O Primeiro-ministro demitido Aristides Gomes, questionou a “impotência” das forças de interposição da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (ECOMIB) perante aquilo que considera de invasão de instalações públicas e residências dos titulares de órgãos de soberania.
Gomes fez estas interrogações em declarações aos jornalistas para reagir à invasão de um grupo de agentes da Polícia da Intervenção Rápida (PIR) na tarde desta sexta-feira, 6 de março de 2020, que foram recuperar viaturas de alguns membros do seu governo estacionadas na sua casa.
Os elementos das forças policiais que estiveram na casa de Aristides Gomes com armas (AK-47) levaram uma viatura branca com placa (matrícula) de Estado. Sairam em grande velocidade perante apupos de dezenas de pessoas presentes no local.
Aristides Gomes explicou que a polícia foi buscar os carros na sua residência sem apresentar nenhum documento para o efeito, frisando que “nos assuntos do Estado não se pode apropriar-se dos bens do Estado sem deixar traços”.
“Esses veículos foram destribuidos aos membros do governo e na devida altura assinaram um documento em como receberam estes carros. Se nós tivéssemos que passar os carros às outras pessoas, teriamos que fazer o mesmo procedimento” contou, para de seguida, acrescentar que a polícia utilizou a força para levar um carro e até que se envolveram em “puxa puxa” com os soldados de ECOMIB, mas acabaram por levar um carro.
Solicitado a pronunciar-se sobre os últimos comunicados da CEDEAO que apelou à reposição da ordem constitucional e sobre a postura da ECOMIB face à situação, Aristides Gomes respondeu que a referida questão deveria ter resposta por parte daqueles que estão a gerir as forças da ECOMIB.
“Eu também coloco a mesma questão. Qual é a dificuldade!? Se é uma questão da dificuldade da ordem numérica ou em termos operacionais. Mas alguém deveria responder a estas questões”, assegurou.
Questionado se colocou as mesmas questões ao comando da ECOMIB no país, explicou que várias vezes fez estas questões ao comando da ECOMIB, mas sempre prometem que vão fazer…
“Nós estamos a ver que não estão a fazer nada. Primeiramente, a ECOMIB perdeu o controlo da proteção das instituições que foram ocupadas, quer instituições governamentais quer judiciais, incluindo o próprio Palácio da República que está a ser dominada pelos militares. Desenrola-se aos olhos dos cidadãos comum da Guiné-Bissau, um processo em que o Estado está a desmoronar-se cada vez mais e quem tem a força consegue apoderar-se do Estado e fazer aquilo que entender”, contou.
Interrogado se falou com o Presidente em exercício da Conferência dos Chefes de Estado e do Governo da CEDEAO, Mahamadou Issoufou , Aristides Gomes, respondeu que durante a crise fez aquilo que devia fazer, ou seja, passou as informações sobre a situação da Guiné-Bissau às instituições envolvidas no processo da estabilização do país.
“As forças da ECOMIB foram reforçados a partir dos acontecimentos de Novembro. Mas há que tirar ilações por parte daqueles que gerem a CEDEAO e inclusive a ECOMIB”, sublinhou.
Sobre a vinda da missão na segunda-feira (9 de março), Gomes explicou que a missão é puramente técnica ligada ao contencioso eleitoral, na sequência da sua velha proposta. Enfatizou que a missão deveria vir muito antes e que seria constituida pelos magistrados experimentados em questões eleitorais, que deveriam fazer um trabalho de prospeção para conhecerem melhor a legislação guineense a fim de poderem fazer relatórios para os Chefes de Estado da CEDEAO de forma a permetir um debate muito mais rico na cimeira.
“Agora estamos a assistir uma tentativa da CEDEAO de querer recuperar o terreno perdido através do envio desta missão. Infelizmente, a missão chega numa situação muito difícil em que o próprio Supremo Tribunal diz que não tem condições de trabalhar, porque os seus locais tinham sido ocupados e para além disso, o Estado está a ser ocupado por um dos protagonistas da crise”, lamentou.
Questionado ainda que perante o recurso à violência se não teme por sua prória vida, reconhece que há sempre este perigo, mas “o risco zero não existe, mas tenho que continuar a fazer o meu papel”.
“É preciso que alguém faça este papel porque, senão, nós vamos de deriva em deriva vamos a caminho de um desaparecimento total do nosso Estado”, assegurou.
Por: Assana Sambú
Foto: A.S
Conosaba/OdemocrataGB
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