A ideia dum Governo de gestão em Moçambique e um pedido de ajuda internacional para populações carenciadas de algumas regiões do país foram algumas das decisões da comissão política da RENAMO que se reuniu na Gorongosa.
Repisar a proposta de um Governo de gestão, incluindo vários partidos da oposição moçambicana, e a procura de ajuda internacional para as populações carenciadas das regiões que foram palco do último conflito, foram algumas das decisões da comissão política da RENAMO que terminou na Gorongosa esta segunda-feira (22.12).
O encontro de dois dias (21 e 22.12) reuniu mais de 150 pessoas, entre membros do comissão política, chefes de departamentos, delegados provinciais, representantes da Liga da Mulher e da Associação dos Combatentes da Luta pela Democracia. Em debate esteve a situação económica, social e política do país.
O porta-voz do partido António Muchanga revela algumas das conclusões e decisões saídas do encontro:
"Constatamos que nas zonas onde o conflito terminou existe uma grande fome e a Comissão Política da RENAMO apelou ao partido para solicitar às organizações não governamentais uma ajuda para essas zonas. O apelo deve ser lançado sobretudo ao Comité Internacional da Cruz Vermelha. Por outro lado, discutiu-se o futuro de Moçambique depois da fraude eleitoral e concluiu-se que a RENAMO tem que continuar a negociar visando a formação de um Governo de gestão como solução política para que o país permaneça estável e para que Moçambique tenha homens comprometidos com a situação política nacional".
António Muchanga anunciou, por outro lado, que o presidente da RENAMO vai encontrar uma forma de se comunicar com o Governo para que o próximo executivo "seja constituído por elementos da FRELIMO, da RENAMO e de outros partidos para que juntos possam efetuar uma reforma administrativa para a credibilização das instituições eleitorais e de uma polícia verdadeiramente ao serviço do Estado moçambicano", destacou.
Equipa da TVM acusada de espionagem
Ainda durante a reunião da Comissão Política da RENAMO um jornalista e um operador de camara da TVM, a televisão pública do país, em plena cobertura do evento, foram expulsos da sala pelo líder do partido. Afonso Dhlakama acusou-os de espionagem e de não publicarem, posteriormente, as reportagens feitas no local.
Em entrevista à DW África, Muchanga recordou que quando Dhlkama esteve no Niassa, falou com o Presidente do Conselho de Administração (PCA) da TVM sobre o comportamento dos jornalistas e a resposta foi que "o PCA disse que não sabia o que estava a acontecer e que ía tomar medidas".
E Muchanga cita como exemplo a cobertura pela TVM das reuniões do presidente da RENAMO em Pemba e Lichinga, "reportagens que nunca foram difundidas embora o jornalista tenha-nos dito que o material foi enviado para Maputo e não foi publicado. Entretanto, as imagens recolhidas pela TVM aparecem nos organismos do SISE (Serviço de Informação e Segurança do Estado) e das polícias que nos perseguem. Portanto eles deixaram de fazer o trabalho de jornalismo para realizarem espionagem".
Comissão de Resposta reage à expulsão da equipa da TVM
O ato mereceu a condenação da Comissão de Resposta, organismo que tem como objetivo zelar pela defesa e segurança dos jornalistas em Moçambique.
Jeremias Langa que é jornalista e presidente do órgão disse à DW África que “não se justifica uma atitude destas, principalmente quando se trata de jornalistas. Até porque esses mesmos jornalistas da TVM já cobriram no passado vários eventos da RENAMO, inclusivamente quando Afonso Dhlakama estava em Satunjira. Portanto nada indicia que tenham levado informações para quem quer que seja. Para nós é muito estranho esta atitude tomada pela RENAMO e pelo seu próprio líder".
Os órgãos públicos são considerados parciais e pró-Governo da FRELIMO, o partido no poder. Em épocas eleitorais as críticas têm aumentado em relação nomeadamente aos media estatais.
"A TVM vive dos impostos pagos pelos moçambicanos"
O líder da RENAMO, depois da expulsão, recordou que a TVM sobrevive dos impostos dos cidadãos e que não pertence a FRELIMO, nem ao Presidente do país, Armando Guebuza.
A Comissão de Resposta analisou nesta segunda-feira (22.12) a atitude de Dhlakama e considerou-a, mesmo, um retrocesso em termos de democracia:
"Consideramo-la uma atitude inadmissível e que viola a própria Constituição do país, o direito à liberdade, de comunicação, da imprensa e dos próprios jornalistas no acesso à informação, porque lhes foi vedado esse acesso à sala onde estava a decorrer o evento. Não foram apresentadas provas plausíveis que fundamentam esta atitude. Reiteramos a nossa posição de que é uma atitude inadmissível sobretudo nesta fase em que se encontra a nossa democracia. Não se pode chegar a esses extremos".
Uma reação pública bem como a condenação da expulsão da equipa da TVM será dada a conhecer brevemente, garantiu à DW África Jeremias Langa da Comissão de Resposta.
"Em termos formais vamos emitir o nosso posicionamento por escrito nas próximas horas que será enviado a todas as instituições interessadas em matérias do género, a começar pela própria RENAMO, nomeadamente ao seu secretário-geral e Presidente e também a outras instituições que têm obrigação de zelar pela independência dos meios de comunicação social, falo concretamente do Conselho Superior da Comunicação Social de Moçambique", concluiu Jeremias Langa.
Sem comentários:
Enviar um comentário