A Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe apresentam os níveis de desnutrição mais elevados da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), dados "preocupantes" que exigem "alguns apoios", admitiu à Lusa Manuel Lapão, diretor de Cooperação daquela organização.
Esta é uma questão que "vai ter, com certeza, algum investimento nos próximos anos", acrescentou o responsável, à margem de um seminário que decorreu, hoje, na sede da CPLP, em Lisboa, para apresentação do estudo sobre a caracterização da agricultura familiar de cada um dos Estados-membros daquela Comunidade, para que o relatório completo possa ainda ser apresentado no primeiro trimestre de 2019.
Das conclusões preliminares apresentadas hoje pelos consultores que realizaram o estudo, Manuel Lapão destacou também o facto positivo de que a produção da agricultura familiar cresceu "de forma significativa em alguns dos países da CPLP", como foi o caso de Angola, onde, disse, o nível de desnutrição baixou.
Consagrar aquilo que é a caracterização da pequena agricultura familiar no espaço da CPLP, que produz 80% das necessidades de consumo, mas com um nível de rendimento que não ultrapassa os 10%, é agora o desafio ao nível da CPLP, sublinhou Manuel Lapão.
"A desnutrição baixou de forma significativa na maioria dos Estados-membros", apontou, considerando este um aspeto positivo. Sublinhou, contudo, o caso da "Guiné-Bissau e de São Tomé e Príncipe", países em que se registou "um aumento ligeiro", situação "que é preocupante", sublinhou o diretor de cooperação da CPLP, em declarações à Lusa.
Angola, Moçambique e Guiné-Bissau estão entre os países africanos onde os choques climáticos foram uma das causas de crises alimentares em 2017, segundo um relatório das Nações Unidas, apresentado em setembro, em Roma.
Esta foi uma das principais conclusões da avaliação global sobre segurança alimentar e nutricional (SOFI 2018), elaborada por cinco agências da ONU, incluindo a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
A avaliação foi pessimista, realçando que os objetivos de erradicação da fome em 2030 estão em risco, face ao crescimento da situação de fome, que atingiu 821 milhões de pessoas em 2017, ou seja, um em cada nove habitantes do mundo.
O SOFI 2018 destaca que a segurança alimentar e a nutrição são tanto mais afetadas quanto maior for o grau de exposição e a vulnerabilidade dos países aos choques provocados pela variabilidade e extremos climáticos.
Os choques climáticos são uma das causas associadas às crises alimentares, em alguns casos agravadas por conflitos, sendo África, Ásia, América Latina e Caraíbas as regiões mais atingidas.
Entres os países africanos identificados no relatório incluem-se Angola (períodos de seca/baixa pluviosidade), Guiné-Bissau (início tardio das estações e inundações) e Moçambique (secas, inundações, tempestades ou outros choques climáticos).
Nos últimos 20 anos "não só a exposição a choques climáticos aumentou, em termos de frequência e intensidade, mas isto aconteceu também em países que já eram vulneráveis à insegurança alimentar e malnutrição", registando-se um acréscimo de choques climáticos em países onde a subnutrição, produção e rendimento das colheitas já eram vulneráveis aos extremos climáticos.
O número de países mais expostos a fenómenos extremos passou de 83% no período de 1996-2000 para 96% em 2011-2016.
Em termos de intensidade (diferentes fenómenos extremos num período de cinco anos), 36% dos países estiveram expostos a três ou quatro tipos de incidentes (calor extremo, seca, inundações ou tempestades) entre 2011-2016, o dobro do período anterior.
A ocorrência destes extremos climáticos aumentou 160% nos países africanos, passando de 10% em 1996-2000 para 25% ente 2011 e 2016.
Angola, Moçambique e Guiné-Bissau estão também na lista dos países afetados por várias formas de malnutrição, incluindo crianças com desnutrição crónica (prevalência maior ou igual a 20%), anemia nas mulheres (prevalência maior ou igual a 40%) e obesidade em adultos (prevalência maior ou igual a 20).
Segundo o relatório das Nações Unidas, das 821 milhões de pessoas com fome registadas em 2017 em todo o mundo, cerca de 256 milhões viviam em África.
Conosaba/Lusa
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