O que vos vou contar pode até ser confundido com ficção literária, mas é na verdade, um relato que esta minha cabecinha registou e redigiu, sem recorrer a caricaturas, pois que o episódio por si só, retrata fielmente a nossa pura realidade. Por isso, entendam isto como um facto real. É uma realidade vivida durante os sete dias em que o meu menino esteve internado na pediatria do nosso famoso Hospital Nacional Simão Mendes.
Chegamos numa madrugada ao hospital, eu, a mãe e o nosso menino. O médico ordenou a realização de exames, que acabaram por acusar leucócitos elevados, malária negativa.
E o tratamento? Internamento! A enfermeira fidi, i fidi o meu menino sem paciência até que encontrasse uma veia capaz, o meu corpo fervia, queria tirar o meu menino das suas mãos mas a paciência conteve-me. O tratamento era simplesmente SRO… Com que propósito? O propósito? Sim, o propósito era eliminar a malária. Mas qual malária? Ele não tinha malária!
Continuei a ter fé no nosso Senhor, chorei, rezei, rezei e chorei. Não conseguia dormir e no dia seguinte tinha que conduzir até Bambadinca, Bafatá e Gabu, em missão de serviço, obrigatoriedades da vida profissional.
Quatro dias se passaram, os meus olhos continuavam vermelhos de tanto chorar e a minha fé nos tratamentos médicos começou a esmorecer. A minha fé no Senhor continuava firme, o Pai é todo-poderoso, ele melhor do que ninguém, sabe o que é bom e faz tudo à sua medida. Se tiver de morrer, que morra. Talvez assim, o meu sofrimento diminuísse e encontrasse amparo. Chorávamos e enterrávamos o nosso menino. Paciência. Era o destino. Mas felizmente não foi o caso!
O meu menino continuava ali deitado, o tratamento não surtia nenhum efeito, a não ser a dor que eu sentia, ao vê-lo levar nervosas picadas daquelas enfermeiras baratas. Impacientes que estávamos, eu e a mãe, não conseguíamos fazer nada, não tínhamos cabeça para nada, estávamos num estado de depressão imenso, tudo por amor ao nosso menino, a nossa joia, o nosso futuro. Parecia que a nossa vida estava ali, presa naquela cama.
Numa noite calma, beijei o meu filho na testa e ele retorquiu dizendo-me numa voz angustiada "pai, leva-me para casa, quero ir para casa, quero ir brincar com o meu irmão". Levantei-me, abracei a sua mãe, e enquanto procurava esconder as lágrimas que teimavam fugir pela minha face, disse-lhe:
- Vamos sair deste sítio, Deus é pai... Não é padrasto.
Eu já não aguentava ver as baratas a meterem o nariz em todos os pratos e medicamentos e a subir em tudo o que se encontrava naquela pediatria e pior ainda, a assumir o posto das enfermeiras. As auxiliares de limpeza, mal-educadas, a ralhar com tudo e com todos, como se as pessoas estivessem lá por belo prazer.
No dia seguinte, explicamos à diretora do serviço de pediatria, que já estávamos cansados e fartos de ficar no hospital sem saber ao certo o que se estava a passar com o nosso menino e ela, muito educadamente, acalmou-nos e prometeu agir com urgência.
E de facto, assim o fez. Contactou uma médica cubana que rapidamente examinou o nosso filho e mudou a rota do tratamento. Nesse mesmo dia à tarde, o nosso menino levantou-se da cama e começou a brincar alegremente. No dia seguinte recebemos alta hospitalar, o sorriso voltou ao nosso lar e continuamos a nossa rotina de sempre.
E agora, as outras crianças que ficaram lá deitadas, que os seus pais não conseguiam protestar, o quê delas?
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