quinta-feira, 5 de setembro de 2019

O SILENCIMENTO DE VOZES NA ARENA POLÍTICA, MUDA-SE O TEMPO, MUDA-SE O DISCURSO

Caros leitores, este artigo de opinião não se trata de difamação da personalidade de qualquer cidadão, cujo direitos garantidos na Constituição, assim como, demais leis. Assim sendo, espero que se faça uma análise a luz da razão e não a partir dos sentimentos movidos pela emoção. O artigo propôs apresentar algumas vozes que foram silenciadas com nomeações políticas, dentre os quais: Calos Vamain, Helder Vaz, Delfim da Silva, Victor Correia e em destaque Lesmes Monteiro.
A par dos movimentos independentistas ou revolucionários com a ideologia da libertação, emerge nos primórdios do século XXI os movimentos de intervenção ou sociais contemporâneos em Guiné-Bissau, uns com viés social em defesa dos valores da cidadania, assim como os problemas que afetam a vida dos citadinos, por outro lado, os movimentos políticos com a máscara do social no sentido de inverterem a visão da opinião pública.   
Durante os 5 anos a Guiné-Bissau viveu nas sombras da frustação e consequentemente o florescimento do divisionismo político, jamais visto. A situação gerada pelo protagonismo político e luta pela manutenção dos privilégios. Com a efervescência da crise, surge o Movimento dos Cidadão Conscientes e Inconformados (MCCI), com a voz ativada de Lesmes Monteiro, como sendo porta-voz.
Antes de adentrar nos demais movimentos que surgiram ao longo da crise, me permitam abrir parêntese e trazendo um breve conceito de movimento social, de salientar que existem inúmeras concpeções sobre referido ponto.
De acordo com Gustavo Paccelli da Costa, “os movimentos sociais sempre representaram mecanismos de contestação, construção e reconstrução da vida em sociedade. Através de suas lutas, realizam diagnósticos preciosos do mundo social. Como consequência, os movimentos sociais se apresentam como transformadores da dinâmica social na medida em que questionam a ordem vigente propondo um modelo de construção plural da sociedade e buscando aprofundar a democracia em seus diversos níveis”.
Nisso, o Movimento dos Cidadãos Conscientes e Inconformados representa para muitos o símbolo da juventude, tendo em conta várias manifestações promovidas em “defesa do interesse do povo”. Por ter surgido no momento de grande agitação política, o movimento atraiu e despertou atenção de inúmeros guineenses, que viam o José Mário Vaz como o único responsável da crise. Ora, não resta dúvida que qualquer movimento independentemente da ordem (social, político, religioso) apresenta a centralidade da luta, mas quando se trata de movimento social, o verdadeiro “inimigo” é o governo, não apenas uma entidade política.
Na essência, o (MCCI) atuou contra as posições defendidas pelo Jomav. Diante desta situação, a questão que se coloca é o seguinte; - Movimento dos Cidadãos Conscientes e Inconformados, defendem as pautas do interesse nacional ou atendem a agenda do partido africano da “dependência” da Guiné e Cabo avançado. (PAIGC)? O que me leva a fazer este questionamento é que, o referido movimento sendo Lesmes Monteiro protagonista nos primeiros momentos, não marchou contra as posições do PAIGC, apenas Jomav.
A partir desse questionamento surgem vários movimentos em contraposição das ideias do (MCCI). Em destaque, aparece o movimento o Cidadão, desta forma, a avenida combatente da liberdade da pátria configura no palco das emoções teatrais dos movimentos, que lutam em defesa dos grupos políticos. Nos períodos subsequentes, aparece o grupo denominado Estamos a Trabalhar militando no Jomavismo e sua companhia, tendo como protagonista o engenheiro sem título Botche Candé.
Nesse embate, a era que se vive em Guiné-Bissau é chamada de divisionismo, a mesma também vai ser conhecida como silenciamento das vozes. Me permitam navegar no tempo para sistematizar esta novela.
No período da transição após a alteração da ordem constitucional feito pelo grupo conhecido como comando militar, haviam várias vozes, críticos ao sistema. Nesse momento destaco Carlos Vamain, o advogado difundia suas críticas numa das rádios da capital Bissau, mas foi silenciado sendo nomeado ministro da função pública no governo passa tempo (transição). 
