A Cimeira para a constituição de um Novo Pacto Global acaba hoje em Paris, com o Presidente Emmanuel Macron a anunciar 200 mil milhões de investimento para a transição energética nos próximos anos para os países em desenvolvimento, mas Miguel de Barros alerta que o que é preciso é "reconfigurar toda a estratégia do financiamento público" para servir África.
A proposta deste encontro que juntou em Paris cerca de 40 chefes de estado e de Governo era de criar um roteiro para canalizar financiamento para o desenvolvimento sustentável nos países mais vulneráveis, repensar as instituições financeiras existentes, e, sobretudo, encontrar uma solução para a dívida externa dos países africanos e dos países da América Latina que os impedem de cobrir custos importantes como educação ou saúde.
Em entrevista à RFI, Miguel de Barros, sociólogo e director executivo da organização não-governamental Tiniguena, que luta pela proteção da biodiversidade na Guiné Bissau, disse em entrevista à RFI que os modelos económicos sobre os quais se está a discutir em Paris não servem o sul global e que é preciso procurar soluções africanas para África.
"A ideia de construção do desenvolvimento foi sobretudo baseada numa premissa colonial, da sub-categorização de contextos e países, remetendo-os para um modelo extractivista de produção e de consumo que colocou estes países como bases de produção de matérias-primas com base à sua exportação para o Norte global, para depois esses produtos voltarem como produtos acabados, onde a mais valia fica na transformação. Esta ideia permitiu que a especulação tenha sido favorecida, mas ao mesmo tempo, essa lógica criou um fosso entre a capacidade de enriquecimento do Norte e do Sul, ficando o Sul global com o lixo e destruição do ecossistema", indicou o sociólogo.
Esta transição não é, segundo Miguel de Barros, justa para África, já que perpetua a dependência faze aos páises do Norte.
"Está-se a exigir a África uma transformação supersónica e faltam todas as etapas da transformação e capacidade de produção, económica, geração de emprego, financiamento de forma soberana das suas económicas para uma base de importação tecnológica a partir do Norte, mantendo esse mesmo nível de dependência, o que é injusto",
A Cimeira em Paris começou a pensar a reforma de organizações financeiras como o Banco Mundial ou o FMI, duas instituições que, segundo Miguel de Barros, estão desajustadas da realidade africana.
"A questão da disciplina financeira a partir do FMI e do Banco Mundial tem levado a uma destruição da capacidade económica, a uma proliferação de políticas que são completamente desajustadas da realidade social, económica e ambiental e isso tem levado a conflitos, migrações e destruição do património cultural", concluiu.
Conosaba/rfi.fr/pt/
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