Coaf apontou depósito de R$ 24 mil para futura primeira-dama, feito por ex-assessor de Flávio Bolsonaro. Segundo órgão, Fabrício Queiroz fez movimentações 'suspeitas' de R$ 1,2 milhão.
O presidente eleito Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira (7) ao site "O Antagonista" que os depósitos realizados na conta da mulher dele, Michele de Paula Bolsonaro, por Fabrício José Carlos de Queiroz se referem ao pagamento uma dívida de Queiroz com o próprio Bolsonaro.
Fabrício Queiroz é ex-assessor do deputado estadual e senador eleito pelo PSL Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente eleito. Ele foi exonerado do gabinete do deputado em 15 de outubro deste ano.
Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda, apontou movimentações bancárias na conta de Queiroz, consideradas suspeitas, de mais de R$ 1,23 milhão, entre 1º de janeiro de 2016 e 31 de janeiro de 2017.
O relatório faz parte da investigação que prendeu dez deputados estaduais no Rio, no mês passado, e traz informações sobre 75 servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) que apresentaram movimentação financeira suspeita, entre os quais o ex-assessor de Flávio Bolsonaro. De acordo com o relatório, Fabrício Queiroz era motorista de Flávio Bolsonaro e ganhava R$ 23 mil mensais.
O presidente eleito Jair Bolsonaro afirmou, segundo o site "O Antagonista" que ele e Queiroz eram amigos e que emprestou o dinheiro porque o ex-assessor do filho estava com problemas financeiros.
De acordo com o site, Jair Bolsonaro disse o empréstimo foi de R$ 40 mil e não R$ 24 mil, conforme consta do relatório do Coaf. "Não foram R$ 24 mil, foram R$ 40 mil. Se o Coaf quiser retroagir um pouquinho mais, vai chegar nos R$ 40 mil”, afirmou, de acordo com o site.
Segundo ele, informou o site, Queiroz fez dez cheques de R$ 4 mil para quitar a dívida. “Eu podia ter botado na minha conta. Foi para a conta da minha esposa porque eu não tenho tempo de sair. Essa é a história, nada além disso. Não quero esconder nada, não é nossa intenção”, declarou Bolsonaro, segundo reproduziu o site.
Sobre a movimentação de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz, Bolsonaro disse que se surpreendeu e que cortou contato com o amigo até que ele se explique para o Ministério Público.
Flávio Bolsonaro disse no fim da tarde desta sexta que conversou com o ex-assessor sobre as informações do Coaf.
"Fui cobrar esclarecimentos dele do que estava acontecendo. A gente não tem nada a esconder de ninguém. Ele me relatou uma história bastante plausível. Me garantiu que não teria nenhuma ilegalidade nas suas movimentações. Portanto, ele, assim que for chamado ao Ministério Público, vai dar os devidos esclarecimentos. Só que quem tem que ser convencido não sou eu. É o Ministério Público", declarou.
A TV Globo procurou o presidente eleito Jair Bolsonaro e a mulher dele, Michele, mas eles ainda não se manifestaram.
O relatório
O conteúdo do relatório foi revelado pelo jornal "O Estado de S. Paulo". A TV Globo também teve acesso ao documentos.
O relatório lista várias operações bancárias suspeitas e menciona a possibilidade de que isso tenha sido feito para ocultar a origem ou o destino do dinheiro. "Foi considerado fator essencial para a comunicação pela possibilidade de ocultação de origem/destino dos portadores", diz o texto.
Na conta de Fabrício de Queiroz, o Coaf também encontrou saques em dinheiro vivo que somam R$ 324 mil ao longo de um ano, dos quais R$ 159 mil foram sacados numa agência bancária no prédio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
A mulher de Fabrício, Márcia Oliveira de Aguiar, e duas filhas, Nathália e Evelyn Melo de Queiroz, também trabalharam no gabinete de Flávio Bolsonaro, como revelou o blog do jornalista Lauro Jardim, do jornal "O Globo".
Márcia aparece na folha de pagamento de agosto de 2017 da Assembleia Legislativa do Rio como consultora parlamentar e salário de R$ 9,2 mil. Nathália trabalhou com Flávio Bolsonaro na Alerj entre 2017 e 2016.
Menos de uma semana depois de ser exonerada, Nathalia foi nomeada para exercer a função de secretária parlamentar no gabinete do deputado federal Jair Bolsonaro. Ela deixou o cargo na Câmara dos Deputados no mesmo dia em que o pai saiu do gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj (15 de outubro).
Nathalia Melo de Queiroz é citada em dois trechos do relatório do Coaf. O documento não deixa claro quais são os valores individuais das transferências entre ela e o pai, mas junto ao nome de Nathalia aparece o valor total de R$ 84 mil.
A outra filha de Fabrício Queiroz, Evelyn Melo de Queiroz, foi nomeada em dezembro de 2016 como assessora parlamentar de Flávio Bolsonaro na vaga da irmã Nathália.
O nome de Evelyn está na última folha de pagamento que aparece no site da Alerj, em setembro, com salário líquido de R$ 7,5 mil.
A TV Globo não conseguiu contato com Fabrício Queiroz nem as filhas dele.
O Ministério Público Federal, responsável pelas investigações, diz que nem todos os nomes citados no relatório foram incluídos nas apurações, porque nem todas as movimentações atípicas são, necessariamente, ilícitas. Também não divulgou se deputados da alerj que não foram alvo das operações estão sendo investigados ou podem vir a ser.
Conosaba/G1
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