O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, disse hoje em entrevista à agência Lusa que vai sair do Governo para contribuir melhor para a construção do Estado, mas evitou avançar uma data precisa para a sua demissão.
"Eu não diria que saio por estar cansado. Se formos a ver, a fazer uma análise, saio porque é um dever sair. Às vezes penso que se não fizer nada ficarei doente, mas nesta conjuntura atual de construção do Estado é a altura de sair para contribuir", afirmou Xanana Gusmão.
Questionado pela Lusa sobre quando vai sair exatamente, Xanana Gusmão afirmou que "vai acontecer", mas que agora está ocupado com a presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
"Pode dar crise. Mas naturalmente vai acontecer", salientou às gargalhadas.
Sobre o futuro, depois da saída sem data, Xanana Gusmão pretende acima de tudo, com os outros fundadores do país, aconselhar e contribuir como dita a cultura tradicional timorense.
"Na nossa cultura tradicional há o régulo, o reizinho, que tem os seus condes, marqueses, mas há sempre um ancião que sabe de toda a história, de tudo o que acontece, oralmente ele conhece tudo e quando é para tomar decisões os régulos não tomam sozinhos, eles chamam o ancião e ele está sempre ali ao lado e pergunta como é que é", explicou.
"Nós acumulamos sucessos e insucessos e isso é a nossa mais valia e queremos dar oportunidades às novas gerações para ganharem confiança em si, nas suas decisões, e se tiverem que nos perguntar nós estamos prontos e 'pro bono', ainda por cima", afirmou.
Mas, segundo o primeiro-ministro timorense, se as coisas estiverem a correr menos bem também se vão fazer "alertas".
"No mínimo termos uma capacidade de intervir chamando a atenção. Eu estou confiante porque nestes seis anos centramos os nossos esforços, quando falamos de capacitação de instituições, foquei-me nas finanças públicas que são os pulmões e coração de qualquer Estado e embora haja muitas críticas o pessoal está a responder magnificamente", salientou.
Para o primeiro-ministro timorense, o essencial para o Estado se consolidar já foi feito, agora, à geração mais velha cabe promover e provocar a reflexão e o debate.
"Só temos mudanças onde a nossa contribuição será melhor e mais efetiva se tivermos de fora. Deixamos de dizer o que podemos fazer para passar a dizer como podemos contribuir", sublinhou.
Desde final de 2012, que Xanana Gusmão tem reafirmado a sua intenção de abandonar o cargo de primeiro-ministro.
Em janeiro, num discurso proferido no parlamento por ocasião do início do debate do Orçamento Geral do Estado para este ano, o primeiro-ministro afirmou que aquela era a última vez que se dirigia ao hemiciclo como chefe do governo para apresentar um Orçamento de Estado.
Xanana Gusmão, de 68 anos, foi um dos líderes da luta contra a ocupação indonésia de Timor-Leste, entre 1975 e 1999, que culminou com a realização de um referendo a 30 de agosto de 1999, que determinou a independência do território.
A 20 de maio de 2002, dia da restauração da independência do país, tomou posse como Presidente do país. Em 2007, tomou posse como primeiro-ministro e em 2012 foi reconduzido no cargo.
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