De igual modo, o conhecido professor e inspiração de muitos alunos, também foi condecorado com o silêncio, sendo nomeado ministro de negócios estrangeiros, assim como, embaixador da Guiné-Bissau junto à ONU na era Jomav.
Em 2014 pela normalidade constitucional, o país realizou as eleições presidências onde José Mário Vaz saiu como vencedor. Na disputa presidencial o debate entre Jomav e Helder Vaz ficou conhecido com as seguintes palavras; Jomav ka tene nim um kilograma de preparu pa sedu presidente; no ka precisa di djintis ku ta papia tchiu.
Mesmo após a corrida presidencial, Helder Vaz ainda anunciava suas críticas, infelizmente foi silenciado com o cargo de Embaixador da Guiné-Bissau em Portugal.
Victor Correia conhecido no mundo de futebol, naturalizou pela Guiné-Conacri e atuou como profissional defendendo as cores desta república. Crítico e atento a situação da Federação Nacional da Guiné-Bissau e apoiante de Domingos Simões Pereira, caiu no silêncio ao assumir o cargo de coordenador de gabinete técnico estratégico para os assuntos de futebol.
Por fim, Lesmes Monteiro conhecido no mundo da música pelas suas críticas intervencionais, tanto pelo governo, assim como a sociedade. Cidadão atento aos problemas do seu país. Firmou seu posicionamento face a crise da era Jomavismo, atribuindo o mesmo como o único responsável da crise. Junto com “seu” movimento caminhou pelas vias da capital Bissau e não só. Ao longo de todo esse período, Lesmes é conhecido como grande ativista, que defende apenas uma parte. Por mais que não tenha deixado nítido seu posicionamento político, mas, suas atuações nos mostra uma certa inclinação ao PAIGC, assim como, seu líder Domingos Simões Pereira.
Como recompensa da luta dos apoiantes do PAIGC recebeu o prémio de melhor ativista. O prémio foi avaliado em esforço, dedicação e perseverança em defesa deste misterioso partido e abre o caminho a mais uma voz em silêncio, tendo em conta o cargo de acaba de assumir, 3° vogal no conselho de administração de Petroguin.
Caro Lesmes, nos últimos anos pela sua cidadania ativa, defendeu a ideia do concurso público no aparelho de estado, entretanto, a sua nomeação se trata de uma indicação política, sendo cooptado pelo sistema. Ao longo da sua trajetória como ativista, em momento alguns apontou uma crítica de forma direta ao PAIGC, entende-se que essa é a ideologia difundidada pelo vosso partido, menos crítica e mais aplausos, em contraposição a recompensa. Por esta via, pressuponho que serão nomeados vários jovens com viés dominguista.
A partir desse ponto, me permitam apontar o exemplo dos cidadãos atividades que lutaram em defesa da nação, em outros países da África e, sem o desejo de recompensa.
Alcinda Honwana, no seu artigo intitulado – juventude Waithood Protestos Sociais em África, apresentou experiência dos jovens ativistas africanos que lutaram pelos diretos civis em Moçambique, África do Sul, Tunísia e Senegal. No entanto, trago apenas alguns exemplos. Em Maputo, (fevereiro 2008 e setembro 2010) os jovens saíram as ruas contra o aumento de produtos da primeira necessidade. Na Tunísia os jovens mobilizaram o povo e derrubaram o presidente Bem Ali, em janeiro de 2011.
Os jovens senegaleses do movimento Y'en a Marre! (Basta!), desencadearam uma campanha contra a reeleição do presidente Abdoulaye Wade em fevereiro de 2012. Com a vitória de Macky Sall, os jovens do referido movimento foram chamados para assumir cargo, no entanto, recusaram o convite, pois o objetivo da luta não traduz em recompensa. Caro Lesmes Monteiro, esse é o verdadeiro sentido da luta.
Em suma, defendo a ideia da integração dos jovens no aparelho de estado e demais espaço, mas não através de nomeações como símbolo de recompensa.
Na Guiné-Bissau, vivem da política, mas não a fazem!
Tedse Silva Soares da Gama, Licenciando em História – UNILAB/Brasil/Ceará. 

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