terça-feira, 15 de janeiro de 2019

«OPINIÃO» "MUITO CUIDADO COM A DÍVIDA PÚBLICA!" - MESTRE: ALIU SOARES CASSAMA


A dívida pública, também denominada como dívida das administrações públicas, é o valor que o Estado guineense deve, externa e internamente, por via dos seus diversos compromissos financeiros.

As dívidas públicas são um assunto muito sério na gestão macroeconómica de qualquer país e não podem, nem devem, ser encaradas de ânimo leve.

Não se pode, nem se deve, abordar esta variável macroeconómica ignorando os seus potenciais efeitos adversos, sobretudo a médio e longo prazo.

Dívida pública implica pagamento de juros e amortizações de capital, o chamado serviço da dívida. Todo o dinheiro arrecadado pelo Estado guineense no ano passado serviu apenas para pagar despesas correntes, nomeadamente os salários dos funcionários públicos, esquecendo assim o pagamento da dívida, o que levou ao acumular de juros e manteve constante o capital a reembolsar.

De acordo com os últimos dados que obtive sobre o serviço da Dívida junto do Ministério das Finanças, a nossa economia tem uma dívida para com os terceiros no valor de 427.776.828,33 dólares (USD), equivalente a 239.982.800.693,13 FCFA (conversão feita no dia 06/01/2019 quando 1 dólar valia 561 FCFA).

Uma curiosidade, tentei obter o total da dívida pública sobre o Produto Interno Bruto (PIB) mas foi-me dito no Ministério das Finanças que ainda não tinham recebido o total do PIB junto do Instituto Nacional da Estatísticas (INE). À data de fecho deste artigo, continuo sem dispor de qualquer novidade sobre esse assunto.

As autoridades nacionais têm a obrigação de saber tudo a este respeito, terem uma atitude estratégica e pensarem no impacto que a dívida pública pode ter sobre a capacidade de crescimento da economia.
Será que estamos sobreendividados? A pergunta não é retórica. Confesso que não sei mesmo se estamos sobreendividados. Mas que há cada vez mais sinais nesse sentido, disso não tenho dúvidas.

Acabámos o ano de 2018 com uma economia a crescer muito pouco, bastante aquém do seu produto potencial e abaixo da taxa de crescimento demográfico.

A dívida pública atual é um fardo insuportável para a economia guineense. As empresas, as famílias e os cidadãos, que vão ser obrigados a pagar mais impostos para que o Estado ressarça esses compromissos assumidos em nome da economia Nacional, não podem estar satisfeitos.

Não se deve olhar a dívida pelo seu stock mas sim pela sua liquidez, ou seja, pela forma como ela é amortizada.

Atualmente, o Banco Oeste Africano para o desenvolvimento (BOAD), o Banco Mundial (BM) e o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) são os maiores credores do Estado guineense.

O FMI diz que as medidas previstas no programa de financiamento ampliado vão colocar a dívida pública em rota descendente, mas alerta que o nosso país continua muito vulnerável devido à dependência de uma só commodity que é a castanha de caju.

Por paradoxal que possa parecer, mesmo que quisesse, a Guiné-Bissau teria enormes dificuldades financeiras em amortizar, num curto prazo, toda a dívida que impende sobre ela, devido a várias razões:

1-      Depois das eleições legislativas marcadas para 10 de março do ano em curso, teremos um governo que vai continuar a emitir bilhetes e obrigações do tesouro para fazer investimento públicos uma vez que houve uma queda acentuada das receitas em 2018;
2-      Poderemos esperar, no próximo Orçamento Geral do Estado, uma utilização de 50% das receitas para pagamento do serviço da dívida externa, ‘’restrição importante para o país poder investir especificamente no que permite acelerar um desenvolvimento económico inclusivo”

Recomendações:

ü  Gestão rigorosa da dívida pública atual

ü  Racionalidade nos investimentos públicos

ü  Criação da Poupança pública e combate à corrupção na Administração pública
ü  Impulsionar a  arrecadação  de receitas e implementar medidas para conter o ritmo de crescimento das despesas.

ü  O Programa consistente de Estabilização macroeconómica poderá reduzir o peso da dívida.

Seria importante renegociar a dívida atual, aumentando um pouco o prazo de reembolso, de forma a dedicar mais recursos aos investimentos nacionais. Renegociar, na medida das possibilidades, para poder respirar e investir por exemplo no programa de substituição de importações pela produção nacoinal e começar um programa sério de exportação que não seja só no âmbito do caju.

O país tem uma dívida elevada que resulta de uma acumulação durante décadas, e a sua redução obviamente vai implicar tempo, por isso temos que ser racionais no endividamento interno e externo.

Vamos esperar o melhor mas preparemo-nos para o pior!

Para fechar este meu primeiro artigo de 2019, partilho convosco o ranking dos piores devedores e mais endividados países do mundo, em % do PIB: Japão (239%), Grécia (181%), Líbano (143%) Itália (132%), Portugal (130%), Gâmbia (116%), Moçambique (115%) e Singapura (112%). Já os 10 países menos endividados do mundo são: Hong-Kong (0,1%), Brunei (3,1%), Estónia (9,5%), Arábia Saudita (12%), Botswana (14%), Rússia (17%), Koweit e Nigéria (19%), Emirados Árabes Unidos (19%) e Argélia (20%).

Mestre Aliu Soares Cassamá


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