«A cultura histórica tem o objectivo de manter viva a consciência que a sociedade humana tem do próprio passado, ou melhor, do seu presente, ou melhor, de si mesma.»
Rafael Barbosa morreu, faz nove anos, no dia 2 de Janeiro de 2007, tinha 81 anos.
Todo o homem é fruto do seu tempo. Esse tempo histórico que nos molda a todos e a cada um consoante l’esprit de l’epoque . Assim foi com Rafael Barbosa, assim o é com cada um de nós. Mas sera que essa moldagem se faz de forma tão impessoal, cega e abstracta, sinistra e traçoeira ? Ou será que o homem pelas suas qualidades, pelo seu temperamento, pela sua imaginação e pelos seus pecados deixará nessa marca do tempo a sua própria marca ? É insofismável que o homem também marca o seu tempo, cada um com a sua insígnia, algumas indeléveis outras mais reluzentes e outras ainda obscuras. Rafael Barbosa marcou o seu tempo ! Marcou-o por várias razões.
Soube ter a coragem de ser o primeiro entre os primeiros a erguer o estandarte da universalidade do homem africano, do homem guineense, do homem tout court. Diferentemente dos seus conterrâneos não o fez de um lugar «letrado» mas fê-lo a partir da sua condição de «trabalhador», movendo-se entre outros que procuravam o seu ganha-pão na construção civil, nos portos, nos armazéns, nos quartéis, nas bolanhas, nas praças coloniais, sobretudo, em Bissau.
Rafael Barbosa marcou também a sua época pela sua generosidade. A sua entrega à causa nacional que lhe fez pagar com o corpo as mil humilhações, dores, angústias que a maldade dos torcionários coloniais e pós-independência não cessaram de lhe infligir. Generosidade também na amizade. Amizade para com os seus colegas de luta, em especial, com o seu irmão de sempre, Amilcar Cabral. Aliás, reconhecida por Cabral na última carta escrita de seu punho onde enaltece essa fidelidade e amizade. Lembremos que essa carta foi lida em plena farsa (julgamento) de justiça que os “os camaradas” nos deram o triste prazer de contemplar. Quem tem hoje dúvidas de que essa paródia com a justiça foi anunciadora de um fim de regime ? Ninguém, a não ser aqueles que insistem em não ver, não por serem cegos, mas por não quererem ver. A bulimia é também uma forma de cegueira!
Rafael Maria Pedro Barbosa marcou a sua época pela sua resistência física e moral. Quanto sofrimento esse frágil corpo teve que passar para termos uma nação, a nossa nação! Quantas vezes os nossos olhos tiveram que baixar perante a fragilidade deste corpo e termo-nos interrogado no nosso íntimo, como pode ele resistir a tanta crueldade ?A resposta só pode ser uma, a sua fé !
Certamente a sua fé religiosa mas também a sua fé nos homens, que como ele sonhavam a liberdade dos seus países e os puderam realizar.
A sua resistência não ficou por aí e por isso mesmo compreendeu que a liberdade da nação não seria completa sem a liberdade dos seus homens e mulheres. Foi ele o político guineense que melhor ponte estabeleceu entre a independência e a democracia. Pela sua personalidade a luta democrática ganhou legitimidade histórica por ter sido também uma luta pela independência.
A história reterá sem dúvida a sua resistência moral que muitas vezes se fez acompanhar pela sua solidão e precariedade.
Foi a sua resistência moral que lhe permitiu ser não só um herói do passado mas também da actualidade.
“A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las.”
e-global.pt/Conosaba
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