[ENTREVISTA] O artista plástico guineense Nuno Ala Tambá “Young Nuno” afirmou que o trabalho de “Arte Urbana”, para o resgate do legado dos heróis da independência da Guiné-Bissau, transformou-se numa escola de arte para os jovens artistas plásticos guineenses, que têm vindo a revelar os seus talentos nas diferentes artérias de Bissau e arredores. Acrescentou que o trabalho que fazem transformou-se numa escola de formação, onde os jovens estão a deixar os seus legados e a revelar os seus talentos, o que poderá ter continuidade no futuro, o que o deixa bastante alegre.
O jovem artista plástico fez estas afirmações durante uma entrevista concedida ao Jornal O Democrata na segunda-feira, 28 de dezembro de 2020, para fazer o balanço dos trabalhos levados ao cabo pelo grupo “Galeria Jovem” na capital do país e que acabou por servir como uma escola para os jovens.
Ala Tambá mostrou-se satisfeito pelo impacto e o reconhecimento que o trabalho teve da sociedade guineense, relembrado que a iniciativa deve ser assumida por todos os guineenses como um compromisso à nação guineense.
YOUNG NUNO: “FAZEMOS ESSE TRABALHO HÁ MESES, PORQUE TEMOS COMPROMISSO COM A GUINÉ-BISSAU”
“A iniciativa de pintar os murais de alguns heróis nacionais não é um trabalho para o ‘Grupo A’ ou para o ‘Grupo B’, mas sim para a Guiné-Bissau, de jovens que acharam que são filhos desta terra. Vale a pena dar as nossas contribuições para mudar a imagem deste país, é o que nós estamos a fazer”, disse.
Conhecido no mundo artístico por “Young Nuno”, o jovem lidera o grupo “Galeria Jovem”, que desencadeou, em setembro deste ano (2020), uma ação através de artes urbanas, pintando murais de algumas figuras públicas, com a finalidade de recuperar a memória e os legadosdos heróis da luta pela independência da Guiné-Bissau.
O artista plástico guineense transmitiu ao Democrata que o grupo “Galeria Jovem” está determinado em dar o seu contributo, através deiniciativas semelhantes, por isso tem trabalhado isolado sem esperar por recompensas monetárias, “seguindo os exemplos de Amílcar Cabral, Titina Silá, Domingos Ramos e Pansau Na Isna… Para libertar a Guiné-Bissau dos colonialistas portugueses”.
“Algumas pessoas pensavam e pesam até agora que recebemos financiamentos para realização destes murais. É uma suposição errada.Fazemos este trabalho há meses porque achamos que todos têm um compromisso com a Guiné-Bissau, seguindo exemplos de várias figuras nacionais como Amílcar Cabral, Titina Silá, Domingos Ramos e Pansau Na Isna”, assinalou e enfatizou que “são pessoas que lutaram sem nenhuma contrapartida. Muito jovens, assumiram dar o seu contributo sem questionamentos”, vincou Young Nuno.
Segundo a explicação do jovem de 29 anos de idade, natural de Bissau, o maior foco do movimento que lidera passa por lutar pelos seus objetivos, Arte Urbana. Contudo, admitiu que sempre haverá vozes desmotivadoras durante o percurso de algumas pessoas.
Antes de abraçar a carreira artística com responsabilidade, Nuno tentou fazer formação acadêmica na área da gestão e contabilidade na Universidade “Colinas de Boé” que acabou por abandonar, devido aquestões financeiras e de saúde. Embora tenha pretendido fazer umcurso ligado à gestão e contabilidade, Nuno admite ter nascido para ser um artista plástico, por isso não vai fugir do propósito que Deus o concedeu, prometendo apostar nesta área para sempre.
Segundo as estatísticas do grupo que o jornal O Democrata consultou, foram homenageadas figuras como Titina Silá, Pansau Na Isna, Domingos Ramos, Francisco Mendes “Tchico Té” e neste momento o grupo “Galeria Jovem” está prestes a concluir a pintura da imagem do célebre músico e percursor da música moderna guineense, José Carlos Schwarz, no bairro D´ajuda, no prédio Taiwan, em Bissau.
Durante a entrevista, o artista plástico revelou que para pintar os murais destas figuras, a Galeria Jovem foi apoiada por personalidades como Miguel de Barros, Nelson Lopes, Anaximandro Menut e António Spencer Embaló.
“Só tenho que agradecer estas pessoas que nos apoiam com fundos paratransporte, alimentação e materiais de trabalho, como pincéis e tintas”, disse.
Young Nuno realçou ainda que o sociólogo Miguel de Barros foi uma figura determinante para impulsionar toda a malta da Galeria Jovem a continuar a fazer o seu trabalho, após a conclusão do trabalho do mural da veterana da luta armada, Titina Silá, numa parede nas antigas instalações da fábrica de espuma, na avenida Pansau Na Isna, em Bissau, atrás do Palácio da República, no âmbito da celebração dos 47 anos da independência do país.
Segundo o jovem artista, a ideia de pintar murais de personalidades guineenses veio depois de ter tido a oportunidade de trabalhar com o artista brasileiro Cazé, que pintou o mural de Amílcar Cabral no prédio dos correios, em Bissau, em 2019, iniciativa do então Secretário de Estado da Cultura, António Spencer Embaló.
O projeto arrancou com 11 pessoas e hoje tem 16 elementos fixos, às quais se juntam todos os voluntários que aparecem, de quando em vez, para dar umas pinceladas.
Após os trabalhos da primeira fase, a pintura dos murais das figuras referidas, o coletivo Black Panthers (Panteras Negras) decidiu abraçar a iniciativa e já pintou a mural do fundador das nacionalidades guineense e cabo-verdiana, Amílcar Cabral, no prédio Taiwan.
Segundo a indicação dos mentores da iniciativa, no mesmo local, os artistas vão pintar murais de seis figuras já selecionadas.
A cerimônia oficial de homenagem a Amílcar Cabral e ao José Carlos Schwarz, através de murais, ainda não tem uma data marcada, mas deverá acontecer nos primeiros meses de 2021.
CONHEÇA O PERFIL DO JOVEM ATIVISTA “YOUNG NUNO”
Nuno Ala Tambá nasceu a 06 de abril de 1991, em Bissau, no bairro de Plubá. Filho de Ala Tambá e de Djanabu Nhagá. Fez estudos primários na escola privada Binhacra, embora tenha concluído a quarta classe na escola São Francisco de Assis, ambas em Bissau. O jovem artista fez 5ª e 6ª classe na escola Guerra Mendes.
Youngo Nuno frequentou o liceu em duas escolas. Primeiro, estudou 7ª e 8ª na Escola 23 de Janeiro. De 9ª à 11ª classe no liceu Agostinho Neto. Antes de abraçar a carreira de artista, iniciara a formação em Gestão e Contabilidade na Universidade Colinas de Boé, em Bissau, mas abandonou o curso por razões financeiras.
Nuno afirmou que sonha tornar-se um artista de renome internacional, como forma de deixar o seu legado.
Por: Alison Cabral
Foto: Marcelo Na Ritche
Conosaba/odemocratagb
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