A missão política de alto nível da CEDEAO afirma ter sido expulsa da Guiné-Bissau na sequência de ameaças do Presidente Umaro Sissoco Embaló proferidas nesse sentido. O Presidente Sissoco Embaló terá considerado que a missão extravasou as suas funções ao reunir-se com certos líderes da oposição.
Num comunicado publicado este sábado 1 de Março e assinado pelo chefe da missão da CEDEAO, o embaixador Bagudu Hirse, ex-ministro dos negócios estrangeiros da Nigéria, a organização afirma que a delegação "partiu de Bissau na madrugada deste sábado [1 de Março], na sequência de ameaças de S.E (Sua Excelência) Umaro Sissoco Embaló para expulsá-la”.
Contactado pela RFI, um dos membros da missão política da CEDEAO, presente em Bissau desde 21 de Fevereiro, recusou reagir, mas confirmou o caso, alegando que o Presidente Sissoco Embaló terá considerado que a missão extravasou as suas funções ao reunir-se com certos líderes da oposição.
O roteiro inicial da CEDEAO não previa reuniões com líderes da oposição. Depois de cartas enviadas à organização, a delegação cedeu e agendou encontros com representantes do PAI-Terra Ranka e da API Cabas Garandi.
O Presidente guineense, que se encontra fora do país em visitas de Estado à Rússia, ao Azerbaijão e à Hungria não terá apreciado os encontros entre a CEDEAO e os membros da oposição, Aristides Gomes, ex-Primeiro-ministro da Guiné-Bissau e observador do momento politico conturbado.
"A CEDEAO está a ser vítima da sua própria problemática inicial. A partir do momento em que a organização chega a Bissau e segue os passos do Sissoco, querendo depois traír esses passos, [o Presidente Umaro] Sissoco reage", afirma ainda Aristides Gomes.
Sissoco está a ser coerente consigo mesmo. Repare, quando ele chegou ao poder [em 2020] pela via que nós conhecemos, quando assumiu o palácio presidencial apoiado por forças de segurança, ele expulsou as forças da CEDEAO que estavam na Guiné-Bissau e declarou persona non-grata o próprio representante da CEDEAO no país.
Esta semana, quando a missão recebeu todas as coligações representadas na Assembleia Nacional, dissolvida ilegalmente [pelo chefe de Estado]; quando os líderes dessas coligações foram recebidos pela missão... Sissoco estava fora do país, mas ele é chefe de Estado e tem informações. Aí compreendeu que a missão estava a evoluir para o caminho da legalidade que ele tinha previamente destruído.
Portanto, a missão fez um percurso em que primeiramente seguiu o caminho da ilegalidade do Sissoco. Mas a partir do momento em que a missão, por razões várias, começou a fazer uma inflexão, um percurso inverso, de retorno à legalidade, aí a missão estava a infringir o objectivo fundamental do Sissoco, que é a personalização do poder.
De notar que a CEDEAO deve publicar em breve o relatório final sobre a estadia em Bissau e o diálogo em torno das eleições.
Para Aristides Gomes, a organização cometeu dois erros. O primeiro, na opinião do ex-Primeiro ministro guineense, foi ter-se reunido com Adja Satu Camará, nomeada pelo chefe de Estado para a presidência da Assembleia Nacional Popular e substituindo Domingos Simões Pereira no cargo, num processo que a oposição indica ter sido realizado à margem do quadro legal.
O segundo erro da CEDEAO, diz Aristides Gomes, reside no próprio objectivo da missão da organização na Guiné-Bissau. "Os problemas da Guiné-Bissau não se resumem à marcação da data das eleições gerais. Isso decorre da lei eleitoral. Temos que tratar primeiramente da questão do fim do mandato de Sissoco", considera o político.
De recordar que o chefe de Estado guineense não esperou a chegada da delegação da CEDEAO a 21 de Fevereiro para anunciar a realização de eleições em Novembro 2025. Ora, de acordo com a oposição e a sociedade civil, que se vincula ao quadro legal e constitucional, o mandato de Sissoco Embaló terminou a 27 de Fevereiro, cinco anos depois de ter tomado posse como presidente da Répública num hotel em Bissau, numa altura em que aninda decorria um contencioso eleitoral.
A CEDEAO deve publicar em breve o relatório final sobre a estadia em Bissau e o diálogo em torno das eleições. © Wikicommons
Por: Eva Massy
Conosaba/rfi.fr/pt/
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