terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Estados Unidos e a Rússia reuniram-se em Riade, na Arábia Saudita

Os altos funcionários dos EUA e da Rússia presentes em Riade, na Arábia Saudita, a 18 de Fevereiro © AP Photo

Neste 18 de fevereiro de 2025, em Riade, os responsáveis americanos e russos estavam reunidos para reavivar as suas relações, que estavam num impasse com a administração Biden. A reunião é um prelúdio para uma possível cimeira entre Donald Trump e Vladimir Putin, o que suscita preocupações em Kiev e na Europa de que Washington e Moscovo se estaria a aproximar sem os consultar.

Autoridades americanas e russas reúniram-se nesta terça-feira em Riade, na Arábia Saudita, para abordar, nomeadamente, a guerra na Ucrânia. Inicialmente, Washington indicou que esta cimeira serviria para analisar a “seriedade” da diplomacia russa no seu desejo de encontrar uma solução duradoura para a paz entre a Ucrânia e a Rússia. O Secretário de Estado Marco Rubio disse estar “convencido” de que a Rússia se quer envolver num “processo sério” para pôr fim à guerra na Ucrânia. O Conselheiro de Segurança Nacional do Presidente dos EUA, Mike Waltz, afirmou à imprensa que “tem de ser um fim permanente para a guerra, não um fim temporário, como vimos no passado”.

Em entrevista à RFI, Marcos Freitas Ferreira, professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa indica que a Russia já não é considerada adversária dos Estados Unidos.

“ O acordo entre Estados Unidos e a Rússia passa certamente pela imposição das condições da Rússia, do Kremlin. Portanto, quando nós falamos de paz, falamos sobretudo no estabelecimento de novas regras de relacionamento, novos equilíbrios de poderes. E a conclusão é a Europa, neste momento, parece inútil, parece secundarizada na chegada. A solução para estes problemas e, portanto, vai ser o "tomador" de soluções em vez de ser um actor interveniente na resolução desses conflitos. É, como dizia Henry Kissinger, os Estados Unidos não tem amigos nem inimigos permanentes. Têm interesses. E esta guinada na política externa dos Estados Unidos, com Trump, mostra perfeitamente que, para Trump, a Rússia não é um inimigo. A Rússia é um colaborador no estabelecimento de uma ordem internacional. O verdadeiro competidor está na China e no meio disto, os dirigentes europeus foram apanhados em contrapé.”

O Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que estava “pronto” para negociar com Zelensky “se necessário”, de acordo com o seu gabinete. Dimitri Peskov, porta-voz da presidência, reconheceu o “direito soberano” da Ucrânia em aderir economicamente à União Europeia (UE), mas manteve a sua oposição à adesão do país à Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma vez que a posição da Rússia em relação à Ucrânia é diferente no que diz respeito às “questões de segurança ligadas à defesa ou às alianças militares”. O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, indicou que outros beligerantes terão de se sentar à mesa das negociações : “Há outras partes que impuseram sanções (à Rússia), a União Europeia terá de se sentar à mesa a dada altura”.

Por seu lado, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, manifestou o seu repúdio por qualquer acordo alcançado sem a sua presença, “não sabia nada das negociações que estavam a decorrer em Riade“. O Presidente ucraniano denunciou, no entanto, a reunião : “Estão a decorrer negociações (...) entre representantes russos e americanos. Mais uma vez, sobre a Ucrânia e sem a Ucrânia”. Em visita a Ancara, a capital turca, o chefe de Estado ucraniano concluiu apelando a que todos os actores do conflito participem nas negociações : “A Ucrânia, a Europa no sentido mais lato - que inclui a União Europeia, a Turquia e o Reino Unido - devem participar nas discussões e na elaboração das garantias de segurança necessárias com a América relativamente ao destino da nossa parte do mundo”.

A União Europeia e a NATO não foram incluídas nestas discussões, que serão coordenadas pelo príncipe herdeiro saudita Mohamed Ben Salmane. Esta situação está a preocupar os líderes europeus, que organizaram ontem uma reunião em Paris, sob a égide do Presidente Emanuel Macron, sem porém qualquer declaração conjunta.

Segundo Marcos Farias Ferreira, os líderes europeus são os principais responsáveis por este impasse :

“Esses dirigentes europeus fazem parte de uma geração que empenhou toda a sua credibilidade política numa estratégia militar na guerra da Ucrânia. Essa estratégia falhou completamente. Mas também falhou qualquer estratégia que não tiveram para manter algumas pontes diplomáticas que lhes permitissem ter uma palavra a dizer no momento em que chegasse a paz e no momento em que negociações formais começassem a ser realizadas, como parece que é agora o caso, e portanto, esta geração de dirigentes empenhou a sua credibilidade. Apostou tudo numa estratégia militar falhada que era óbvio que iria falhar. Perdeu a guerra e agora quer ter uma palavra a dizer nas negociações da paz. Ora, a história não funciona assim. Quando nós queremos preparar a paz, normalmente não é uma boa ideia apostar tudo na guerra e na estratégia militar. Tem, de um lado, Putin, do outro lado, Trump, que desprezam profundamente estes dirigentes europeus porque os vêem fracos, porque os vêem perdedores, numa estratégia que chegou a um beco sem saída.”

A próxima etapa do processo entre os Estados Unidos e a Rússia será a nomeação de vários responsáveis pelas negociações dos dois países.

Por: Rodolphe de Oliveira
Conosaba/.rfi.fr/p

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