terça-feira, 11 de setembro de 2018

«OPINIÃO» "A FALÁCIA DOS QUARENTA ANOS" DR. GERALDO MARTINS

Há uma curiosa linha de ataque que responsabiliza única e exclusivamente o PAIGC pelos males do país. Se em quarenta anos o PAIGC nada fez pelo país, porque votar nele nas próximas eleições?
Este argumento é uma falácia.

Globalmente, em quarenta e quatro anos de existência da Guiné-Bissau, o PAIGC governou trinta e dois anos (72% do tempo). Qual é então a responsabilidade concreta do PAIGC pela situação do país?
No meu curso de macroeconomia, o professor diria:
O PAIGC tem 72% de responsabilidade se a situação do país for directamente proporcional ao tempo de governação de cada partido e se nos abstrairmos de todos os demais factores (ceteris paribus).

Ou seja, mesmo admitindo que quem governou mais tempo tem mais responsabilidades (o que não é de todo evidente), a responsabilidade exclusiva do PAIGC está excluída.
Olhemos agora as coisas noutra perspectiva. A história recente é repleta de exemplos de países que em vinte cinco anos deram um salto qualitativo extraordinário e se tornaram prósperos, independentemente do seu passado.
Na Guiné-Bissau, nos últimos vinte e quatro anos, isto é desde as primeiras eleições multipartidárias em 1994, o PAIGC foi governo nos períodos 1994-1998, 2004-2005, 2008-2012 e 2014-2016. No cômputo geral, o PAIGC governou 12 anos (metade do tempo), sempre com a legitimidade do voto popular mas sem nunca terminar os mandatos.
Nos restantes 12 anos, o país foi governado pelo PRS, por outros partidos políticos, dissidentes de partidos políticos, grupos com interesses políticos efémeros, militares, membros da sociedade civil, independentes, etc.
Ou seja, se a Guiné-Bissau falhou nos últimos vinte e quatro anos, a responsabilidade é partilhada por todos os que governaram o país durante esse período.
Então, a próxima vez que alguém lhe servir a litania dos quarenta anos, não se desarme: diga-lhe que arranje outro argumento mais convincente, porque este não é sustentado pela realidade.
Em conclusão, as próximas eleições não são sobre o passado. Nenhumas eleições o são. Se fossem, não haveria alternância democrática. As eleições são sobre o futuro, sobre quem tem o melhor projecto para o país e está mais bem preparado para o executar. Aqueles que se limitam a falar do passado é porque não têm nada a apresentar ao país.
Geraldo Martins
PS: A propósito, nos últimos dois anos a Guiné-Bissau foi governada pelo PRS e os Quinze. Mas a responsabilidade pelo estado da estrada de Cuntum Madina é a seguinte: 0% do PRS e os Quinze e 100% do PAIGC.

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