas. As histórias que cada um conta são arrepiantes”, salienta a médica, que já tinha colaborado com a Sea Watch em julho passado e que em 2017 esteve no Congo numa missão dos Médicos Sem Fronteiras.

Entre os migrantes que estão neste momento a bordo do navio “Sea Watch 3”, uma grande parte foi vítima de violência durante a sua passagem pela Líbia, país que se tornou a placa giratória para centenas de milhares de migrantes que tentam alcançar a Europa através do Mediterrâneo.

“Muitos deles, a maior parte são raptados, são colocados em prisões. Nas prisões são torturados e enquanto são torturados ligam para as famílias. Pedem dinheiro. Se as famílias não têm dinheiro, eles ficam na prisão até as famílias arranjarem dinheiro. Claro que enquanto estão na prisão são torturados, fazem trabalhos forçados, não têm comida, nem bebida durante uma semana”, afirma a voluntária.

E acrescenta: “Há relatos de pessoas que morrem dentro das prisões. Não removem os corpos e são eles próprios (os migrantes) que os têm de levar para impedir que comece a cheirar, os cadáveres. É terrível”.

Cerca de 5.757 migrantes e refugiados chegaram à Europa por via marítima nos primeiros 27 dias deste ano, um pequeno aumento face às 5.502 chegadas registadas no mesmo período de 2018, divulgou hoje a Organização Internacional das Migrações (OIM).

As mortes registadas nas três principais rotas do mar Mediterrâneo - Mediterrâneo Oriental (da Turquia para a Grécia), Mediterrâneo Central (da Líbia para Itália) e Mediterrâneo Ocidental (de Marrocos para Espanha) – foram 207 nestas primeiras quatro semanas do ano, de acordo com os mesmos dados.

No ano passado, no mesmo período, foram contabilizadas 242 mortes.

Conosaba-Lusa

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