terça-feira, 20 de novembro de 2018

«OPINIÃO» "APENAS UM GUINEENSE..." - DR. JORGE HERBERT


Sou um simples cidadão, do mundo.

Que nasceu e cresceu na Guiné-Bissau.

Que sente a sua pátria-mãe em cada bater do seu coração.

Que se delicia com a fonética do seu crioulo.

Que fecha os olhos e sente o cheiro da terra da mamã Guiné.

O cheiro da terra vermelha salpicada pelas primeiras chuvas.

O cheiro do cacimbo ao amanhecer, embalado pelo cantar do galo na capoeira.
O cheiro e o sabor do cajú e da sua castanha assada.

O cheiro e o sabor das variedades das mangas – as de terra, as de Índia e as de faca.
O sabor da cana de açúcar, de mandiple, da azedinha e de tambacumba.

O paladar do caldo de mancarra e do chabéu, passando pela cafriela, citi ku liti, ou citi ku djorondj.

O queimar da areia nos meus pés descalços pelas ruas do Bairro D’Ajuda.

O colecionar das cicatrizes de feridas cujas hemorragias foram estancadas com a terra vermelha.

O prurido da manpusma adquirido a jogar a bola descalço debaixo da chuva.
A aprendizagem da leitura e da escrita em escolas hoje com dignidades remetidas ao esquecimento.

Falaram-me da independência e sonhei com melhores dias e melhor futuro para o meu país.

Hoje sofro à distância pela minha terra.

Choro em silêncio pelos meus irmãos privados de quase tudo, mas que continuam a sonhar.

Sofro por muitos que morrem ainda ao nascer, 
Por aqueles que padecem e morrem ainda jovens.
Por aquelas que um simples parto transforma em vítimas mortais.
Pelas crianças e jovens ávidos de aprendizagem, mas sem educação estruturada.

QUARENTA E CINCO ANOS é muito tempo! QUASE MEIO SÉCULO!
De abusos e privações.
De perdas de vidas válidas para o país. 
De obscurantismo forçado e intencional.
De elevado número de mortes nos hospitais por falta de recursos.
Da degradação e banalização do ensino.
Da banalização e degradação da justiça.
Da degradação e banalização do conceito de família.
De delapidação dos nossos recursos naturais.
De quase completa desestruturação e desresponsabilização do Estado.
De desonra aos que tombaram na luta para a libertação do país.

Não, não sou e nem quero ser político.
Quero apenas ser um guineense.
Erguer a voz e exigir uma segunda independência à minha amada pátria.
Exigir a libertação da Guiné-Bissau dos abusos do PAIGC.

Quase meio-século não é suficiente para perceberem que falharam em todas as vertentes?
Quase meio-século não é suficiente para saírem do autismo e tomarem consciência da vossa incompetência?

Quase meio-século não chega para perceberem o grau da sua insensibilidade perante o sofrimento do povo?

Quase meio-século não é suficiente para perceberem a dimensão do crime que andaram a cometer contra esse humilde povo?

Quase meio-século não é suficiente para perceberem a dimensão das ajudas externas mal geridas?

Quase meio-século não é suficiente para pararem e pensarem que se tornaram nos verdadeiros carrascos do povo?

Quase meio-século não é suficiente para pararem e contabilizarem quantos guineenses foram e continuam a ser vítimas diretas e indiretas das ações criminosas do PAIGC?

Independentemente dos que vierem a seguir, é chegada a hora de dizer BASTA ao PAIGC. Como numa fuga da prisão, inicialmente não interessa para onde vamos, mas o objetivo primário é afastar-se da prisão e dos nossos carrascos… Mais a frente encontraremos o caminho.

Quero a minha terra de volta. 
Por favor, libertem a Guiné-Bissau das garras do PAIGC.

Jorge Herbert

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