Associação para a Transparência e Integridade lamenta decisão de MNE lusófonos em acolher "regime ditatorial atroz". Maior "beneficiário da adesão" é Eduardo dos Santos
O vice-presidente da associação portuguesa Transparência e Integridade considera que o investimento da Guiné Equatorial no bancoBanif constituiu "a joia de entrada" do país na CPLP e lamentou a recomendação da adesão do país à comunidade lusófona.
"Dá-me ideia que a entrada da Guiné Equatorial no capital do Banif é capaz de constituir a joia de entrada na CPLP", disse Paulo Morais, lamentando a decisão dos ministros dos Negócios Estrangeiros da comunidade lusófona anunciada na quinta-feira. A cimeira extraordinária da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, em Maputo, recomendou a adesão da Guiné Equatorial à organização. Em reação a essa decisão, Paulo Morais considera "lamentável que uma organização como a CPLP, "que nasceu sem meios, genuinamente juntando um antigo colonizador com países que foram ganhando a sua liberdade", venha a acolher "um regime ditatorial onde o desrespeito pelos direitos humanos é permanente e onde se cometem atrocidades". "Dá ideia que não é a Guiné Equatorial que adere à CPLP, é mais a CPLP que adere aos métodos da Guiné Equatorial e isso é lamentável", disse.
Para o responsável da associação anticorrupção, "não há qualquer razão decente" para a adesão da Guine Equatorial à CPLP. "Não há razões culturais, não há razões linguísticas, não há relações económicas, e muito menos ao nível daquelas que devem ser as primeiras razões da existência deste tipo de organizações, que é a defesa do desenvolvimento, a qualidade de vida das populações, os direitos humanos", afirmou. O único motivo para esta adesão, argumentou, é "fazer da CPLP um centro de negócios para o presidente angolano José Eduardo dos Santos". "Os únicos beneficiários desta adesão serão seguramente os grandes negociantes de petróleo. Passa a haver aqui uma grande ligação entre a Guiné Equatorial e Angola ao nível do mercado energético e isso está longe de ser positivo. É negativo", sublinha.
Para Paulo Morais, os restantes países da CPLP aprovam a adesão, "uns porque têm interesses de negócios com Angola, como é o caso do Brasil, outros não se chega a perceber nem porquê". Em relação a Portugal, o país que durante mais tempo se opôs à adesão da Guiné Equatorial, Paulo Morais diz estar "numa situação algo estranha", com a entrada da Guiné Equatorial no capital do Banif, um banco presidido por um ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do Partido Socialista - Luís Amado, com o aval do governo PSD-CDS/PP. "Os partidos do arco do poder em Portugal acabaram por, mais uma vez, ir fazer a vontade ao presidente angolano, José Eduardo dos Santos", lamenta.
O Banif revelou no início do mês que estabeleceu um memorando de entendimento com a República da Guiné Equatorial visando a colaboração entre as partes no setor bancário, que poderá levar à entrada de uma empresa daquele país africano no capital do banco num montante de cerca de 133.5 milhões de euros.
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