quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Educação : FRENAPROFE DEFENDE HARMONIZAÇÃO DE CONTEÚDOS CURRICULARES

O presidente da Frente Nacional dos Professores (FRENAPROFE), Sene Djassi, defendeu que é urgente trabalhar na harmonização de conteúdos ensinados nas escolas e priorizar a educação como vetor de desenvolvimento.

“Não é possível continuarmos nesse dilema de, numa escola, os professores da mesma disciplina, terem matérias diferentes por falta de harmonização de conteúdos”, insistiu.

Sene Djassi, que falava em entrevista à Rádio Popular por ocasião do Dia Nacional dos Professores guineense e da situação global do setor do ensino do país, revelou que na escola São José, uma instituição de ensino privada, os conteúdos são harmonizados, porque “produziu o seus manuais próprios para os alunos daquele estabelecimento de ensino”.

“O Estado, que tem melhores condições que uma escola privada, não consegue fazer nada. Podia tê-lo feito, através da INACEP. São exigências atuais que o mundo atual nos impõe, de maneira que é necessário o governo criar as condições para melhorar a situação do ensino nacional, caso contrário os estudantes guineenses vão continuar a perder oportunidades em detrimento dos nossos irmãos da sub-região”, lamentou.

QUANDO UM PAÍS TEM GOVERNANTES QUE NÃO COMPREENDEM O VALOR DA ESCOLA MATAM ESTE SETOR

O presidente da Frente Nacional dos Professores (FRENAPROFE), Sene Djassi, disse que quando um país dispõe de governantes que não compreendem a essência de governação, relegam para terceiros planos setores chave como a educação e a saúde.

“São dois setores sociais fundamentais e primordiais para o desenvolvimento de qualquer nação. Prova disso, fazem recorrentemente a colocação dos professores aos três meses para o encerramento do ano letivo”, criticou e sublinhou que, de acordo com a regra, a colocação dos professores deve ser feita antes do início do ano letivo, mas a partir de 2020 até data presente a colocação dos docentes “tem sido feita a meio do ano escolar e isso demostra que as pessoas não valorizam o ensino no país”.

Sene Djassi defendeu que qualquer governante deve compreender que a educação é uma prioridade, razão pela qual durante a luta de libertação foram divididas as responsabilidade em duas vertentes, a uns foram dadas armas na mão e outros pegaram no giz para ensinar na escola, porque “Amílcar Cabral sabia que depois da independência, o país entraria num desafio que é a construção da nação e essa construção requer conhecimento, através da escola por isso os dois processos foram desencadeados durante a luta”.

“A data de 17 de fevereiro foi instituída para homenagear o professor Aureolino Cruz e em particular todos os professores guineenses no sentido de encorajar-lhes, porque não existe nenhuma atividade ou profissão no mundo que seja igual a do professor. Para ser médico, jornalista, deve-se passar na carteira para receber instruções de um professor. Quem faz esse trabalho é considerado uma pessoa especial no mundo, razão pela qual cada país escolhe o dia dos professores para encorajar e valorizar as pessoas que trabalham nessa área”, enfatizou.

Sene Djassi advertiu que o governo deve priorizar a educação, criar as condições mínimas, nomeadamente salário condigno que pode atrair um professor, para evitar fuga de docentes para o estrangeiro, construir escolas de qualidade com materiais adequados para que a Guiné-Bissau possa ter um ensino almejado por Amílcar Cabral e os seus colegas que deram as suas vidas para a libertação do país.

Defendeu que é preciso ter coragem de questionar se a defesa e segurança são setores mais importantes no tecido social do país do que a educação e a saúde, porque sistematicamente faz-se recrutamentos de militares e polícias e deixam as crianças nas salas de aula sem professores!

Segundo o sindicalista, as informações que a organização tem do Ministério da Educação Nacional, Ensino Superior e Investigação Científica é que neste momento o país precisa de 5 mil professores e o Ministério da Saúde Pública necessita de 1776 técnicos para fazer cobro às demandas da população, mas o governo prefere fazer recrutamento de agentes de defesa e segurança.

