sexta-feira, 8 de maio de 2020

PANDEMIA PROVOCOU "O MAIOR LIMIAR DE CONSCIÊNCIA DE QUE É POSSÍVEL MUDAR"

Será que a pandemia do novo coronavírus vai mudar o mundo? O sociólogo guineense Miguel de Barros considera que estamos perante “o maior limiar de consciência de que é possível mudar”. Como, quando e onde? O novo coronavírus criou cenários quase de distopia, mas os erros que a humanidade cometeu até hoje podem criar um novo modelo que não é uma utopia… Uma conversa de hoje sobre o ontem e o amanhã com Miguel de Barros.

Mais do que nunca, nós estamos perante o maior limiar de consciência de que é possível mudar para alavancar todo o entusiasmo que deve existir na alteração do panorama existente até agora”, acredita o sociólogo guineense Miguel de Barros.

A pandemia do novo coronavírus chegou por causa do “falhanço deste modelo económico e cultural, com a devastação da biodiversidade, a sobreprodução, a produção numa lógica de privatização de saberes e o lucro como elemento fundamental da vida”.
Agora, o aviso é claro: “Se nós não formos capazes de fazer a aprendizagem para mudar a lógica, nós não vamos ser capazes de ter um novo começo. Se isso não mudar, muito dificilmente nós vamos ser capazes de criar capacidade efectiva de transformação.
A transformação passa por contrariar “o modelo neoliberal, o modelo que coloca um conjunto de comunidades, saberes e territórios numa situação de confinamento de pobreza” apesar de serem detentoras de recursos que, no final, vão ter de comprar porque estes são transformados e comercializados por outros.
Eu não acredito que é uma dimensão meramente utópica. É uma dimensão realista porque as aprendizagens estão-nos a mostrar que este modelo esgotou, faliu”, justifica.
Para Miguel de Barros, “o novo começo” pode passar pelo “reequacionar a dívida pública ao desenvolvimento e reequacionar a organização e filosofia do sistema financeiro de especulação” no intuito de canalizar essas duas dimensões para mais “investimento no sector social e no sistema de protecção das pessoas”.
Depois, é preciso “um compromisso intergeracional para salvaguardar elementos de afectividade que permitam que os idosos não sejam vistos como elementos descartáveis e os mais novos como sem responsabilidade” porque “a dimensão da convivência humana é algo fundamental e o elemento charneiro desta nova fase que podemos vir a viver”.

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