domingo, 27 de abril de 2025

«Djambacatam» Consumo de drogas nas escolas: CONAEGUIB E OBSERVATÓRIO DE DROGAS APREENSIVOS COM A VENDA E CONSUMO DE “DROGA – SECU TIDJANI”


A Confederação Nacional das Associações Juvenis da Guiné-Bissau (CONAEGUIB) e o Observatório Guineense da Droga e da Toxicodependência (OGDT), mostram-se apreensivos com a venda e consumo de drogas, particularmente a famora MD (Secu Tidjani) nas escolas do país, que no entender destes ativistas, revelam o quão o sistema do ensino é frágil, que não consegue sequer produzir programas educativos de sensibilização.

Em entrevista ao jornal O Democrata para reagir sobre os acontecimentos da Escola Che Guevara, Rosália Djedju associou a fragilidade do sistema às sucessivas greves nas escolas públicas que acabaram por dar espaço a vários fatores negativos, tanto nas escolas quanto na própria sociedade. Contudo, disse que é uma responsabilidade partilhada e os pais surgem como os principais responsáveis nessa história.

“A proliferação das greves deu campo às crianças para fazerem da escola um espaço de lazer, quer na escola como noutros lugares. Por exemplo, em casa quando há greve quem pode travá-las? Quando quebra do ritmo que as aulas deveriam ter, os alunos refugiam em outras atividades”, afirmou, para de seguida esclarecer que tudo isso está a ganhar proporções, por não ter havido mecanismo rigoroso de acompanhamento e controlo nas escolas, o que acaba por facilitar a entrada de muitas coisas nos recintos escolares.

Questionado se a organização teria acompanhado uma situação em Bissau ou no interior do país, assegurou que esse foi o primeiro caso que a CONAEGUIB registou e que diligências estão a ser feitas para recolher informações e depois tomar uma posição, porque “apanhou-nos num momento em que a maior parte das escolas já estavam em férias de páscoa e os membros da CONAEGUIB também”.

Uma das vítimas do caso de consumo de MD da Escola Che Guevara em Bissau confirmou ao jornal O Democrata ter participado na compra do remédio MD que os deixou inconscientes por horas, mas nega que tenha consumido o líquido.

Numa conversa em Off confirmou que é residente de Pefine, menor de 14 anos de idade, e que apenas participou na compra de um remédio no valor de mil francos CFA´s.

Disse ao OD que eram mais de 12 alunos, todos menores de 20 anos de idade, e que teriam sido influenciados por uma das meninas do grupo.

“Ela é que conhece o vendedor e convidou-nos para ir lá. Éramos mais de 12, éramos muitos. Não sei precisar o número agora, mas 12 não”, disse.

ASSOCIAÇÃO DOS PAIS REVELA QUE O CASO DE CHE GUEVARA NÃO É ÚNICO CASO

O presidente da Associação Nacional dos Pais e Encarregados de Educação, Lassana Bangura, revelou que o fenómeno de consumo de drogas nas escolas do país vem de há muito tempo e que o caso de Che Guevara, que veio agora ao público não é o único caso envolvendo menores com drogas nas escolas.

Segundo Lassana Bangura, se se tratasse do primeiro caso, seria a primeira denúncia pública da Associação dos Pais e Encarregados de Educação, lembrando que, em 2024, “houve um caso flagrante”, numa das escolas do bairro de Quelelé, arredores do Centro de Reabilitação Motora, em que crianças foram flagradas a consumir substâncias ilícitas.

“Na altura, a Associação não queria criar um ambiente de alarmismo na sociedade. Ponderou, esperando que se tratasse de uma simples aventura, ainda assim fez umas chamadas de atenção em vários momentos. Não estamos a falar apenas desta escola nos arredores do Centro, é uma prática que vem enraizando aos poucos nas escolas públicas, sobretudo. As crianças fumam liamba e cigarros nas escolas, levam bebidas alcoólicas”, afirmou, assegurando que a organização vai continuar a trabalhar para combater aos poucos essa prática, antes que se prolifere e ganhe proporções alarmantes greves, mas para isso pediu o maior envolvimento dos pais e diretores das escolas nessa luta, para criar um ambiente são em ambientes escolares ao nível nacional.

O presidente da Associação Nacional dos Pais e Encarregados de Educação disse que existem vários casos e um deles ocorreu numa escola de Bissau em que uma criança foi apanhada com bebida na mochila que trouxe de casa, remessa de uma festa que tinha acontecido lá.

“Onde estamos? Os pais têm que assumir as suas responsabilidades. Os diretores têm que trabalhar e implementar medidas rigorosas de controlo nas escolas para estancar essa prática nociva à sociedade”, desafiou.

Relativamente aos acontecimentos da Escola Che Guevara, Lassana Bangura disse que quando chegou à escola foi informado que era um grupo 12 crianças, com 18 anos de idade para baixo, que se encontravam inconscientes, por alegadamente terem consumido uma substância ilícita (MD), depois do último dia dos exames para o intervalo da páscoa , que decorre depois da festa da Páscoa por um período de quinze dias.