“Será que este era o espírito dos antigos combatentes da liberdade da pátria para libertar o país e ver a população a sofrer desde a independência até data presente? Alunos estão nas regiões e no centro de cidade sem professores, mas mesmo um significativo de professores que terminaram cursos na escola de formação Tchico Té estão sentados em casa sem trabalho. Ao invés de recrutar docentes para ensinar pessoas a ciência para que possam salvar vidas e pensar o país rumo ao desenvolvimento, o executivo prefere recrutar militares e polícias. É preciso pensar no país e na competitividade que o mundo está a viver neste momento, através das novas tecnologias e tudo isso se aprende na escola”, alertou.

FRENAPROFE ALERTA QUE MUITOS PROFESSORES VÃO FICAR FORA DO SISTEMA POR MÁ GOVERNAÇÃO DO PAÍS

Djassi alertou que um número significativo dos professores poderá ficar fora do sistema educativo neste ano letivo, porque muitos alunos refugiaram para as escolas privadas, devido ao fracasso originado pelas sucessivas greves e a má governação. O sindicalista adiantou que a organização que lidera fez chamada de atenção ao governo há vários anos para acabar com o regime de autogestão nas escolas públicas, para permitir que todas as crianças tenham acesso ao ensino, sem pagar nada do primeiro ao sexto ano, mas “com a situação de autogestão os pais e encarregados de educação são obrigados a pagarem para que os seus filhos possam aprender, caso contrário ficarão fora do sistema escolar e aumentar cada vez o número de analfabetismo no país”.

“Em nenhum momento na história da educação guineense foi possível encontrar algumas turmas nas escolas de referência como Liceu Nacional Kwameh Nkrumah, Agostinho Neto, Rui Barcelos Cunha e Samora Moisés Machel e encontrar portas encerradas por falta de alunos, porque pais e encarregados de educação decidiram levar os seus filhos para escolas privadas, devido à falta de condições em termos de infraestruturas escolares, sucessivas greves originadas por falta de interesse do executivo”, acusou.

Para Sene Djassi, grande parte das escolas privadas não são verdadeiras, em termos de cumprimento das normas e rigorosidade em termos de ensinamento de conteúdos para melhor aprendizagem, organização, conteúdos, salas de aulas e recrutamentos dos professores.

“Têm uma componente comercial e pensam mais em dinheiro. Funcionam como estabelecimentos comerciais para ganhar lucros, contudo existem algumas escolas privadas com melhores qualidades em termos de ensino, começando pelo ensino primário, secundário e ao superior. O Estado não criou condições para que a inspeção funcionasse como deve ser, porque também para controlar as escolas públicas que gere”, afirmou.

O responsável da FRENAPROFE, criticou o fato de o governo ter decidido fazer recrutamento de professores (pessoas de outras áreas do saber) que não têm a componente pedagógica, porque “ser professor não é para quem quer, é para quem pode e tem qualidades na área pedagógica”.

“Infelizmente, na Guiné-Bissau as coisas funcionam ao contrário, deixaram os professores formados na área em casa e recrutaram aqueles que não têm nada a ver com docência. A profissão de professorado não permite aos aventureiros terem o acesso, devido a sua importância na sociedade. Se tiver um jornalista, um médico, um advogado que não tem nível de escolaridade, acaba por intoxicar e matar pessoas de maneira que é preciso colocar pessoas certas na educação para salvar a sociedade e o país em geral”, sublinhou.

Questionado sobre para quando as organizações sindicais que se congregam na Frente Social vão baixar as tréguas, em termos de reivindicações e suspender as paralisações no setor da educação e da saúde, Sene Djassi disse que fazer greve num estado de direito democrático não é um crime e nem é um pecado.

“É uma forma de o conselho de chamada de atenção para quem não quer cumprir a sua obrigação. As reivindicações não se resumem apenas ao capítulo de pagamento de salários. Estamos a falar também da qualidade do sistema educativo e de saúde, atualizar e harmonizar o currículo para que os alunos possam estudar”, defendeu.

Por: Aguinaldo Ampa
Conosaba/odemocratagb

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