A campanha de comercialização da castanha de caju, principal produto de exportação da Guiné-Bissau, foi aberta oficialmente a 30 de março, mas os agricultores desesperam porque na prática ainda ninguém apareceu para comprar a castanha.
O campo agrícola de Palestina, na localidade de Cumura/ Pepel, a 20 quilómetros de Bissau, acolhe as comunidades de Cumura de Padre e Prabis para apanha do caju, mas os proprietários da granja e os próprios agricultores que lá trabalham não sabem o que fazer para vender a castanha que já juntaram.
A granja, que se estende por sete quilómetros de cajueiros é gerida pelo embaixador da Palestina na Guiné-Bissau, mas é o guineense Adulai Bari que passa lá os dias para coordenar o trabalho de centenas de famílias de agricultores que aí permanecem entre os meses de março a setembro na apanha do caju e extração do vinho que vem do mesmo fruto.
"Nós só precisamos da castanha, as mulheres precisam da polpa para extrair o vinho. Elas vêm cá, com as suas crianças apanhar o caju, dão-nos a castanha", contou à Lusa Bari para lamentar, logo de seguida, que o problema é quem compre os cerca de 20,30 sacos do caju que conseguem juntar diariamente.
O preço oficial decretado pelo Governo para compra de cada quilograma da castanha ao agricultor é de 500 francos cfa (cerca de 0,76 cêntimos de euro).
Porque não há ninguém a comprar nem a este ou outro preço, Adulai Bari prefere ensacar a castanha que vai recolhendo da granja e guardá-la em armazéns "à espera de melhores dias".
A granja da Palestina, um campo agrícola que o Estado guineense doou àquele povo árabe como recompensa pela sua ajuda pela independência do país, é enorme, e a gerência decidiu, este ano, contratar jovens rapazes da região de Gabu (no leste) para ajudar na apanha do caju.
Rapazes entre os 14 e os 16 anos enchem várias extensões do campo da Palestina. Adulai Bari incentiva-os a trabalhar. A cada um é dado cinco bacias de 20 quilogramas que têm de encher, diariamente, de caju apanhado e que vão entregando às mulheres que separam a castanha da polpa.
Bari contou à Lusa que no final do mês dá a cada um dos rapazes de Gabu, "um salário de 60 mil francos" cfa (cerca de 91,47 euros), mais comida, alimentação e cuidados médicos. Os jovens disseram à Lusa que são pagos, mas, diariamente e recebem 1000 francos (cerca de 1,5 euros) por cada bacio de caju apanhado.
"Nem sei o que vamos fazer com tanta castanha que já guardamos e que ninguém aparece aqui para comprar", disse o chefe da granja, olhando para os novos sacos prontos com o produto que Mamadu Diallo, cidadão da Guiné-Conacri vai ter que arrumar no armazém.
Diallo é vendedor de quinquilharias em Bissau, mas há quatro anos que durante os meses da campanha do caju troca a capital da Guiné-Bissau pela granja da Palestina onde é armazenista da castanha de caju, sob as ordens do chefe Bari.
Ao ser questionado pela Lusa se o trabalho corre bem, Mamadu ri-se e dispara: "No ano passado a esta altura já o armazém estava sem castanha".
Conosaba/Lusa
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