segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Guiné-Bissau: desconfiança em torno da calendarização da visita da CEDEAO

O líder da coligação PAI–Terra Ranka, Domingos Simões Pereira. LUSA - ANDRÉ KOSTERS

O líder do PAI-Terra Ranka Domingos Simões Pereira, considera desconcertante a calendarização da visita da CEDEAO a Bissau. De acordo com um membro da delegação da organização, o "objectivo principal" da missão é a fixação de uma data para as eleições presidenciais.

Está marcada a deslocação a Bissau, de 23 a 28 de Fevereiro, uma delegação política "de alto nível" da Cedeao para a resolução do contencioso à volta da data das eleições presidenciais.

Uma calendarização que Domingos Simões Pereira considera "estranha", já que uma outra missão da organização tinha anteriormente sido programada e nunca chegou a concretizar-se, como afirma. De modo que, realça o líder político, esta deslocação coincide, de acordo com a Constituição, com o fim do mandato presidencial de Umaro Sissoco Embaló.

"Eu penso que o que torna a missão algo estranha é o timing. A missão está em standby há mais de dois meses. Quando agora se vem concretizar, falta praticamente dez dias para o fim do mandato. A questão que de facto todo mundo coloca é: que tipo de missão é esta? Que tipo de objectivos é que a missão tem? Será que continua com o propósito de facilitar o diálogo entre as partes? Será que é outra intenção?", questiona Domingos Simões Pereira.

Objectivo principal da CEDEAO é "fixar uma data para as eleições"

Entrevistado pela RFI, um dos oito altos responsáveis da Cedeao esperado em Bissau, o chefe de divisão da Assistência Eleitoral, Serigne Mamadou Ka, assegurou que o objectivo do encontro, será, a fixação de uma data para as eleições presidenciais.

"Claro, o nosso objectivo principal é ajudar os actores políticos na Guiné-Bissau a alcançar um consenso à volta da data das eleições presidenciais. Esperamos encontrar uma data consensual. Qual será ? Isso não sei !", avançou o membro da delegação.

De acordo com o diplomata, a deslocação foi organizada durante a Conferência dos Chefes de Estado da CEDEAO, no passado dia 15 de Dezembro. "Não se trata de uma decisão da Comissão mas sim da Conferência dos Chefes de Estado. A 15 de Dezembro, foi decidida a deslocação de uma missão de alto nível político para ajudar os bissau-guineenses a alcançar um consenso sobre o processo eleitoral", explicou.

A organização regional foi várias vezes criticada pela sociedade civil pela sua "inacção" em torno da situação política na Guiné-Bissau. Uma inércia apenas em aparência, segundo Serigne Mamadou Ka, que evoca as negociações políticas que a organização mantém nos bastidores.

"É preciso dizer que a CEDEAO também trabalha nos bastidores. Fazemos diplomacia preventiva, encontros em visio-conferência. Agora chegámos a um ponto em que precisamos de ir ao encontro dos vários actores para alcançar uma solução a esta crise", nota.

A deslocação da organização regional decorre entre os dias 23 a 28 de Fevereiro, sendo que uma eventual decisão sobre a data das eleições surgirá apenas no fim da missão.

Para a oposição política e parte da sociedade civil, o mandato presidencial de Umaro Sissoco Embaló termina a 27 de Fevereiro. De acordo com o presidente da República, o mandato termina apenas em Setembro.
Especulações à volta de uma carta alegadamente assinada por contestários do PAIGC

Uma carta foi publicada na semana passada, alegadamente assinada por uma dezena de membros contestatários do PAIGC, partido liderado por Domingos Simões Pereira.

Na carta, os membros do partido dessolidarizam-se com as declarações do político, segundo as quais está "pronto para assumir a presidência interina" do país a partir de dia 28 de Fevereiro.

No entanto, uns dias depois, dois signatários da carta negaram tê-la assinado, supondo uma alegada falsificação.

"Quando elementos citados na carta vêm publicamente dizer que não tinham conhecimento e que as suas assinaturas foram forjadas... Penso que daí quem quiser compreender a validade ou não da carta tem elementos suficientes para fazer a sua conclusão", aponta Domingos Simões Pereira.

Para o líder político, "a única coisa que deve ser considerada curiosa é que esta tal facção que se afirma contrária ao presidente do PAIGC e à actual direcção do PAIGC, coincidentemente é constituída sobretudo por elementos que integram o actual Governo e que o fizeram à revelia da própria indicação do Partido".

Conosaba/rfi.fr/pt

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