A vida política guineense constitui um palco hiperativo de vaidades,
birras, euforias, caprichos, travessuras, aleijões e traumas, que retratam o
estágio de infância política em que o país se encontra.
Naturalmente, um tal trato gera dramas e desesperos que têm
vindo a parasitar energias e a semear desânimo e frustração entre os cidadãos
conscientes, com a agravante de alimentar um quadro de aparências que continuam
a toldar espíritos e a prejudicar o discernimento e as convicções, na hora de
optar, tomar partido e apostar numa solução política de futuro e de afirmação
dos interesses mais sagrados deste povo.
É difícil fugir ao arquétipo que faz dos políticos predadores,
narcisistas, megalómanos, astutos e devassos. Todavia, no MDG, esforça-se por
se manter fiel ao espírito de missão e aos desígnios nacionais, com a
consciência clara de que é preciso resgatar o país da ignorância e do ódio,
ajudá-lo a crescer e prepara-lo para os desafios do futuro.
Enquanto oposição democrática, tem procurado manter-se
monástico e espartano no seu exemplo e coerente, sensato e pedagógico na sua
ação, ainda que, muitas vezes, incompreendido.
De 2014 a esta parte, o país que se deixou embalar na
esperança de um tempo novo foi sacudido por mais uma longa série de tempestades
políticas. O ciclo da legislatura foi interrompido, as causas não foram
demonstradas, as soluções de recurso revelaram-se inconsistentes e o aparelho
de Estado foi entregue a gente impreparada e de perfil moral inadequado, todos,
sem exceção, amostras da mesma escola política.
Infelizmente, muitos sectores da opinião pública nacional
ainda não se convenceram que o país não tem viabilidade nas mãos dos partidos
predominantes (linhagens da mesma escola), seja na perspetiva da tranquilidade,
estabilidade e pacificação dos espíritos, seja na da sua viabilidade, em termos
de afirmação de uma identidade, tomada de consciência dos grandes desafios e
adoção de políticas racionais e consequentes que possam explorar os efeitos
multiplicadores, de uma boa hierarquização de prioridades, em prol de um plano
de desenvolvimento racional e realista, ciente de que, como lembrava Joseph
Ki-Zerbo, não existe olimpíadas do desenvolvimento.
O confronto de vaidades e estratagemas que desvirtuou o Acordo
de Conakry e institucionalizou o pântano político, com implicações várias na
vida de cada um de nós, é apenas um pálido retrato do antagonismo que se
alimenta a si próprio. Pela voz de Braima Camará, revelou-se, na sua plenitude,
a questão de fundo: os quinze não vão permitir que o petróleo, o fosfato, a
bauxite e mais minérios de que o país disponha, fiquem à mercê de Domingos
Simões Pereira.
A ganância está à solta. De um lado e do outro, alimenta-se
a expectativa de mais uma oportunidade eleitoral para consumar o saque. É uma
inglória guerra de facções que só acabará com a destruição de um dos dois, ou
dos dois.
Depois do congresso de Cacheu, o PAIGC passou de 67 para 57
mandatos. Com esta crise no rubro, não parece que consiga obter maioria
absoluta nas próximas eleições. Se a vitória do PAIGC se resumir a uma maioria
simples, como tudo leva a crer, as eleições correriam o risco de dar lugar à
desilusão. Provavelmente, assistiríamos a um arranjo parlamentar entre o PRS e
o partido albergue dos 15. Nesse caso, o PAIGC, embora ganhador, ficaria de
fora.
O país precisa de um novo ator político, capaz de atrair os
votos dos cidadãos descontentes e mobilizar os abstencionistas, que possa
introduzir a racionalidade e servir de fiel da balança, para viabilizar uma
solução governativa racional, sustentada no bom senso, apostada na resolução
dos grandes problemas do país, empenhada na afirmação de um Estado de Direito e
comprometida com a transparência e a boa governação.
Infelizmente, impera uma visão provinciana entre as hostes
protagonistas do espaço político, predominando, entre uns e outros, uma
mentalidade parasita e uma estratégia de assalto que instrumentaliza o povo
pela ambição deste de desfrutar dos benefícios da civilização, apesar da
avenida nova do governo de Carlos Gomes e a degradação dos prédios SIDA e TAIWAN
demonstrarem a impreparação das nossas gentes para lidar com certos equipamentos
e benefícios da modernidade.
O dinheiro que devia servir para equipar as nossas escolas e
construir outras, onde ainda predominam barracas de folhas de palmeira e
krintim, foi desbaratado na avenida que vai do Alto Crim ao aeroporto que,
hoje, já não tem nem metade dos semáforos de pé, muito menos a funcionar. Para
não falar dos candeeiros, jardins e palmeiras!…
A política do fogo-de-artifício que esses partidos e arautos
da felicidade apregoam aos quatro ventos, para alienar as massas, deve ser
desmascarada, assim como a avidez que os traz embevecidos, tresloucados e
desabridos na azáfama da exploração mineira. Não o fazendo, o país será
confrontado com a disseminação da corrupção, que comprometerá gravemente as
possibilidades reais de resgate de valores e do próprio génio da nação.
