O antropólogo guineense Hamadou Boiro defendeu hoje ter chegado a altura de os dirigentes africanos envolverem a medicina tradicional na busca de soluções para o novo coronavírus, com estudos laboratoriais das ervas utilizadas pela população
Investigador sénior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP) da Guiné-Bissau, consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a covid-19 e membro do comité científico guineense contra a doença, Hamadou Boiro disse à Lusa que África tem de encontrar a sua solução sobre a doença.
Questionado sobre o chá produzido em Madagáscar e que o Presidente daquele país, Andry Rajoelina, disse ter propriedades de prevenção e de cura da covid-19, Hamadou Boiro disse que o assunto já se transformou “numa questão política”.
“Mas para mim cada país tem o direito de dar a solução que achar que é importante”, defendeu.
O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embale, é um dos entusiastas do chá de ervas, denominado Covid-organics, que mandou importar para o país para distribuir para todos os 15 países da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO).
“Não devemos menosprezar ninguém. Se o Covid-organics está a curar muita gente lá (em Madagáscar), porque não”, questionou Hamadou Boiro, que, contudo, recomenda prudência no uso de qualquer medicamente em grande escala, antes de uma certificação científica.
O investigador guineense disse ter chegado a altura de África mostrar o que vale, o que “passa pela existência de políticos fortes e ousados”, que não vão esperar por orientações dos outros, notou.
“É preciso reforçar o trabalho da farmacopeia tradicional africana, levar as ervas africanas ao laboratório para analisar as suas propriedades”, afirmou Hamadou Boiro, que alertou ainda para o risco de a iniciativa não ser bem acolhida pela indústria farmacêutica convencional.
A crise provocada pela pandemia do novo coronavirus é vista pelo antropólogo como uma oportunidade para que todo o mundo apresente a sua solução para os problemas, mas numa perspetiva solidária, observou o investigador guineense.
“Daqui para a frente é preciso que o mundo trabalhe junto, porque as doenças que aí vêm vão tocar a todo o mundo. Os monopólios vão acabar, há muita gente que vai ter de acordar”, observou Hamadou Boiro.
No caso específico de África, o investigador guineense disse que pode trabalhar e apresentar ao mundo a farmacopeia tradicional, até porque, frisou, os países desenvolvem-se depois de crises.
Na Guiné-Bissau, há 820 casos da covid-19 e três pessoas morreram devido à doença.
O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, prolongou segunda-feira o estado de emergência no país até dia 26.
O número de mortos da covid-19 em África subiu hoje para os 2.406, com quase 70 mil infetados em 53 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 290 mil mortos e infetou mais de 4,2 milhões de pessoas em 195 países e territórios. Mais de 1,4 milhões de doentes foram considerados curados.
Conosaba/Lusa
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