terça-feira, 18 de abril de 2023

Rússia: opositor Vladimir Kara-Murza condenado a 25 anos de prisão


Opositor russo Vladimir Kara-Mourza, condenado a 25 anos de prisão, durante a sentença proferida neste 17 de Abril de 2023. © AFP


Ao cabo de um julgamento à porta fechada, um tribunal de Moscovo condenou, nesta segunda-feira, o opositor Vladimir Kara-Murza a 25 anos de prisão, tendo sido considerado culpado de «alta traição», de difusão de «falsas informações» sobre o exército russo e de trabalho ilegal para uma organização «indesejável».

Á luz das acusações que pesavam contra o opositor que ultimamente tinha denunciado a ofensiva russa na Ucrânia, a justiça russa condenou Vladimir Kara-Murza a uma pena acumulada de 25 anos de prisão numa cadeia de alta segurança, o que implica condições de detenção mais rigorosas.

Esta é uma sentença de uma severidade inédita contra um opositor na Rússia. Vladimir Kara-Murza, próximo do proeminente opositor Boris Nemtsov, assassinado em 2015, era um dos últimos críticos do Kremlin a não estar atrás das grades ou exilado no exterior.

Um dos seus advogados, Maria Eismont, anunciou que Vladimir Kara-Murza iria recorrer desta decisão. «É um veredicto terrível, mas ilustra o grande valor da acção de Vladimir», afirmou Eismont, ao declarar que o seu cliente não perde a esperança e está convicto de «ter agido pelo bem da Rússia».

Á margem de um forum organizado na capital americana pelo ‘Washington Post’, jornal no qual o opositor publicou muitas tribunas, outro do seus advogados, Vadim Prokhorov, considerou que esta sentença é «uma vingança política» que «nada tem a ver com a justiça» e que por conseguinte Kara-Murza é «um prisioneiro político».

Reagindo também a esta sentença, o opositor Alexeï Navalny, também a cumprir uma pena de prisão, considerou esta decisão «ilegal, descarada, simplesmente fascista» e disse acreditar que «Vladimir Kara-Murza é perseguido por razões políticas», numa mensagem publicada nas redes sociais pela sua equipa.

A nível internacional, as reacções também foram numerosas.

O Alto Comissário da ONU para os Direitos do Homem, Volker Türk, pediu a libertação «imediata» de Vladimir Kara-Murza. «Ninguém deve ser privado da sua liberdade por exercer os seus direitos humanos, e apelo às autoridades russas para que o libertem sem demora. Enquanto estiver detido, deve ser tratado com humanidade e respeito pela sua dignidade», declarou em comunicado. A sua condenação «é um novo golpe infligido ao Estado de direito e ao espaço cívico na Federação Russa», afirmou.

Os Estados Unidos denunciaram a «repressão intensificada» na Rússia, consideraram que se trata de uma condenação «com motivos políticos» e apelaram à libertação do opositor «bem como dos 400 presos políticos da Rússia».

Por sua vez, a União Europeia denunciou a pena «escandalosamente severa» de 25 anos de prisão infligida a Vladimir Kara-Murza na sequência de um «processo político». No mesmo sentido, o Governo alemão denunciou nesta segunda-feira «com a maior firmeza» a condenação do opositor russo, sendo que Londres também deu uma nota de repúdio po resta decisão. «O Reino Unido vai continuar [...] a apelar à libertação imediata de Vladimir Kara-Murza», declarou em comunicado o chefe da diplomacia britânica, James Cleverly.

Reagindo igualmente a esta sentença, o Ministério francês dos Negócios Estrangeiros declarou-se «consternado» com a condenação do opositor russo, lamentando a instrumentalização da justiça na Rússia, «transformada num instrumento de opressão do Kremlin». Esta condenação «constitui uma nova ilustração da campanha de repressão conduzida pelas autoridades russas contra as vozes críticas do poder e da sua guerra de agressão contra a Ucrânia», declarou Anne-Claire Legendre, porta-voz do Ministério francês dos Negócios Estrangeiros.Texto por:RFI

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