segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Fim do mandato: BRAIMA CAMARÁ ALERTA QUE O PAÍS ESTÁ PERANTE UMA CRISE POLÍTICA E INSTITUCIONAL “FORTE E GRAVE”

O Coordenador de uma das alas do Movimento para a Alternância Democrática, Braima Camará, alertou que a Guiné-Bissau está perante uma crise política e institucional “forte” e “grave”, tendo afirmado que, perante esta situação, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, não está em posição de tomar uma decisão, ele sozinho, de convocar as eleições na ausência de um diálogo político sério e institucional.

Braima Camará, que falava na quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025, num encontro de solidariedade com Baciro Djá, presidente em exercício da Aliança Patriótica Inclusiva API-Cabas Garandi, depois de algum tempo fora de Bissau a cumprir alguns rituais tradicionais e religiosos, depois da morte da sua mãe, reconheceu que o país está perante “uma crise político-institucional grave”, que “não requer confrontos para encontrar soluções”.

“O povo é um detentor do poder, é soberano. Neste momento o Presidente da República [ele sozinho] não tem condições para tomar uma decisão de convocar eleições na ausência de um diálogo político sério e institucional. Isto interpela-nos todos, enquanto filhos da Guiné-Bissau, e atores políticos. Ninguém nos obrigou a vir para a política. Estamos sim, na política porque temos a convicção de que estamos à altura de dar uma contribuição séria e responsável, no quadro de um diálogo sério, catalisador, mobilizador, responsável e institucional. É bom que fique claro que estamos perante uma crise política e institucional forte e grave, que não requer confrontos para chegarmos a consensos”, indicou.

O coordenador do MADEM-G15 disse que é possível encontrar soluções à crise vigente no país, desde que os atores políticos aceitem sentar-se à mesa para dialogar e marcar uma data consensual para a realização de eleições na Guiné-Bissau, bem como criar um governo que terá a responsabilidade organizar as eleições, integrando todas forças vivas do país.

“Um governo que integre a Sociedade Civil e os atores políticos para gerir apenas, de forma autónoma, o país até à realização de eleições”, sugeriu e disse que se o país entrou numa via de derrapagem e de confrontos os atores políticos não podiam ficar indiferentes perante estes fatos, razão pela qual os líderes da API-Cabas Garandi, têm trabalhado desde as primeiras horas na busca de soluções e que é chegado o momento de cada político assumir a sua responsabilidade diante do povo e do país e respeitar os direitos de outrém.

“Passei 57 dias no interior depois da morte da minha mãe e não preciso que alguém me conte o que está lá. O país tem desafios enormes, porque tem zonas que, se te disserem que alguém vive aqui, custar-te-á acreditar. É preciso que haja paz e estabilidade para que o desenvolvimento chegue a todas as zonas da Guiné-Bissau, através de um diálogo político, sério, forte, inclusivo e institucional, não através de confrontos e guerras políticas”, defendeu o político.

LÍDER DA FREPASNA PEDE AO PR QUE ENCONTRE UMA SOLUÇÃO POLÍTICA À CRISE POLÍTICA
Por sua vez, Baciro Djá, líder da FREPASNA e presidente em exercício da Aliança Patriótica Inclusiva, desafiou o chefe de Estado guineense a procurar consensos entre os atores políticos para encontrar uma saída política à crise instalada na Guiné-Bissau, desde a queda do governo e a dissolução do Parlamento em 2023.

Baciro Djá criticou a postura do Supremo Tribunal de Justiça manifestada na última decisão que determinou que o mando do Presidente Sissoco Embaló termina a 4 de setembro e disse que uma pessoa não pode, por mero capricho ou interesses pessoais, colocar em causa todas as conquistas do povo, através de uma decisão judicial artificial, defendendo o envolvimento de todos, nomeadamente a classe política, os militares, a sociedade civil a encontrarem soluções consentâneas.

O presidente da FREPASNA condenou os discursos fundamentados no incitamento ao ódio ou com pendores étnicos e religiosos e disse que a API se mantém firme e determinada e que nenhum dos líderes desta Aliança será comprado, porque ninguém está à venda.

“Um político é aquele que sabe reconhecer os seus. Não quero ouvir, quando tivermos que julgar Umaro Sissoco Embaló, julgá-lo como um fula, não. As pessoas cometeram um erro quando queriam julgar o falecido Presidente Kumba Ialá como um balanta. Kumba era Kumba, não representava os balantas. Umaro Sissoco Embaló é Umaro Sissoco Embaló, também não representa os fulas”, frisou.

