O arrepiante último adeus a Pinto da Costa
Vários ilustres passaram pela Igreja da Antas. Derradeira homenagem aconteceu em pleno relvado do Estádio do Dragão, um momento marcante
O último adeus a Jorge Nuno Pinto da Costa, o «Presidente dos Presidentes», fez da Igreja das Antas, no Porto, um ponto de encontro de muitos ilustres do desporto português, e não só, que se despediram de uma figura incontornável da história do FC Porto, clube que transformou, nas últimas quatro décadas, numa referência à escala global.
Do antigo Presidente da República, Ramalho Eanes, ao atual Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, que recordou Pinto da Costa como «não apenas um homem do futebol, mas de todos os desportos», a vida do presidente honorário do FC Porto foi sendo recordada em testemunhos, muitos deles, emocionados.
João Pinto, que em 1987 levantou a Taça dos Campeões Europeus em Viena, lembrou «uma pessoa que queria ganhar nem que fosse a feijões», um lema que foi levado tão à risca que rendeu ao clube 2.591 troféus ao longo dos 42 anos que passou na presidência.
Outras figuras desse trajeto ímpar, como Domingos Paciência e Deco, lamentaram «um dia triste para o FC Porto», lembrando o impacto que Pinto da Costa teve nas suas vidas. Tal como Paulo Futre, que falou da saudade de alguém que «foi mais do que um pai» e por quem pediu a devida homenagem também a Benfica e Sporting, que continuam em silêncio após o falecimento do dirigente, no último sábado.
«Quando morreu o presidente do Atlético (de Madrid), Gil y Gil, estavam na igreja os presidentes do Real Madrid e do Barcelona. Não entendo (a não reação de Sporting e Benfica), mas respeito», desabafou Futre, com Rodolfo Reis, que passou toda a sua carreira no clube portista, a dizer-se «magoadíssimo com Benfica e Sporting».
Houve, ainda assim, quem tenha sabido separar a rivalidade do reconhecimento devido a um dirigente que granjeou admiração, inclusive, além-fronteiras. Foram os casos de Pedro Santana Lopes, antigo presidente do Sporting, que recordou «grandes lutas, mas uma grande amizade», e de António Salvador, presidente do Sp. Braga, para quem «Pinto da Costa foi um defensor do Norte e do clube que amava».
Recém-eleito presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Pedro Proença evitou a polémica, preferindo recordar «um presidente que marcou os últimos 42 anos da história do FC Porto». Ideia que foi amplificada pelo empresário, Jorge Mendes, para quem se «perdeu o melhor presidente da história do futebol mundial».
«Abraçados» por uma multidão de adeptos que rodeavam a Igreja das Antas, os atletas das várias equipas do FC Porto, bem como diversas figuras do passado do clube como Sérgio Conceição, Pepe, Ricardo Quaresma ou João Moutinho, prestaram a sua homenagem a Pinto da Costa antes do início da missa presidida por Manuel Linda, bispo do Porto, enquanto Américo Aguiar, cardeal patriarca de Lisboa, fez a homilia.
A cerimónia, que se iniciou às 11:03, prolongou-se por uma hora. Seguiu-se o cortejo rumo ao Estádio do Dragão, autorizado pela família de Pinto da Costa à última hora, onde a urna foi colocada no centro do relvado, ladeada por alguns dos troféus conquistados nos últimos 42 anos sob o aplauso, os cânticos e as lágrimas dos largos milhares de adeptos presentes nas bancadas.
Em coro, o estádio entoou o hino do FC Porto, pela última vez na companhia do presidente que encheu o clube de alma nas últimas décadas. Segundos depois, Lisboa «tremia» com um sismo, uma daquelas coincidências que continua a escapar à lógica da ciência.
Dali avançou-se até à última paragem, o cemitério Prado do Repouso, no Bonfim, onde o corpo de Pinto da Costa foi cremado. Fica a história de quem deu mais Porto ao Porto. Pintada em tons de azul. Para a eternidade.
cnnportugal.iol.pt
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