Os pesquisadores tentam perceber se o continente africano se pode romper daqui a milhões de anos. O estudo tem um aspeto prático: avaliar o potencial das reservas de gás natural ao largo da Tanzânia e Moçambique.
"Sonne, ou "sol" em alemão, é o nome de um barco de pesquisa germânico que se encontra no Oceano Índico para uma expedição científica de seis semanas. Levada a cabo pela Agência federal das Ciências da Terra e Matérias-Primas (BGR), a investigação visa entender melhor o rompimento do supercontinente Gondwana (que integrava as atuais África, Índia, América do Sul, Austrália, Antártida) há 165 milhões de anos.
A bordo do barco seguem 17 investigadores e técnicos da BGR e do Instituto Alfred Wegener em Bremerhaven. O projeto "SO-231", financiado pelo Ministério alemão da Formação e Pesquisa, pretende, em primeira linha, investigar a possibilidade de um segundo rompimento do continente africano.
"Indícios apontam para o prolongamento do sistema de falhas geológicas da África Oriental para a bacia moçambicana, na fronteira com a Tanzânia", explica o pesquisador da BGR, Christoph Gaedicke. "A confirmar-se poderíamos observar o início de mais uma divisão do continente. Tal como o Madagáscar se separou do continente africano há muitos milhões de anos, podemos observar um processo parecido de separação do Corno de África, o que para nós é muito interessante."
Potencial das reservas naturais
Sendo este um processo que deverá estar concluído apenas dentro de quatro ou cinco milhões de anos, a importância mais imediata e prática deste projeto de pesquisa prende-se com a relevância que o conhecimento dos desenvolvimentos geológicos do planeta têm para estimativas das reservas de matérias-primas subaquáticas.
Os movimentos da ilha de Madagáscar desde que se separou da África Oriental contribuíram para a acumulação de sedimentos, diz Christoph Gaedicke, e as "bacias de sedimentos são, potencialmente, também estruturas onde se formam petróleo ou gás natural, e os jazigos correspondentes."
São informações importantes para as autoridades dos países como Moçambique, que não têm meios próprios para calcular os potenciais gerais, estando sempre dependentes dos estudos levados a cabo pelas empresas às quais adjudicaram as licenças de exploração. Os interesses alemães, diz o cientista, são diferentes.
"Nós e o Governo alemão temos um interesse em observar o potencial geopolítico, mas também em apoiar os estados pobres que, de repente, têm a possibilidade de se transformar em nações exportadoras, a explorar as riquezas, por exemplo." Segundo Christoph Gaedicke, o apoio poderá traduzir-se na transferência de conhecimentos na exploração de hidrocarbonetos ou em assistência na elaboração de adjudicações e licenças, "de modo a que o desenvolvimento se faça de forma sustentável e em benefício da população".
As dificuldades que Moçambique tem em gerir os recursos foram sentidas pela própria expedição, que, apesar da preparação de muitos anos que a antecedeu, não conseguiu ainda obter de Maputo uma licença para a investigação já em curso. Mas Christian Gaedicke acredita que o assunto terá resolução rápida ainda antes do termo das seis semanas previstas. Tanto mais que a sua agência já coopera com as autoridades moçambicanas.
"Todos os resultados da nossa pesquisa serão apresentados aos Governos de Moçambique e da Tanzânia, e debatidos com as autoridades", refere. "E os dados que recolhemos serão igualmente postos à disposição e poderão ser usados por estes países para as suas próprias investigações".
Segundo dados avançados pelo conjunto de empresas ativas no país, as reservas de gás natural de Moçambique ascendem a três biliões de metros cúbicos. Para as explorar devidamente está planeada uma planta de liquefação de gás natural, para além de condutas, mas a Agência alemã das Ciências da Terra e Matérias-Primas estima que a produção e exportação não deverá ter início antes do final da presente década.
DW.DE
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