“O grupo comprou MD e introduziu-a numa garrafa plástica de um litro e meio e ingeriram. Mais tarde, quando os elementos da direção se aperceberam que algo estava mal no comportamento de alguns deles tomou diligências e foi que descobriu um deles num estado desorganizado e inútil. Quando foi levado à direção para ser reanimado, apareceu a polícia da Quinta Esquadra que os levou para identificarem o vendedor”, informou.

De acordo com Lassana Bangura, o suposto vendedor terá sido detido pela polícia e disse que a organização que lidera está a fazer o seu trabalho para acompanhar o processo e, desde logo, alertou as autoridades policiais para tratarem do caso com rigor, pois se se confirmar que a pessoa que for identificada é o verdadeiro vendedor do produto, que lhe seja instaurado um processo judicial competente, de acordo com a lei.

“Queremos estar envolvidos para perceber as motivações, ao ponto de vender MD às crianças dessa idade. Se se provar que é um criminoso, queremos uma mão dura sobre ele para desencorajar eventuais casos, tanto nas escolas como em qualquer lugar”, disse.

REDE DEFENSORA DAS CRIANÇAS RURAIS DIZ QUE É URGENTE CRIAR UMA CASA DE ATENDIMENTO NAS ESCOLAS

O presidente Nacional da Rede Jovens Defensores e Promotores dos Direitos das Crianças nas Zonas Rurais (RJDPDCZR), Iasser Quintino Biamo, disse que o consumo de substâncias ilícitas em ambientes escolares revela “sinais preocupantes” que apontam queo futuro do país e de jovens está comprometido.

“Se é preocupante, significa que vamos ter um país comprometido, jovens e homens comprometidos no futuro. Condenamos essa prática”, afirmou o responsável da Rede.

Iasser Quintino Biamo, que falava em entrevista ao jornal O Democrata em reação à notícia que dá conta que um grupo de alunos da Escola Che Guevara, em Bissau, foram encontrados inconscientes depois dos exames, por supostamente terem consumido substâncias ilícitas, disse que o Estado deve criar mecanismos para estancar essa prática e controlar as pessoas.

Lembrou que a escola é um lugar de excelência para aprender boas coisas e criar um futuro melhor para o país e para as pessoas onde são formados e mulheres, mas se se transformar num lugar de consumo de drogas, o país estará a apunhalar-se pelas costas e o futuro de muitas crianças que talvez nunca tenham pensado enveredarem-se por essa via comprometedora.

Como uma das alternativas, o presidente nacional da RJDPDCZR defendeu a colocação de seguranças para controlar e o recrutamento de médicos para examinar os alunos que possam estar envolvidos em eventuais casos de uso ou consumo de substâncias ilícitas, nomeadamente MD.

“As crianças são curiosas. Podem consumí-las em casa para contaminar outros colegas da escola, com atitudes desviantes que podem criar outras situações em ambientes escolares. Essas duas entidades poderão assegurar, no mínimo, um ambiente aceitável e menos tenebroso e, a partir daí, se um aluno for encontrado nessa situação, a escola poderá tomar medidas necessárias para prejudicar os outros”, aconselhou

Iasser Quintino Biamo defendeu que é urgente o governo pensar no recrutamento de psicólogos e a criação de uma casa de atendimento para o aconselhamento de alunos nas escolas, porque “muitas vezes alguns pensam que o que estão a fazer é algo maior e melhor do mundo, mas na realidade estão perdidos”.

“Outros talvez não, mas por estarem mal nos exames, refugiam-se em drogas por desespero. O consumo de drogas está a crescer a cada dia. Não estamos a falar apenas de MD existem tantas outras substâncias, pelo que o combate deste fenómeno deve ser uma luta comum e uma responsabilidade partilhada por todos, pais, professores, direções das escolas, Estado e a sociedade em geral”, afirmou Iasser Quintino Biamo, sublinhando a necessidade de colocar assistentes sociais nos estabelecimentos escolares.

Para Iasser Quintino Biamo, os pais têm a responsabilidade número um, por a família ser um núcleo fundamental da sociedade, de onde as crianças saem para escola e se uma criança sair de casa com vícios os pais podem repreendê-la, porque não vai transmitir bons exemplos para onde for.

OBSERVATÓRIO DEFENDE QUE HÁ UM PLANO DE COMBATE AO CONSUMO DE DROGAS

Confrontado com a situação de consumo de drogas em ambientes escolares, o Secretário-executivo do Observatório Guineense da Droga e da Toxicodependência (OGDT), Abílio Aleluia Có Júnior, disse que existem ações concretas no Plano Anual de Trabalho (PTA) de 2025, ligado às ações de sensibilização e prevenção de drogas nas escolas do ensino básico, nos liceus e nas universidades públicas e privadas do país.

