terça-feira, 2 de setembro de 2025

Novo presidente do BAD sublinha a urgência de “mudar de paradigma”

Sidi Ould Tah, presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). AFP - ISSOUF SANOGO

Sidi Ould Tah, eleito presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) em Maio, tomou oficialmente posse esta segunda-feira, 01 de Setembro de 2025, na sede da instituição, em Abidjan, Costa do Marfim. O economista mauritaniano prometeu continuar a construir “uma África robusta e próspera” e sublinhou a urgência de “mudar de paradigma”.

Sidi Ould Tah, de 60 anos, antigo ministro mauritaniano da Economia e antigo dirigente do Banco Árabe para o Desenvolvimento Económico em África (BADEA), foi eleito em Maio para suceder ao nigeriano Akinwumi Adesina à frente do BAD.

Durante a campanha para a presidência da principal instituição de desenvolvimento de África, Ould Tah apresentou um programa composto de quatro pontos: reformar a arquitectura financeira africana, aproveitar o dividendo demográfico do continente, industrializar de forma sustentável e desbloquear capitais em grande escala.

O novo presidente do BAD terá também de lidar com vários factores adversos, entre os quais o elevado endividamento público e a dificuldade de acesso aos mercados internacionais, os impactos das alterações climáticas no continente e a redução do montante de ajuda externa, nomeadamente dos Estados Unidos da América.

Na tomada de posse, Sidi Ould Tah, prometendo continuar a construir "uma África robusta e próspera" e sublinhou a urgência de “revisitar o plano de investimento” e de “mudar de paradigma”.

O primeiro mauritaniano a assumir a liderança da instituição insistiu na importância da paz para alcançar os objectivos de desenvolvimento e acrescentou que "África está de olhos postos em nós, a juventude espera por nós".

Neste momento particular, em que assumo a presidência da primeira instituição financeira africana, não crio ilusões quanto aos múltiplos desafios que o nosso continente enfrenta.

As incertezas ligadas às transformações geopolíticas, a contestação do multilateralismo, a redução da ajuda pública ao desenvolvimento, o peso esmagador da dívida dos nossos países, o impacto negativo das alterações climáticas e o grande atraso na concretização dos objectivos de desenvolvimento sustentável são apenas alguns exemplos.

Além disso, uma das grandes componentes que estruturam o discurso sobre o desenvolvimento: a centralidade da paz está quase esquecida na doutrina clássica do processo de construção da prosperidade. Isto obriga-nos a revisitar com urgência os nossos modelos de investimento, para aí introduzir uma vertente inteira dedicada ao investimento na paz: não há desenvolvimento sem paz, não há paz sem desenvolvimento.

Comprometo-me a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que o BAD traga uma contribuição significativa e fundamentada para a mudança desejada de paradigma nesta área.

Continuo confiante de que o continente africano continuará a demonstrar resiliência. Já o provou em episódios difíceis, como a crise financeira de 2008-2009 e, mais recentemente, com a pandemia de Covid-19.

A África olha para nós… A juventude espera por nós… É tempo de agir!

Em entrevista à RFI, o economista guineense Carlos Lopes, professor na Universidade da Cidade do Cabo que contribuiu para a estratégia de Sidi Ould Tah, sublinhou a visão inovadora e ambiciosa do novo presidente do BAD, que pretende transformar a instituição num motor de desenvolvimento do continente africano.

Sidi Ould Tah tem uma paixão pelas questões relacionadas com as pequenas e médias empresas, porque tem consciência de que elas é que criam e geram emprego. Mas esse é o resultado de uma arquitectura mais complexa, onde teria que transformar o banco não num operador nessas áreas, mas num agente que pode mobilizar capitais e que pode, juntamente com outras instituições financeiras, trabalhar em sinergia.

Por isso, uma das prioridades dele é justamente tentar construir uma arquitectura financeira africana, em vez de estarmos a perder muita energia nas reformas da arquitectura financeira internacional.

No fundo, é um pouco o mote do seu programa, ou seja, tentar mostrar que os africanos têm que se concentrar muito mais nas possibilidades que têm e que até agora não foram propriamente utilizadas, nomeadamente a mobilização de capitais internos domésticos, fundos de pensão, fundos soberanos, a forma como se lida com infra-estruturas, que é normalmente feita pensando sempre no investidor estrangeiro e sem mercados internos, intervindo directamente na sua concepção.

São prioridades que têm a ver com a constatação de que estamos a entrar num período onde a ajuda ao desenvolvimento é muito mais escassa e deve ter um papel mais marginal na definição das prioridades do continente. E para que se possa ter uma integração continental, tem que se investir muito mais em infra-estrutura resiliente.

Tem que se fazer o necessário para que esse mercado de capitais possa multiplicar o tamanho do banco de forma consistente.

Sidi Ould Tah é o 9.º presidente a dirigir esta instituição e assume funções por um mandato de cinco anos.

rfi.fr/pt

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