Líderes dos partidos que integram as coligações API e PAI Terra Ranka em Paris, na tarde desta sexta-feira 25 de Abril de 2025. © Facebook
Estão reunidos desde esta sexta-feira em Paris as duas principais coligações de oposição da Guiné-Bissau PAI Terra Ranka, liderada por Domingos Simões Pereira e API coordenada por Nuno Nabiam, para estabelecer uma estratégia comum, depois de concordarem em juntar os seus esforços com vista a vencer as próximas eleições gerais no final do ano. Na sequência deste primeiro encontro, os responsáveis políticos dizem que vão continuar a discutir de forma mais pormenorizada, mas desde já, insistem sobre o imperativo da união.
Este é nomeadamente o lema de Fernando Dias, líder da ala do PRS que se opõe ao actual poder e que integra a coligação API. Á saída do encontro desta sexta-feira, ele considera que "é preciso que os partidos políticos deixem de lado os interesses particulares dos partidos em detrimento do interesse nacional" e para que isso aconteça "é preciso unir as forças para ver como é que é possível mobilizar a opinião pública, com vista a poder ganhar as eleições que avizinham".
Entre os pontos abordados na reunião desta sexta-feira em Paris, Fernando Dias destaca "o Supremo Tribunal de Justiça, que ainda até agora não tem presidente. Temos um problema de CNE. Temos problemas de interferências por parte de órgãos de soberania. Temos problemas de interferência do próprio Presidente nos partidos políticos, tentando orientar quem ele quer para assumir as lideranças dos partidos políticos".
"Relativamente ao acordo de entendimento, achamos por bem que neste memorando de entendimento, que em princípio será denominado 'Manifesto de Paris', vai se tentar buscar uma solução global sobre futuras vitórias eleitorais. Nós não podemos continuar a andar divididos, uma vez que é possível termos um governo comum. Não importa. Se é o API que ganhou as eleições pode coligar-se com o PAI-Terra Ranka. Assim como também se o PAI-Terra Ranka ganhar, podemos fazer uma coligação governamental," afirma Fernando Dias.
Questionado sobre a presença neste encontro de Braima Camará, coordenador de uma das alas do MADEM-G15 que, no passado, impulsionou a chegada ao poder do Presidente guineense, antes de surgirem fricções, Fernando Dias refere que este responsável político não teve possibilidade de participar no encontro de Paris mas que "está em constante ligação" com o grupo."Ele está sempre junto e está a acompanhar", acrescenta o militante.
Sobre a decisão de organizar a reunião em Paris, Fernando Dias destaca a importância da França que considera um "país irmão". "Não queremos que a relação entre o Presidente da França e o Presidente da Guiné-Bissau substitua a relação entre a República Francesa e a República da Guiné-Bissau. São relações de longos anos e que devem prevalecer. Não devem ser substituídas pelas relações pessoais entre dois Presidentes ou dois amigos", sublinha o político.
No mesmo sentido, o antigo Primeiro-Ministro Baciro Djá que lidera a FREPASNA, partido que integra a coligação API, recorda que "a Guiné-Bissau está inserida entre duas fronteiras francófonas e é importante advertir as autoridades francesas de que a instabilidade na Guiné atinge a estabilidade na Guiné-Conacri e no Senegal. A outra razão é que nós entendemos que é importante estar em Paris, porque Paris é onde se criou toda a teoria da separação do poder. E é preciso, de facto, chamar a atenção aqui em Paris, de que não há separação de poder. Não há respeito por um Estado de Direito democrático. (...) Portanto, é importante relembrar em Paris esta doutrina e estes princípios que nortearam o Estado de Direito democrático."
"Saímos satisfeitos de Paris porque, de facto, há um engajamento, há um compromisso e é na base desse compromisso que nós vínhamos trabalhando entre as duas coligações principais do país. Já vínhamos desenvolvendo actividades conjuntas, estratégias conjuntas e eu penso que é mais uma luta e mais uma perspectiva que se avizinha", considera Baciro Djá relativamente aos primeiros consensos alcançados.
Questionado sobre as últimas declarações do Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Biague Na Ntan, que avisou nesta quinta-feira que qualquer pessoa que seja apanhada com uma arma na mão nas ruas e a perturbar ou mobilizar militares para eventuais golpes de Estado, "seria eliminada", Baciro Djá limita-se a dizer que "cada qual é livre de fazer a sua declaração, mas nós, enquanto dirigentes do país", e que "devemos ser responsáveis das nossas declarações".
Já Fernando Dias considera que o Chefe de Estado-Maior tem uma postura que se assemelha à de um líder de uma formação política."Nenhum partido político, nenhum cidadão que está a fazer política activa concorda com um golpe de Estado porque um golpe de Estado é um crime de subversão da ordem constitucional. De maneira que nenhum militante de qualquer que seja o partido vai estar de acordo com o uso ilegal de arma. Mas a postura que o Chefe de Estado-Maior da Guiné-Bissau está a levar a cabo, não é uma postura de um Chefe de Estado-Maior, mas sim a postura do líder de uma formação política. A única coisa que nós temos a dizer ao Chefe de Estado-Maior é que ele se mantenha dentro dos quartéis e controle as Forças Armadas", remata o responsável político.
Por: Liliana Henriques
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