sexta-feira, 4 de setembro de 2020

A INTEGRAÇÃO DAS MADRASSAS NO SISTEMA EDUCATIVO NA GUINÉ-BISSAU.

 

Por: yanick Aerton

Madrassa”, no singular, significa o ensino moderno da língua árabe e das outras disciplinas, tais como o português, a matemática, a biologia, a química, a física, a filosofia, nos estabelecimentos de ensino primário e secundário, consistente com a evolução tecnológica.

Em oposição a “Madrassa”, existe o ensino do “Madjlis”, ou corânico, o ensino clássico que a maior parte dos Guineenses muçulmanos frequentaram, incluindo alguns proeminentes quadros que exerceram no passado altas funções de responsabilidade no Estado, ou aqueles que actualmente estão em funções.

Esse ensino no quadro restrito do “Madjlis” era quase exclusivamente confessional, porque se coloca mais o acento tónico na aprendizagem, memorização e interpretação do Sagrado Alcorão, e também se ensina a ciência islâmica, em geral.

Esses quadros a que fiz alusão, como aconteceu em todos os países com uma forte presença de comunidades muçulmanas, simultaneamente frequentaram as chamadas escolas do Colon, tendo marcado a sua presença nessas escolas com brilhantes resultados.

Depois de ler no blog “faladepapagaio” de 3 do corrente, a publicação sobre os trabalhos levados a cabo por conceituados técnicos do ministério da educação nacional, acabei por concluir que afinal estava tudo a postos para se pôr na prática aquilo que tinha sido maduramente pensado e profundamente estudado, e o senhor ministro não fez nada mais, nada menos, do que dar seguimento.

Daí a minha revolta. Porque é que se adiantou tanto a implementação desse projecto? Que ninguém me venha falar de falta de recursos, porque vivemos todos neste país, e estamos bem informados do que se passa a nossa volta.

De facto, diskarna tem nês terra. Ita faciu pena. Dispus di mas quarenta anu diskarna continua son i utur djinis sta disposto pá i manti. Ai ndeyssane, Guine!

O que mais me intriga é facto de até alguns quadros do ministério da educação que tiveram um papel de relevo na produção dos instrumentos sobre a matéria, a insurgirem-se contra iniciativa do senhor ministro.

Por isso é que o sistema quer manter-nos no obscurantismo, porque se tivéssemos já universidades nas três províncias, o debate sobre esta matéria teria outro nível e seria doutra natureza.

Em tudo isso, há uma explicação que pode não convencer ao leitor – o terrível medo da conversão em massa ao Islamismo, se nessas escolas se vir a introduzir o ensino do Sagrado Alcorão, como disciplina, ainda que facultativa.

O que muita gente ignora é que a conversão a qualquer religião, não é só ao Islão, é voluntaria e não obrigatória. No passado, em todas as religiões houve a conversão à força, mas é bom não esquecer que estamos a viver no Séc. XXI, e há liberdade de escolha. Há muçulmanos que se converteram às outras religiões e vice-versa, não é por conseguinte a introdução de uma língua que deve ser confundida como sendo uma estratégia de arrasar outros Guineenses para um campo que não elegeram.

Aliás, para a melhor compressão das religiões, até se aconselha ter um profundo conhecimento dos livros sagrados, pelo menos, das duas principais religiões com mais membros: a Sagrada Bíblia e o Sagrado Alcorão.

O único conselho que dava ao senhor ministro, se fosse solicitado, era fazer uma selecção rigorosa dos professores, submetê-los a concurso e através da cooperação com os países árabes, formá-los, se necessário localmente, em matéria de PEDAGOGIA.

Não basta ter um mestrado ou P.h.D. para ser bom professor. E, na esteira dessa política de cooperação, solicitar bolsas de estudo para os futuros integrantes no corpo docente, e que esses tenham obrigatoriamente o domínio da língua portuguesa, a semelhança do que acontece noutros países.

Ponhamos termo a este debate desnecessário, porque o facto do senhor ministro ter comunicado de forma defeituosa mas perdoável, não é razão bastante para se tentar inviabilizar esta sua brilhante e corajosa iniciativa.

O que se fez em relação aos documentos publicados sobre esta matéria, devia ser a primeira a coisa a fazer previamente, para esclarecer a opinião, antes de avançar com os outros passos, porque afinal não há qui nada de pratica de discriminação positiva ou “affirmative action”, para beneficiar quem quer que seja.

Bem haja a todos

 

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