Prefiro falar da agricultura!
Em Bissau, por razões óbvias, observámos uma semana intensa, sob ponto de vista de debate relacionado ao pão-nosso de cada dia. O nosso bem primário. A base da dieta da maioria da população guineense, na sequência da medida que o governo tomou de redução do preço ao consumidor.
Ora, o que chamou à atenção de quem acompanha a evolução do mercado nacional, em termos de abastecimento de bens essenciais, um pouco por todo o país, visando suprir a segurança e soberania alimentar, penso que o pano de fundo ou a razão fundamental dessa “CRISE”, seja ela fictícia ou não, tem que ver com a nossa dependência de uma mão-de-obra “alheia”,em grande medida, no que respeita à – produção – armazenamento – comercialização – distribuição de bens essenciais i.e., arroz, farinho trigo, açúcar, óleo e, não menos importante, o famoso PÃO.
Todavia, os menos atentos são induzidos a atribuir a culpa pela fraca campanha de comercialização de Caju (2023) aos FATORES EXÓGENOS; aos CHOQUES EXTERNOS; à redução do Preço Internacional, a pandemia de Covid-19, a Guerra na Europa, etc que impactam a economia doméstica e, em consequência, vai produzindo efeitos no preço de base dos produtos ora mencionados.
Em minha perspetiva, todas as eventuais “responsabilizações” ou “atribuições” de culpas à terceiros são sintomas de “DESCULPAS DO MAU PAGADOR”, pois andámos dependentes dos outros desde (1980), ao ponto de entregarmos a nossa barriga à conta do outrem. Por desleixo, por maldade, por comodismo, por sermos “amontons” e muito mais preocupados com esquemas e politiquices.
Se não vejamos, os indicadores apontam razões de outras naturezas associadas, fundamentalmente, ao DÉFICE crónico da nossa Balança Comercial, com repercussões ao nível de Importação e/ou Exportação de bens primários (alimentares).
· Importação de Arroz – Guiné-Bissau importa anualmente cerca de 150 mil toneladas de Arroz.
· Importação de Frango – Guiné-Bissau importa anualmente cerca de 5 mil toneladas de frangos e derivados.
Quando no ano 2022, no âmbito do Programa de Investimento Público (PIP) – o Governo da Guiné-Bissau, no que se refere à dotação orçamental, subscreveu cerca de 1 030 000 000 F CFA (Mil milhões e trinta milhões de F CFA) para todo o Setor Agrícola, em títulos públicos que andam, muita das vezes, adormecidos e/ou engavetados, abrangendo todos os subsetores desde Agricultura; Floresta e Pecuária, sob tutela do Ministério da Agricultura.
Este crónico (desinvestimento) no setor agrícola, em especial, e no setor real (produtivo) da economia, em geral, ao longo dos últimos 43 anos, a) prejudicou sobremaneira o nosso Consumo Interno; b) reduziu a capacidade de Poupança das Famílias guineenses, tanto em qualidade, bem como em quantidade, não obstante as potencialidades várias de que dispõe a nossa terra, que é sobejamente conhecida por todos, paradoxalmente.
A título de exemplo, trata-se de um país que, em 2023, POSSUI apenas 44 tratores para a produção agrícola, dos quais apenas 28 tratores estão operacionais. Investimento muito aquém da demanda dos produtores agrícolas. Mas, entretanto, temos apregoado e manifestado a “retórica estratégica” pela mecanização agrícola. O nosso país dispõe de cerca de 14 mil milhões de m3 de água, que anualmente são “despojadas” no oceano, atendendo à nossa fraca capacidade de retenção e de aproveitamento desse líquido precioso para desenvolver sistema de irrigação agrícola; a Guiné tão-somente dispõe de 1 100 000 h de terras aráveis.
Em suma, perante os factos, torna-se redutor limitar o nosso debate à questão de PÃES, até porque se cuidássemos do Setor Primário – Agricultura. O rumo seria outro, com certeza!
Apenas uma opinião,
Bissau, Setembro / 2023
Por: Santos Fernandes
Conosaba/odemocratagb
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