Foto:ANG
Chegar hoje da tabanca de Bara a Mansoa, na Guiné-Bissau, demora apenas 20 minutos de carro devido a uma estrada construída pela população, que optou por "ficar com fome", mas ter acesso à saúde e sair do isolamento.
Os 18 quilómetros distância entre Bara e Mansoa, na região de Oio, centro da Guiné-Bissau, eram na época seca percorridos em três horas.
Na época das chuvas, as pessoas ficavam isoladas e para chegar a Mansoa eram obrigadas a caminhar entre mato e bolanhas (arrozais) e a levarem uma muda de roupa para chegarem limpos à cidade.
Farto do isolamento e das dificuldades para chegar a Mansoa, Tchikng Athé teve a ideia de construir a estrada e começou a mobilizar a população.
"Isto era como se fosse uma ilha, na época da chuva.
Caem as primeiras chuvas e já não há como os carros chegarem aqui à nossa tabanca. Por isso decidimos ficar com fome (não resolver outros problemas), mas resolver o problema da estrada", afirmou à agência Lusa.
Cansado da promessa dos políticos, Tchikng Athé recordou a sobrinha, que morreu o ano passado a tentar chegar a Mansoa para ir ao médico e muitas outras mulheres grávidas que perderam a vida.
"Os carros não conseguiam chegar à nossa tabanca, era preciso carregá-las com macas improvisadas. Agora podemos dizer: Deus obrigado. Lutamos mas não acabamos, mas
agora os carros entram até à tabanca", disse, lembrando que todos são filho da Guiné-Bissau.
Em Bara já há estrada, mas ainda há dívidas para pagar aos donos da máquina e a outras pessoas de boa vontade que ajudaram a população, que contribui com cerca de 20.000 francos cfa (cerca de 30 euros) por pessoa de trabalho, as crianças e os mais velhos não pagaram.
"Agora é muito fácil andar nesta estrada, daqui até Mansoa.
Agora podes vestir boa roupa em casa, sair e apanhar o transporte na tua porta até Mansoa", afirmou.
Para concretizar a ideia de Tchikng Athé contribui Manuel Jorge Sigá, que era o antigo motorista que fazia a ligação entre Mansoa e Bara durante a época seca.
"Para fazer três carreiras (de transporte publico) num
dia, vir de Mansoa para aqui, eras obrigado a começar a viagem de Mansoa para cá às 03:00 para parar às 09:00. Levavas três horas entre a estrada principal para aqui em Bara. Três horas para vir, três horas para ir", explicou à Lusa.
Manuela Jorge Sigá foi o engenheiro e o topógrafo da estrada e quem discutiu os preços, mas sempre acompanhado pelos representantes da população.
"Não sou nem engenheiro, nem topógrafo, mas fui eu que alinhei esta estrada com as minhas mãos. É apenas uma curiosidade. Como se diz em crioulo a cabra não costuma morder (as pessoas), mas se estiver em apuros morde", afirmou.
Já o presidente do comité da tabanca de Bara, Damna Mbali, recordou as promessas dos partidos, que "falam coisas bonitas, mas que não passam disso mesmo"
"Não confiamos mais em nenhum partido, mas sim nas nossas mãos. Agora uma pessoa sai daqui e rapidamente chega à Mansoa, até uma criança vai rapidamente e volta à tabanca.
Agora a população está satisfeita, quando passa pela minha casa, ou vai a passar na estrada, diz-me sim senhor, fizeram um bom trabalho", afirmou.
Conosaba/DN
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