Funcionários da rádio e televisão públicas têm salários em atraso e pedem melhores condições laborais, tendo decretado greve. Há também jornalistas que se queixam de intimidações.
Os dois órgãos de comunicação social estatais da Guiné-Bissau estão em greve. A paralisação de 30 dias serve para reclamar uma melhoria das condições de trabalho e o pagamento da dívida contraída pelo Estado guineense.
No caso da rádio pública, a soma ronda os 150 mil euros, segundo Bacar Tcherno Dolé, porta-voz dos trabalhadores da Radiodifusão Nacional (RDN). Os funcionários prometem boicotar a cobertura das eleições gerais se não forem pagos.
"Com o não pagamento dessas dívidas não haverá tempos de antena dos partidos políticos, coberturas eleitorais e campanhas de educação cívica", afirma Tcherno Dolé.
Durante os dias da greve, a RDN tem um serviço mínimo com jornais de 5 minutos, em que são apenas apresentadas notícias internacionais, além da situação de precariedade da estação.
Na Televisão da Guiné-Bissau (TGB), a greve visa também exigir do Governo um esclarecimento sobre se a única estação de televisão do país é, afinal, uma empresa pública. Outros pontos na lista de reivindicações são a grelha salarial, que não é revista há duas décadas, o pagamento de vários meses de "complemento salarial" e ainda a melhoria das condições laborais.
Até agora, não houve negociações com o executivo guineense, segundo Mamadú Candé do sindicato de base dos trabalhadores. "O Governo não chamou ninguém."
Exercício "limitado" do jornalismo
Este é o segundo período de paralisação do canal neste ano, depois de os funcionários não terem conseguido obter respostas satisfatórias em relação às suas reivindicações. Candé fala de utopia no seio dos jornalistas da Guiné-Bissau.
"Não havendo condições materiais, laborais, e com uma total precariedade salarial, estamos limitados para o exercício da profissão", comenta. "Sem contar com algumas intimidações por pessoas que não querem a verdade."
Em declarações à DW África, o Governo de transição reconhece dispor de parcos meios financeiros para atender às reivindicações.
"Não há dinheiro", admite Armindo Handem, secretário de Estado da Comunicação Social. "O Governo tem feito aquilo que pode. Neste momento, não temos condições de pagar os salários em atraso."
Armindo Handem recorda que toda a Função Pública se depara com esta situação de salários em atraso. "Não se trata somente dos órgãos de comunicação social públicos, mas é [toda] a Função Pública que se encontra numa situação de três meses de salários em atraso."
Intimidações
Também em Bissau, o Tribunal agendou para o próximo mês de março o julgamento dos jornalistas do jornal "Donos da Bola", envolvidos numa polémica com o Procurador-Geral da República, Abdu Mané, e o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Paulo Sanha. Em causa está a publicação de uma notícia com o título " Abdu Mane e Paulo Sanha pretendem afastar José Mário Vaz (JOMAV) da política."
José Mário Vaz, antigo ministro das Finanças no Governo de Carlos Gomes Júnior, foi apontado pela Justiça guineense como suspeito no desvio de apoio orçamental cedido por Angola ao Estado guineense.
Em conferência de imprensa em Bissau, Pedro Lucas, diretor de informação do semanário, denunciou que os seus jornalistas estão a ser alvo de perseguição e de intimidações por parte dos detentores do poder, para os silenciar.
Segundo Lucas, os jornalistas estão a ser obrigados a revelar fontes citadas no artigo em causa. Nenhum advogado quereria ficar com o caso, alegando que são duas figuras de proa da Justiça guineense. Pedro Lucas vai mais longe nas críticas e questiona também por que razão ainda não houve um julgamento do "caso sírios", em que o ministro do Interior, Suka Ntchama, teria sido um papel central.
Tanto o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça como o Procurador-Geral da Republica prometem falar do assunto só depois do julgamento marcado para o dia 17 de março.
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