Qual padroeiro dos milagreiros, no seu esplendor, o
Presidente da República deixou-nos mais uma dúvida quanto à sua habilidade em apreender
os problemas do país real e aptidão para estabelecer prioridades para a
resolução de constrangimentos e para a sublime missão de preparar o país para
os desafios do desenvolvimento.
A distribuição de viaturas de luxo a deputados, constituiu
uma suma afronta à nação que, deixando as escolas ao abandono, as parturientes
e doentes à sorte e os “assalariados” ultrajados e boquiabertos, desvaloriza as
instituições e promove a pedinchice, a corrupção, a irresponsabilidade e a
irracionalidade na disputa de mandatos, em detrimento da competência e do
mérito, o mesmo é dizer, em desfavor do serviço público e da construção do
progresso.
Entretanto, parece que o país está a despertar – a
desenvolver, talvez, um processo de tomada de consciência dos riscos que
espreitam. A confirmar-se a tendência, poderão estar a reunir-se as condições
que abrirão novas perspetivas para uma desejável viragem do eleitorado e
mudança de paradigma. O que é preciso é que os homens de bem participem e
contribuam para a mudança de que o país precisa.
É preciso uma força política nova para inspirar uma mudança
efetiva de conceções, de ideias, de estilo, de práticas e de condutas. Uma
força que tenha consciência das reais necessidades do país, das prioridades das
prioridades e do efeito multiplicador das opções. Uma força decidida a conferir
prioridade absoluta à educação, a reformar o aparelho judicial, a combater a
corrupção, a implementar as carreiras para libertar os quadros, os técnicos, o
saber e a criatividade de qualquer serventia política, enfim, uma força que
tenha consciência de que o progresso e o desenvolvimento não resultam de
qualquer capricho, alquimia ou fogo-de-artifício, mas antes de uma vontade
política pensada, estruturada e programada que eleja o cidadão e a sua educação
como centro da sua ação. Acima de tudo, uma força que tenha condições restaurar
a harmonia, o amor-próprio e a unidade do povo guineense.
O MDG espera conseguir demonstrar as suas razões e fazer
passar a sua mensagem. O objetivo mínimo, no pior dos cenários (de concorrer
sozinho e não poder contar com a participação dos quadros e técnicos, nem com apoios),
é de eleger, pelo menos, cinco deputados.
Consciente das suas limitações e da necessidade de criar
condições que convençam o eleitorado da virtualidade de poder constituir uma
terceira força que, no mínimo, possa funcionar como fiel da balança, o MDG está
em sintonia, há vinte e quatro meses, com o Partido dos Trabalhadores e o
Partido Africano para a Liberdade Organização e Progresso.
Estão em curso contactos com vista a ampliar o grupo. No
entanto, consolidando-se o agregado existente, constituir-se-ia uma aliança
que, não tendo tempo para negociar e divulgar uma coligação, poderia proclamar
princípios, objetivos e projetos comuns e a vontade firme de harmonizar
interesses em termos de apresentação de candidaturas, apoio recíproco nos
círculos partilhados e entreajudar-se na campanha eleitoral, tendo em vista, a
prazo, a constituição de uma coligação, eventualmente, a fusão.
Não será fácil, mas há que trabalhar nesse sentido, de modo
a constituir um movimento de salvação nacional suscetível de êxito. Afinal,
racionalmente, não se pode considerar adverso o ambiente político, mesmo que a
prudência recomende temperança e contenção.
Para o MDG, é chegado o momento de dar o máximo para
constituir um novo eixo político, senão a terceira via de que o país precisa,
como pão para a boca.
Acreditamos que o povo dá sinais de começar a compreender
que não pode continuar a entregar o seu voto a troco de vantagens pessoais e
imediatas. Mas é preciso arregimentar consciências e mobilizar as reservas de
valores e virtudes para dar corpo ao projeto político e reunir meios que
permitam levar a mensagem a todas as tabancas da Guiné e apresentar uma nova
força política como alternativa.
Precisamos do compromisso e do apoio de todos os guineenses
preocupados com o futuro da pátria, seja apoio moral, intelectual,
participativo, material, logístico ou financeiro, que contribua para difundir a
mensagem, criar a aproximação e confiança do eleitorado e galvanizar uma onda
positiva de mudança e resgate do país.
Não se exclua. Participe! Venha ajudar!
A Bem da Pátria!
Silvestre Alves
Presidente do MDG
Sem comentários:
Enviar um comentário