terça-feira, 8 de abril de 2014

PROPOR PRESIDENTE DE ANGOLA A PRÉMIO É “BRINCADEIRA DE MAU GOSTO”, DIZ OPOSITOR

 Recentemente o cónego Apolónio disse que o Presidente angolano merecia o prémio pelas suas ações em prol da paz. Joaquim Nafoia, do PRS, contesta pois Eduardo dos Santos "dirige um dos mais corruptos governos" do mundo.
O cónego Apolónio, figura de destaque da Igreja Católica angolana, disse recentemente em entrevista ao Jornal de Angola que o Presidente José Eduardo dos Santos merece o Prémio Nobel da Paz pelas suas ações em prol da paz no país. Contudo, esta voz contraria muitas outras que, regularmente, se insurgem contra o chefe de Estado.

Além disso, a relação da Igreja Católica com o Governo angolano mostra-se paradoxa, como por exemplo no caso da Rádio Ecclesia. Sobre esta relação, a DW África entrevistou Joaquim Nafoia, secretário para a Informação do Partido de Renovação Social (PRS).

DW África: O cónego Apolónio afirmou, recentemente, que o Presidente José Eduardo dos Santos merece o Prémio Nobel da Paz. Na sua opinião, o chefe de Estado angolano é realmente merecedor desse prémio?

Joaquim Nafoia (JN): O cónego Apolónio Graciano já nos habituou a este tipo de discurso. Todos nós sabemos que o Presidente José Eduardo dos Santos não reúne requisitos nenhuns para merecer nem o Prémio Nobel nem o Prémio Sakharov nem outros prémios. O Presidente José Eduardo dos Santos é um Presidente que dirige um dos mais corruptos Governos que organiza assassinatos seletivos dos seus adversários, principalmente políticos e ativistas cívicos.
Nós cá no país não temos praticamente liberdade de expressão. Quando há, os debates na Assembleia Nacional não são transmitidos, os órgãos públicos que são de todos nós (a Rádio Nacional, a Televisão Pública de Angola, o Jornal de Angola e a agência Angop) foram transformados em instrumentos de propaganda do partido no poder [MPLA, Movimento Popular de Libertação de Angola]. Portanto, esse indivíduo não reúne requisitos nenhuns para merecer o Prémio Nobel.

DW África: Então como qualifica os pronunciamentos do padre Apolónio ?

JN: São pronunciamentos irresponsáveis que não devem ser levados em consideração. Mas o padre já nos habituou, parece que é um ponta de lança do regime dentro da Igreja. Mas ele devia pôr as batinas de lado e ir para um comité ou célula do partido MPLA exercer atividades políticas. Porque propor José Eduardo dos Santos a um Prémio Nobel é estar a brincar com a boa vontade dos angolanos. Portanto, acho que é uma brincadeira de mau gosto que não deve ser levada em conta.

DW África: Entretanto o site Maka Angola denuncia que o Ministério da Comunicação Social tem estado a financiar a Rádio Ecclesia, rádio católica, embora o Governo não tenha ainda autorizado o reconhecimento jurídico da emissora. Como vê esta atuação?

JN: Tudo é possível visto que o Presidente José Eduardo dos Santos dirige um dos Governos mais corruptos do mundo.

DW África: Quer dizer que a Igreja Católica está a ser corrompida pelo regime angolano?
JN: Não creio porque na Igreja Católica há pessoas sérias, há bispos e padres que são muito sérios. Mas também há alguns setores que são vulneráveis. É normal no sistema em que nós vivemos, com o Governo que nós temos que haja esse tipo de situações.

DW África: Como vê atualmente a relação entre a Igreja Católica e o Governo angolano?

JN: É um pouco complicado responder a esta pergunta, mas a relação é normal. A própria Igreja Católica está a sofrer, pois o Governo não deixa que a Rádio Ecclesia seja ouvida em todo o território nacional. A Rádio Ecclesia é só ouvida na cidade de Luanda e arredores, mas não no resto do país. No entanto, a Igreja tem procurado formas de persuadir as autoridades.

DW África: Na sua opinião, a destruição de mesquistas e igrejas protestantes em Angola tem apenas a ver com questões de ilegalidade ou tem a ver também com tentativa de impedir a entrada e massificação de outras religiões no país?

JN: O povo angolano tem, em geral, como religião o cristinanismo. No entanto, não são só as mesquitas que têm sido destruídas. Nós temos uma legislação e todo e qualquer cidadão que queira construir um establecimento, seja comercial ou religioso, deve solicitar licença às autoridades. E o que tem acontecido é que os nossos irmãos às vezes não obedecem às regras estabelecidas.
Portanto, às vezes solicitam espaço para a construção de uma residência mas depois nasce uma mesquita. Apesar das dificuldades que temos, estamos num país devidamente estruturado. Não podemos admitir que qualquer indivíduo que queira implementar a sua religião aqui não obedeça às regras estabelecidas. Acho que temos que ser coerentes. Aí as autoridades agiram bem.

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