Nos últimos tempos, o endividamento das famílias guineenses subiu em
flecha. Vários factores conjunturais explicam esse aumento acentuado.
O aumento do funding dos bancos comerciais (ORABANK, BAO, ECOBANK, BDU, BANCO
ATALNTIQUE) aliado a outros factores como o aumento da concorrência entre os
bancos, a descida das taxas de juro (de 12% para 9%) praticadas nas operações
de crédito, a bancarização do salário dos funcionários públicos, a forte
competição entre a oferta, as inovações financeiras e o afrouxamento de algumas
restrições permitiu que um número maior de famílias tivesse acesso a crédito.
O surgimento de novos bancos (ORABANK, ex BRS e o Banco Atlantique) e o fim
do monopólio do BAO levou a uma enorme concorrência. Afim de ganhar vantagens
no mercado, a banca facilitou o processo de obtenção de crédito não avaliando,
talvez, na sua plenitude, o risco dos clientes. Toda esta situação levou a que
as famílias consumissem mais do que o seu rendimento disponível,
sobreendividando-se.
Num contexto de emprego e níveis de confiança elevados, as famílias
guineenses anteciparam um aumento do seu rendimento e endividaram-se sobretudo
para consumo. Algumas passaram a consumir mais do que o seu rendimento disponível,
levantando a questão do sobreendividamento, ou seja, da sustentabilidade ou não
do serviço da divida a prazo.
E o crédito às famílias na Guiné-Bissau cresceu em média 22 por cento tendo
como principal impulsionador o segmento do crédito ao consumo. Para evitar situações de incumprimento,
tornou-se essencial uma melhor avaliação do risco de crédito por parte das
instituições bancárias tendo, nesse sentido, o Banco Central dos Estados da
África Ocidental (BCEAO), entidade que regule o sector bancário no espaço UEMOA,
aumentado o requisito mínimo de provisões para crédito ao consumo, que
entretanto cresceu a ritmo acelerado.
O elevado endividamento das famílias e a reduzida confiança fizeram rever
em baixa as expectativas das empresas quanto à evolução futura da procura
constituindo um desincentivo ao investimento.
Uma solução para ajudar a resolver o problema do excessivo endividamento
das famílias guineenses poderá ser a melhoria salarial sustentada não obstante
a fraca produtividade que se verifica no país em diferentes sectores, sobretudo
na função pública.
Os bancos estão a jogar um papel relevante neste aspecto. Como não temos
ainda um mercado financeiro pujante, ficam os bancos como os únicos meios onde
se pode ir buscar dinheiro.
Mas as relações entre as famílias e as instituições bancárias têm de se
basear num permanente aconselhamento. Em minha opinião, enquanto bancário, as
instituições bancárias devem antes de mais ter mecanismos para sugerir o que é melhor
para as famílias, mais do que proporcionarem crédito, os bancos devem sugerir às
famílias as opções de que dispõem.
Espero apenas que haja um mecanismo para travar o elevado endividamento das
famílias.
Se os bancos precisam de dinheiro e o vão buscar às famílias e às empresas,
é necessário que haja prudência e razoabilidade.
O elevado consumismo das famílias guineenses pode leva-las a endividarem-se
desenfreadamente. Penso que o aconselhamento deve funcionar completamente para
permitir que as famílias reflictam antes de se endividarem.
‘’A dívida movimenta a economia. Permite que as pessoas façam grandes
investimentos mediante o compromisso de obter receitas futuras.’’
Numa economia com pouca folga orçamental como a nossa e onde o endividamento
das famílias é elevado, para evitar uma recessão mais profunda e prolongada o
governo deve criar um programa abrangente para reestruturar a dívida das famílias.
Os actuais níveis de endividamento das famílias poderá provocar sérios
problemas sociais, tendo em conta as carências e limitações financeiras com que
a maioria se debate.
Será que sabemos verdadeiramente como poupar?
Será que recolhemos informações sobre o financiamento que necessitamos
junto de várias instituições financeiras e sabemos escolher o crédito mais
vantajoso?
Será que nos preocupamos em saber todas as implicações legais futuras dos
contratos de crédito que assinamos?
Será que pedimos esclarecimentos ao nosso banco em relação às questões que não
compreendemos?
Pois bem, se respondemos negativamente à maior parte destas questões, importa
agir o mais rapidamente possível. Sejamos prudentes com a banca.
Para concluir, gostaria de deixar algumas recomendações:
ü Um amplo
programa de alfabetização financeira seria o ideal
ü Os consumidores
devem recorrer a produtos financeiros que não coloquem em risco o seu orçamento
familiar e fazerem adesões ao crédito com responsabilidade
ü Os consumidores
não devem aceder os produtos acima do seu rendimento familiar e devem sempre
analisar os riscos.
Apenas
uma Contribuição, enquanto bancário!
Mestre : Aliu Soares Cassamá
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