Sou um simples cidadão, do mundo.
Que nasceu e cresceu na Guiné-Bissau.
Que sente a sua pátria-mãe em cada bater do seu coração.
Que se delicia com a fonética do seu crioulo.
Que fecha os olhos e sente o cheiro da terra da mamã Guiné.
O cheiro da terra vermelha salpicada pelas primeiras chuvas.
O cheiro do cacimbo ao amanhecer, embalado pelo cantar do galo na capoeira.
O cheiro e o sabor do cajú e da sua castanha assada.
O cheiro e o sabor das variedades das mangas – as de terra, as de Índia e as de faca.
O sabor da cana de açúcar, de mandiple, da azedinha e de tambacumba.
O paladar do caldo de mancarra e do chabéu, passando pela cafriela, citi ku liti, ou citi ku djorondj.
O queimar da areia nos meus pés descalços pelas ruas do Bairro D’Ajuda.
O colecionar das cicatrizes de feridas cujas hemorragias foram estancadas com a terra vermelha.
O prurido da manpusma adquirido a jogar a bola descalço debaixo da chuva.
A aprendizagem da leitura e da escrita em escolas hoje com dignidades remetidas ao esquecimento.
Falaram-me da independência e sonhei com melhores dias e melhor futuro para o meu país.
Hoje sofro à distância pela minha terra.
Choro em silêncio pelos meus irmãos privados de quase tudo, mas que continuam a sonhar.
Sofro por muitos que morrem ainda ao nascer,
Por aqueles que padecem e morrem ainda jovens.
Por aquelas que um simples parto transforma em vítimas mortais.
Pelas crianças e jovens ávidos de aprendizagem, mas sem educação estruturada.
QUARENTA E CINCO ANOS é muito tempo! QUASE MEIO SÉCULO!
De abusos e privações.
De perdas de vidas válidas para o país.
De obscurantismo forçado e intencional.
De elevado número de mortes nos hospitais por falta de recursos.
Da degradação e banalização do ensino.
Da banalização e degradação da justiça.
Da degradação e banalização do conceito de família.
De delapidação dos nossos recursos naturais.
De quase completa desestruturação e desresponsabilização do Estado.
De desonra aos que tombaram na luta para a libertação do país.
Não, não sou e nem quero ser político.
Quero apenas ser um guineense.
Erguer a voz e exigir uma segunda independência à minha amada pátria.
Exigir a libertação da Guiné-Bissau dos abusos do PAIGC.
Quase meio-século não é suficiente para perceberem que falharam em todas as vertentes?
Quase meio-século não é suficiente para saírem do autismo e tomarem consciência da vossa incompetência?
Quase meio-século não chega para perceberem o grau da sua insensibilidade perante o sofrimento do povo?
Quase meio-século não é suficiente para perceberem a dimensão do crime que andaram a cometer contra esse humilde povo?
Quase meio-século não é suficiente para perceberem a dimensão das ajudas externas mal geridas?
Quase meio-século não é suficiente para pararem e pensarem que se tornaram nos verdadeiros carrascos do povo?
Quase meio-século não é suficiente para pararem e contabilizarem quantos guineenses foram e continuam a ser vítimas diretas e indiretas das ações criminosas do PAIGC?
Independentemente dos que vierem a seguir, é chegada a hora de dizer BASTA ao PAIGC. Como numa fuga da prisão, inicialmente não interessa para onde vamos, mas o objetivo primário é afastar-se da prisão e dos nossos carrascos… Mais a frente encontraremos o caminho.
Quero a minha terra de volta.
Por favor, libertem a Guiné-Bissau das garras do PAIGC.
Jorge Herbert
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