domingo, 17 de outubro de 2021

Medo é obstáculo ao desenvolvimento na Guiné-Bissau – analista

Rui Jorge Semedo, analista político guineense.
(DR)
O analista guineense Rui Jorge Semedo afirmou hoje que o medo é um obstáculo ao desenvolvimento da Guiné-Bissau e que os guineenses continuam a ter medo de tudo, referindo-se a práticas como a feitiçaria.

"O Amílcar Cabral, no seminário dos quadros em Conacri, em 1969, já chamava a atenção de que era preciso acabar com o medo. Infelizmente, na Guiné-Bissau ainda continuamos a viver um período em que as pessoas continuam a ter medo de tudo", afirmou, quando questionado pela Lusa sobre a razão pela qual os guineenses continuam a ter medo de feiticeiros e feitiçaria.

"Um dos obstáculos ao desenvolvimento é exatamente isso, o medo. Medo da polícia, medo de militar, medo de mato, os medos de que o Amílcar Cabral, para quem leu Tipos de Resistência, já chamava a atenção e nós não conseguimos superar", explicou.

A Liga Guineense dos Direitos Humanos denunciou no ano passado o aumento da violência ligada à feitiçaria no país, salientando que nos últimos dois anos houve registo da morte de 49 pessoas acusadas de feitiçaria.

"Já tivemos um Presidente que tinha medo e andava com as suas cadeiras de um lado para o outro e isso é um exemplo paradigmático daquilo que ainda hoje o Estado da Guiné-Bissau, e quando digo Estado digo as pessoas que estão a representar o Estado, que continuam a acreditar nisso", disse Rui Jorge Semedo.

Segundo o analista, a cadeira representa o poder e há medo de que alguém o possa amaldiçoar e afastar do poder.

Para Rui Jorge Semedo, é preciso "compreender esses aspetos para realmente haver condições de enfrentar os desafios que o desenvolvimento impõe a todos".

"Esse comportamento, a falta de superação dessas manifestações, têm contribuído para a obstaculização do processo de desenvolvimento, sobretudo, na adoção de valores e práticas consentâneas com o contexto em que vivemos", disse.

O analista salientou que o que se faz hoje na Guiné-Bissau já se fez em outros países do mundo e que a etapa foi superada.

"É um problema africano. Independentemente do nível da educação. No Magrebe ainda continuam a acreditar não só por questões religiosas, mas também culturais, na existência do poderio dos mouros para a obtenção de certos benefícios sociais, políticos e económicos", exemplificou.

Conosaba/Lusa

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