domingo, 22 de junho de 2025

GUINÉ-BISSAU: A QUESTÃO DA RAÇA E DA ETNIA



Sendo alguém que frequentou a escola primária nas tabancas, tive sempre professores de vários grupos étnicos.
Adelino Nhaga, Talibe Baldé (de Forêa), Prof. Pereira, Aguinaldo Mama Embaló e Domingos Assunhé. Este último ainda continua entre nós. Deus obrigado.
No entanto, nas minhas tabancas ninguém perguntava aos meus professores sobre as suas pertenças étnicas. Pouco importava se eram Balantas, Papéis, Beafadas ou Cabo-verdianos. Queríamos era aprender. A nossa convivência era sã e em base de respeito mútuo pelas diferenças e diversidades.
A primeira vez que alguém me chamou de "fulasinho" foi em Bissau, entre outras caracterizações preconceituosas. Essa pessoa que me chamava de fulasinho era até um vizinho da etnia Mandinga. E, com o tempo, as tais trocas viraram humor, nas horas do "gozo" (piadas). Adaptei-me.
Qualquer um que veio da tabanca terá certamente experimentado a tal purga em Bissau. Fula (lêbe), (...) de padja, etc. Ironizam o nosso aspecto físico, a nossa forma de ser e estar, o nosso sotaque, etc. Tive a mesma experiência (discriminatória) nos meus primeiros dois anos na Televisão Experimental da Guiné-Bissau!
Portanto, quando as pessoas abordam o tribalismo na Guiné-Bissau, muitos omitem o simples facto de o homem urbano (da praça) ser -- HISTORICAMENTE -- um dos maiores promotores do divisionismo étnico.
É ele que -- numa atitude de exclusão -- quer saber da pertença de cada um: etnia, região, religião, crença, etc. Donde és? Qual é a tua região? Qual é a tua etnia? Qual é a tua religião?
Por esta e outras razões, os estudiosos das sociedades têm dito e escrito que a raça e o etnicismo são as maiores "construções sociais" do mundo.
Construções essas que, em benefício próprio, têm agravado as narrativas sobre a raça e a classe social.
Da próxima vez que fores à qualquer tabanca da Guiné-Bissau, verás que lá (quase) ninguém te perguntará sobre a tua raça, etnia ou religião.
A tabanca não quer saber. Anôs só djudaduris ku nô misti (nós queremos apenas quem nos ajuda).
Pelo menos, assim era antigamente.
--Umaro Djau
Deputado da Nação
21 de Junho de 2025

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