quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Familiar de guineense condenada em Portugal por mutilação genital acha decisão injusta


Djenabu Baldé, uma tia da jovem guineense Rugui Djaló, condenada em Portugal à pena de três anos de prisão por ter submetido a filha à mutilação genital, disse hoje à Lusa que se tratou de "uma decisão injusta".

"Achamos, enquanto familiares da Rugui, que se tratou de uma situação, uma decisão injusta", observou Djenabu Baldé.

Rugui Djaló, cidadã guineense residente em Portugal, foi condenada no início deste mês por um tribunal de Sintra, por ter submetido à mutilação genital a filha, Maimuna, na altura com um ano de idade, durante uma estadia de três meses na Guiné-Bissau, em 2019. Esta foi a primeira condenação em Portugal por este crime.

Djenabu Baldé é ativista pelos direitos humanos, tendo trabalhado como animadora do Comité Nacional para o Abandono às Práticas Nefastas à Saúde da Mulher e Criança, dirigido pela antiga ministra guineense, Fatumata Djau Baldé, daí ser contra a prática.

Em conversa com a Lusa, Djenabu afirmou que se a sobrinha tivesse "na realidade" submetido a filha à excisão "como o tribunal diz", seria a própria a fazer a denúncia perante as autoridades.

"Nem eu, nem o meu marido, que é jurista, iríamos aceitar uma coisa dessas", notou Djenabu Baldé, atualmente funcionária de uma ONG italiana que também atua na defesa dos direitos humanos Guiné-Bissau.

Djenabu Baldé não compreende em que se baseou o tribunal para condenar a sobrinha e questiona o tipo de perícia a que foi submetida a criança.

A ativista reiterou que "a criança não foi submetida à prática" durante os dias que passou com a mãe na Guiné-Bissau, e acrescentou que foi ela própria a aconselhar Rugui a voltar para Portugal para levar a filha ao médico.

"A criança passou um mau bocado durante o período em que cá esteve, porque andava sempre a chorar, ficou doente, com muita febre, tinha o corpo todo beliscado", referiu Djenabu Baldé.

A tia diz ter sido "com muito espanto" que a mãe comunicou à família na Guiné-Bissau que "o hospital disse que a criança foi submetida à excisão".

Pela experiência enquanto ativista, Djenabu garantiu à Lusa que na etnia da sua família (fula) se a criança, na verdade, fosse excisada, "não ia sobrar nem um pedaço do clítoris".

Djenabu, ela própria submetida à excisão, em criança, assinalou que na sua família "há muito" que não existe mais a prática, também chamada de 'fanado' da mulher.

"A irmãzinha da Rugui costuma vir cá passar férias todos os anos, sem os pais, sem a própria Rugui, mas não foi submetida à excisão", afirmou Djenabu Baldé.

Questionada sobre como está a sobrinha em Portugal, Djenabu apontou que "está assustada e preocupada", mas "com a consciência de que não fez o que está a ser acusada".

Prova disso, acrescentou Djenabu, é o facto de a sobrinha ter estado, uma semana antes, na festa do noivado e a preparar-se para casar.

"A justiça tem que absolver a Rugui, não pelo facto de ser jovem, mas porque ela não fez nada disso", sublinhou Djenabu Baldé.

Conosaba/Lusa

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