terça-feira, 26 de setembro de 2023

Crise de pão: PADEIROS EXIGEM A REDUÇÃO DE PREÇO DE FARINHA PARA VINTE MIL FCFA PARA RETOMAREM PRODUÇÃO DE PÃO

O conselheiro do presidente da Associação dos padeiros tradicionais, Adulai Baldé, afirmou que uma das saídas à crise de pão na Guiné-Bissau passa pela redução do atual preço de saco de farinha de 29.000 francos CFA para 20.000 francos por 50 kg, para que o pão passe a ser comercializado por preço de 150 fcfa anunciado pelo governo a 12 de setembro, depois da reunião do Conselho de Ministros.

A 12 de setembro, o executivo liderado por Geraldo João Martins aprovou, no âmbito do seu programa de emergência, o acordo de redução do preço de farinha, ao consumidor , para 24.600 francos CFA/ saco de 50 kg, com vigência a partir do dia 24 de setembro de 2023, bem como a redução do preço do pão, ao consumidor, para 150 francos CFA, com vigência a partir do dia 24 de setembro de 2023, mas antes da medida entrar em vigor os padeiros tradicionais suspenderam as atividades em todo o território nacional e, consequentemente, não há pão a venda.

“PARARMOS A PRODUÇÃO ANTES DE 24 DE SETEMBRO PARA NÃO ALIMENTAR A ESPERANÇA DAS POPULAÇÕES”

Em entrevista ao jornal O Democrata para esclarecer a suspensão das atividades dos panificadores tradicionais, Adulai Baldé, conselheiro do presidente da Associação dos Padeiros Tradicionais, disse que os associados propõem ao governo a redução de saco de farinha de 50 kg de 29.000 francos CFA para 20 000 francos CFA, como uma das exigências da associação.

“Se essa exigência da organização for atendida, vamos imperativamente cumprir a medida do governo. Vamos baixar o preço de pão para 150 francos CFA, manter o tamanho e criar uma equipa de fiscalização conjunta entre padeiros e o ministério do comércio”, assegurou.

Adulai Baldé disse que os membros da organização selecionados para representar a associação nas negociações com o governo não foram capazes de defender os interesses dos associados, por isso foram excluídos da comissão negocial e criada nova comissão para representá-los. Admitiu que há um clima de desconfiança entre o grupo e os associados e acusou-o de ter assinado o acordo com o governo sem consentimento dos associados, contudo disse que se a farinha for vendida a 19.000 ou 20.000 francos CFA, os padeiros tradicionais estão dispostos a descer o preço do produto de 200 francos CFA para 150 francos CFA.

O conselheiro do presidente da Associação dos Padeiros Tradicionais afirmou que os elementos do grupo que foram representar os padeiros não tinham legitimidade para decidir sem ter o aval da cúpula da organização, porque “não fazem parte do setor”, lembrando que tinham sido selecionados mediante uma decisão consensual, mas não para trair os padeiros.

“A nossa decisão de suspender as atividades de produção do pão não se trata de má fé. Trabalhamos para o bem-estar dos cidadãos, porque antes de tudo, somos consumidores e responsáveis de famílias. O presidente da associação sabe muito bem qual é a nossa posição. Decidimos parar as atividades antes do dia 24 de setembro porque não queríamos alimentar esperanças. Não se trata de boicote, nem de greve. Foi sim desentendimento dentro da organização e não podemos comprar a farinha a 24.600 francos CFA, porque será prejudicial para nós”, disse.

Adulai Baldé negou que os associados tenham recebido garantias de um dos importadores do produto de que pagaria a diferença se vendessem o pão a 150 francos CFA. Disse que cinco dos seis elementos indigitados para negociar em nome dos associados estão a ameaçar, em colaboração com o Ministério do Comércio, fechar os fornos dos padeiros que resistirem à decisão do executivo.

Baldé afirmou que a crise de pão também está a ser sentida nas regiões e avançou que o governo tinha sugerido 270 pães por saco de 50 kg de farinha, mas os padeiros flexibilizaram e tiveram que aumentar mais 20 para minimizar os prejuízos.

“Na tabela que produzimos, propomos ao governo a produção de 290 pães por saco com o capital de 37.850 francos CFA. A soma em bruto é de 36.250 francos CFA e temos como prejuízo 1.600 francos CFA, na compra de um saco de farinha por 25.000 francos CFA, lenha 2.500, Francos CFA, forno 2.000, fermenta 750 francos CFA, sal 250 francos CFA, açúcar 100 francos CFA, trabalhadores 4.500, pilha 250 e transportadores 2.500 francos CFA”, esclareceu.

O conselheiro disse que não está interessado em abrir guerra com as autoridades, mas pede que o governo acione mecanismo que não prejudiquem os padeiros, porque “não somos uma formação política. Estamos pelo bem-estar do povo”.

PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO: “A NÃO PRODUÇÃO DE PÃO DEVE-SE A FALTA DE FARINHA NO MERCADO”

O vice-presidente da associação de padeiros tradicional que participa e assinou o acordo com o governo para a redução do pão, explicou na entrevista por via telefónica que alguns de seus associados estão a ser influenciados pelos partidos políticos para não vender pão ao preço acordado com o governo.

“Este assunto não devia constituir uma polêmica, porque a redução de preços de alimentos no mercado nacional é uma iniciativa do governo da Guiné-Bissau que começou com arroz e depois seguiu-se para a farinha e em consequência fazer com o pão seja vendido ao preço de 150 fcfa” disse Mamadu Camará, justificando que a única razão da não produção do pão pelos seus associados se deve a falta de farinha no mercado e “não tem nada a ver com aquilo que se fala”.

Sobre a assinatura do acordo com o governo para a redução do preço do pão e sem consentimento de associados, Mamadu Camará assegurou que a comissão tem legitimidade da associação e foi representá-la na negociação, tendo afirmado que a direção não permitirá que nenhum membro da organização ponha em causa o acordo rubricado com o executivo.

“Não vamos permitir que nenhum grupinho desafie o Estado da Guiné-Bissau. Sabemos que este grupinho são gente que veio de fora, por isso não vamos permitir-lhes desafiar o governo” advertiu, afirmando ainda que continuam a representar a associação junto do governo.

Reagindo a falta de pão que se constata no mercado nacional depois de entrar em vigor o preço anunciado pelo executivo, o secretário executivo de ACOBES, Bambo Sanhá, repudiou o comportamento dos padeiros tradicionais que, segundo ele, estão a boicotar a decisão do governo de vender o pão a preço de 150 fcfa.

“Não é normal e muito menos ético um parceiro social assinar um acordo com o executivo para baixar o preço de um produto determinado e esperar até ao momento da sua execução, boicotar completamente as atividades de produção de pães sem fundamentos” criticou, para de seguida, exortar o governo que “não deve dar trégua a ninguém ou um determinado grupo que quer pôr em causa a sua decisão e deixar o povo guineense na miséria”.

Por: Filomeno Sambú/Assana Sambú
Conosaba/odemocratagb

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