Baciro Djá disse que a crise que se vive no país apenas pode ser resolvida politicamente e disse que não era necessário que o país chegasse a esse nível de crise, uma vez que a API-Cabas Garandi, havia apresentado propostas concretas, através de um diálogo franco, sério e responsável como o chefe de Estado, Umaro Sissoco Embaló, mas tudo foi ignorado pelas atuais autoridades e pelo poder instalado na Guiné-Bissau.

“API tinha alertado que se a Guiné-Bissau não fizesse eleições presidenciais três meses antes do fim do mandato do atual Presidente, o país estaria numa situação de golpe de Estado ou um Estado não governado. O que vemos hoje é o sinal da nossa chamada de atenção. Haviam todos os mecanismos para evitar o que se passa hoje no país. O machismo tem preço e quem quiser vender o seu machismo, encontrará pessoas dispostas a comprá-lo a preço que quer. Vimos vários exemplos disso, as pessoas venderam-se, mostraram o machismo até a níveis assustadores e tiveram clientes, mas nós da API não somos violentos”, disse Baciro Djá.

“SE O PRESIDENTE NÃO TIVESSE O APOIO DE BRAIMA CAMARÁ NÃO TERIA CHEGADO À PRESIDÊNCIA” – BACIRO DJÁ

Defendeu uma cultura de diálogo interno, lembrando que se Sissoco Embaló não tivesse o apoio de Braima Camará e de outras figuras da atual API-Cabas Garandi, não teria chegado à Presidência da República e se está no fim do seu mandato deve respeitar a legalidade e todas as disposições constitucionais, porque “se forçar a barra, ficará sozinho neste jogo de diabos que estão a seu redor, por isso numa determinada altura chamei-os de vampiros políticos”.

“Se insistir em marcar eleições sem uma data consensual responsável, com todos os atores políticos para encontrar uma saída política, será uma data inválida porque o seu mandato terminou. Se alega que a data de 27 não é contável no exercício das suas funções como Presidente da República, significa que poderá vir a ser julgado por todos atos por ele praticados durante este período. Uma saída política seria salutar, porque os delitos administrativos e alguns jurídicos não prescrevem. Até aos 90 anos poderá ser julgado, por usurpação de poder e de competências, se não reconhecer 27 de fevereiro”, alertou.

Baciro Djá disse que o setor da justiça foi banalizado e que algumas vezes, enquanto políticos e democratas, foram obrigados a aceitar algumas decisões judiciais que numa situação normal não aceitariam, mas nunca aceitarão uma decisão judicial encomendada.

“Quando a lei já não consegue regular o comportamento humano e a moral está acima da lei, não existe lei nem tribunais. Por isso não queremos banalizar a essência do Estado, porque este Estado que hoje temos custou-nos muita coisa e sacrifício dos nossos pais e das nossas mães. A consolidação de Estado na Guiné-Bissau não teve o mesmo formato que muitos países que conseguiram a sua independência nos gabinetes. Nós conseguimos a nossa independência com armas e vidas depessoas e nenhuma pessoa não pode, por meio de um papel, colocar em causa todas as conquistas do Estado e deste povo, um povo que passou pela colonização, escravatura, ditadura de um partido único. Tudo isso está a ser posto em causa por uma pessoa que acredito não terconsciência de fazer parte desta sociedade”, criticou Djá.

O atual presidente em exercício da Aliança Patriótica Inclusiva denunciou que se a oposição tivesse avançado com determinação com a ideia de realizar manifestações no país, teria havido “um banho de sangue” no país, alertando que o Senegal e a Guiné-Bissau não estão no mesmo patamar de desenvolvimento social, económico e político.

“No Senegal nos primeiros momentos, houve repressão contra os manifestantes e passado algum tempo, as forças policiais e militares perderam o controlo da situação, porque quem tem o poder é o povo e os polícias e os militares tiveram filhos e parentes nessas manifestações. Na Guiné, não queríamos que as mortes registadas no Senegal acontecessem aqui. Não somos violentos”, enfatizou, para de seguida apelar às Forças Armadas, à sociedade civil, aos políticos, operadores económicos para todos em conjunto encontrarem soluções à crise que o país vive desde 2023.

Por: Filomeno Sambú
Conosaba/odemocratagb.

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