Abílio Aleluia Có sublinhou que o Observatório pretende reforçar a capacidade dos docentes em matéria de risco e consequências do uso abusivo de drogas. Neste contexto, vai organizar dois workshops de formação. O primeiro, será sobre a prevenção do consumo de substâncias lícitas e ilícitas nas escolas e o segundo será com os pais e encarregados de Educação sobre a Prevenção do Consumo de substâncias lícitas e ilícitas no seio Familiar.

A iniciativa, segundo Abílio Aleluia Có, revela que o Observatório está preocupado com a valorização do capital humano no processo de prevenção de drogas, para a mudança de comportamento e adoção de boas práticas saudáveis para os alunos.

“Posto isto, com essa abordagem centrada na formação de atores chave, permite-lhes serem agentes multiplicadores na disseminação das mensagens nas salas de aula, como também nas famílias”, frisou.

O ativista anunciou que o Observatório lançou, no dia 15 de abril de 2025, um projeto de prevenção de drogas nas escolas de pessoas com deficiências (PCD) na Guiné-Bissau e que no ato de lançamento do projeto o Ministro da Educação, Ensino Superior e Investigação Científica, Henry Mané, manifestou a sua preocupação relativamente ao uso de substâncias ilícitas nas escolas, como também mostrou-se que estará ao lado do Observatório Guineense da Droga e da Toxicodependência e a UNODC, na linha de frente no combate e prevenção de uso de drogas, enquanto dirige a pasta de educação.

Segundo Abílio Aleluia Có Júnior, Henry Mané reconheceu que essa luta é de todos os guineenses.

“Disse que essa iniciativa deve ser expandida a nível nacional, porque é uma realidade em todo o país. Essa declaração do Ministro da Educação encoraja-nos a elaborar um projeto com dimensão maior a nível nacional, para poder reverter e diminuir o consumo abusivo de drogas nas escolas. Por isso, pretendemos elaborar um projeto voltado para a campanha de sensibilização e de prevenção de drogas nos liceus e nas universidades públicas e privadas no país.

O Secretário Executivo do Observatório lembrou que no passado, já tinha sido realizado um projeto deste género em 2018, financiado pelo SWISSAID e que neste ano foram selecionadas um total de 20 escolas, incluindo universidades a nível nacional.

De acordo com Abílio, em cada região, foram escolhidas duas escolas cada, uma pública e uma privada para campanha de sensibilização com alunos e professores.

“Em Bissau, fizemos em alguns liceus, institutos politécnicos e nas universidades públicas e privadas que o país tem. Por exemplo, realizamos palestras e campanhas de sensibilização nas Universidades Amílcar Cabral, Universidade Lusófona da Guiné, Universidade Colinas de Boé, Universidade Católica, Universidade Jean Piajet, Instituto Politécnico Nova Esperança (IP9), Escola Nacional de Saúde (ENS), Escola Nacional Educação Física (ENEFD), Escola Nacional de Administração (ENA) etc”, disse, lembrando que a campanha teve um “impacto positivo”.

“Atingimos cerca de 5000 alunos, estudantes e docentes a nível nacional. Em 2023, fizemos outra campanha de sensibilização de drogas nas escolas em três regiões com maior prevalência de consumo de droga na Guiné-Bissau que são Bissau, Bafatá e Gabú. O resultado da campanha é muito surpreendente em termos de números dos participantes atingidos, são no total 83”, frisou.

Informou que ao nível da capital Bissau, o Observatório desenvolveu ações de sensibilização nos liceus Nacional Kwame Nkrumah, Agostinho Neto, Liceu Rui Barcelos Cunha, Samora Moisés Machel, SOS, Liceu João XXIII, Liceu Da Rosa, Escola São José de Cuntum, escola 23 de Janeiro, escola revolução de Outubro, liceu Justado Vieira, liceu Attadamum, Escola Betel, Escola Solidariedade, Escola Patrício Lumumba, Escola Jorge Ampa Cumelerbo, Escola Cooperativa Escolar Domingos Ramos, Cooperativa Escolar Alternativa, Escola privada Carlos Martins, Escola Unificada Cuntum Madina, Centro de Formação Juvenil de Cuntum Madina, escola Amizade Unificado 4 de Novembro, Escola do Ensino Básico 8 de Março .

“Em Bafatá, no Liceu Regional Hoji Ya Henda e em Gabú no liceu Luís Fona Tchuda. Os participantes atingidos foram no total 8.445 alunos, estudantes e docentes. Foi uma campanha com resultados fenomenais”, enfatizou e disse que a visão do Observatório sempre foi e será nas escolas, porque “entendemos que é o lugar onde se forma a massa crítica pensante de qualquer país”.

“Nelson Mandela dizia que a Educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo”, fim de citação.

Por: Filomeno Sambú
Conosaba/odemocratagb

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