O presidente do Sindicato Nacional dos Enfermeiros, Técnicos de Saúde e Afins (SINETSA) da Guiné-Bissau, Ioiô João Correia, afirmou hoje que a requisição civil decretada pelo Governo "não tem cabimento" e que deve ser privilegiado o diálogo.
"Nós achamos que a medida do Governo em relação à requisição civil não tem cabimento e é uma medida desajustada", disse Ioiô João Correia aos jornalistas.
Segundo o sindicalista, a medida não tem em conta os recursos disponíveis para dar resposta aos problemas do momento.
"Os profissionais de saúde com formação fora do setor público são simplesmente os últimos graduados da faculdade de medicina e não chegam a 100 pessoas. Neste momento, estamos a falar de abrir portas para os reformados do setor, o que também não é realista. A maioria deles estão mortos, doentes ou sem condições de prestar serviço", salientou o sindicalista.
O Governo da Guiné-Bissau decretou na segunda-feira a requisição civil para os serviços essenciais de saúde até 31 de dezembro, na sequência de mais um boicote dos profissionais do setor, após a detenção, na sexta-feira, de dois dirigentes sindicais.
As autoridades guineenses decidiram também requisitar "médicos e técnicos de saúde nacionais em idade de reforma" e "médicos adstritos à Brigada Médica Cubana sem serviço no país e expatriados cubanos".
O Governo pretende prosseguir o "diálogo e a concertação com os sindicatos assentes no realismo e na defesa dos superiores interesses das populações".
Segundo o sindicalista, "a medida do Governo é desajustada porque não há como não dialogar e buscar soluções pacíficas para resolver os problemas. O Governo deve ser mais responsável, dialogar com o sindicato e encontrar soluções".
Ioiô João Correia referiu que todos sabem que a atual situação "não é agradável".
Questionado pela Lusa sobre o que é imprescindível o Governo cumprir imediatamente para voltarem ao trabalho, o sindicalista explicou que reivindicam quatro pontos essenciais, mas que sabem ser "impossível cumprir todas as exigências".
Ioiô João Correia explicou que as prioridades são o pagamento dos salários atrasos às pessoas que não recebem há um ano e cerca de 10 meses.
"Devem pagar isso imediatamente para que possam voltar, porque essas pessoas não têm condições objetivas para voltar ao serviço", disse.
A outra é a questão da aprovação das carreiras.
"É imperativo. Isso permitirá grandes vantagens em termos de prestação, em termos do próprio exercício das ordens de poderem regulamentar, regular e fiscalizar a ação dos profissionais e também dos profissionais saberem quais são as suas competências e onde acabam", disse.
"Simplesmente é isso que estamos a pedir ao Governo, que imediatamente cumpra com isso para que possamos sair desta situação. As outras situações podemos calendarizar para um momento a médio e longo prazo para resolver pouco a pouco", sublinhou.
Os quatro pontos essenciais que o sindicato tem reivindicado são a conclusão dos processos de efetivação, a criação de condições de trabalho, a aprovação de carreira e demais documentos e a questão das dívidas.
Nas declarações aos jornalistas, o sindicalista acusou também a brigada médica cubana de estar a coagir os alunos da faculdade de medicina a participarem na campanha de vacinação nacional contra a covid-19.
"Achamos que a presença cubana aqui tem uma missão específica de ensino e de formar pessoas e não devem deixar-se ser impulsionados pela política e coagir estudantes a irem para a campanha. Se acontecer algum problema quem é que é responsabilizado", questionou o sindicalista.
Ioiô João Correia pediu à brigada médica cubana para se cingir à sua missão de ensino.
O Alto-Comissariado para a Covid-19 e o Governo guineense lançaram segunda-feira a campanha nacional de vacinação contra a doença, mas tiveram de recorrer à brigada médica cubana e a voluntários devido à greve que afeta o setor da saúde e ao novo boicote daqueles profissionais.
Conosaba/Lusa
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