Bamako – O realizador maliano Souleymane Cissé, uma das figuras marcantes da história do cinema africano, faleceu esta quarta-feira, 19 de Fevereiro, em Bamaco, aos 84 anos. Souleymane Cissé fica associado a uma obra cinematográfica inovadora e engajada, marcada pela resistência à censura e ao autoritarismo político.
Souleymane Cissé nasceu em 1940 no Mali, numa família muçulmana. Desde cedo foi atraído pelo cinema, acompanhando o irmão em projecções. Em 1961 a sua paixão transforma-se em vocação, depois de assistir a um documentário sobre o assassínio de Patrice Lumumba, o líder político da República Democrática do Congo. Um momento que o marcou e impulsionou a construir uma carreira cinematográfica.
Depois de ter passado na União Soviética, onde estudou na Escola Nacional de Cinema de Moscovo, Souleymane Cissé voltou para o Mali com um diploma e com vontade de retratar a sua realidade através do cinema. O seu primeiro filme, La Jeune Fille (1975), é um retrato das dificuldades enfrentadas pelas mulheres malianas, abordando a história trágica de uma jovem rejeitada pela sua família após ser violada. Este filme, banido durante três anos, marca o início de uma carreira de resistência à censura e ao autoritarismo político.
Em 1987, Souleymane Cissé alcançou a sua consagração internacional com Yeelen (A Luz), tornando-se um marco na história do cinema africano. O filme mistura espiritualidade, mitologia e tradição, conquistou o Prémio do Júri no Festival de Cannes, fazendo com que Souleymane Cissé se tornasse no primeiro realizador subsaariano a ser premiado na competição francesa.
Em 2023, o realizador voltou a ser aclamado e recebeu o Carrossel de Ouro na Quinzaine des Réalisateurs do Festival de Cannes, uma das distinções mais importantes da cinematografia mundial. Souleymane Cissé dedicou a sua carreira à luta pela visibilidade do cinema africano, defendendo a importância da memória histórica e cultural no continente, e promovendo a formação de novos realizadores.
Para Souleymane Cissé, mais do que fazer cinema era contar histórias: uma forma de abrir horizontes, de falar dos desafios e das belezas do continente, e lutar contra as desigualdades que marcam a realidade do continente.
Por: Lígia ANJOS
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