quarta-feira, 16 de outubro de 2024

DIRIGENTES “INCONFORMADOS” DO PAIGC EXIGEM A CLARIFICAÇÃO DA LIDERANÇA DO PARTIDO

Alguns dirigentes do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) exigem a clarificação da liderança do partido, uma vez que o atual presidente, Domingos Simões Pereira, continua a “bater-se” pela Presidência da República.

“É chegado o momento de tornar aberto, transparente e participativo o processo de clarificação da liderança do Partido. O Partido deve clarificar a sua estratégia, e para tal, julgamos que o primeiro passo deve ser dado pelo seu atual Presidente” lê-se numa carta enviada ao Presidente do PAIGC, consultada pelo jornal O Democrata, na qual constam os nomes de Rui Duarte Barros, Aly Hijazi, Mário Mussante da Silva Loureiro, Carlos Pinto Pereira, José Carlos Esteves, Carlos Nelson Sano, Fofana Keita e Amadu Djalo.

Na missiva assinada por cinco dirigentes, os signatários entendem que estando em vésperas de um processo eleitoral, verificar que Simões Pereira continua a apresentar-se como cabeça-de-lista do PAIGC, constitui uma nova “antecâmara para novos focos de instabilidade, a todos os títulos prejudiciais para o Partido e para a Nação”.

“Torna-se óbvio para qualquer observador atento, que a pretensão do Camarada Presidente continua a bater-se pela Presidência da República. Considerando legítima essa sua pretensão, entendemos que ela não deve ser prosseguida pondo em causa os demais interesses do Partido, nomeadamente os de se assegurar que o acima referido processo de clarificação da liderança do Partido seja um processo democrático. Não entendemos correto que seja o Presidente do Partido a escolher o seu sucessor, como parece estar a acontecer”, insistiram, apontando a criação de amplos consensos e de uma plataforma patriótica, nos quais o PAIGC continue a pontuar com uma posição de relevo, tendo em vista a resolução dos graves problemas que assolam o país.

“Os sinais que o Partido vem trazendo todos os dias para a praça pública, nomeadamente através da divulgação de negociações [secretas] com parceiros que ontem eram considerados inimigos, mostram de forma inequívoca que, sendo essa a via correta, a atual Direção do Partido, e particularmente o Camarada Presidente, terão dificuldades em assegurar esta solução alternativa, vital para a sobrevivência do nosso sistema democrático. Se assim é, consideramos que outros poderão estar em melhores condições para conduzir este processo” disseram, afirmando que a via da reconciliação e do diálogo devem prevalecer, quer no seio do Partido, quer a nível nacional.

“Parece-nos ser chegado o momento para a abertura desta reflexão e debate, pelo que convidamos o Camarada a promover um encontro entre os signatários e a Direção Superior do Partido, para que, de forma mais aprofundada, possamos propor as soluções que julgamos mais consentâneas com os interesses do Partido e da Nação guineense, a serem submetidas, caso assim se vier a entender, ao livre sufrágio dos seus militantes” propuseram, garantindo que vão permanecer no governo pelos motivos que cada um teve a oportunidade de expor quando para o efeito foram ouvidos pela Direção Superior do Partido.

Por: Tiago Seide
Comosaba/odemocratagb

Lusa
Um grupo de dirigentes do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) exige ao líder do partido, Domingos Simões Pereira, que clarifique a sua posição em relação às eleições legislativas, sobre se é ou não candidato a primeiro-ministro.

A exigência do grupo, integrado entre outros pelo atual primeiro-ministro, Rui Duarte de Barros, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Carlos Pinto Pereira, consta de uma carta dirigida a Simões Pereira, a que a Lusa teve hoje acesso.

Datada de 14 de outubro, a carta, também assinada pelo atual ministro dos Combatentes da Liberdade da Pátria, Aly Hijazy, e pelo ministro das Pescas, Mário Mussante, pede a Simões Pereira que clarifique aos militantes do PAIGC se pretende ser primeiro-ministro ou candidato às próximas eleições presidenciais.

O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, marcou para dia 24 de novembro próximo a realização das eleições legislativas antecipadas, após dissolver, em dezembro de 2023, o parlamento que era liderado pela Plataforma Aliança Inclusiva (PAI- Terra Ranka), uma coligação de partidos encabeçados pelo PAIGC.

Os signatários da carta dirigida a Simões Pereira afirmam que "é óbvio para qualquer observador atento" que este continua a se bater para ser Presidente da República, no que dizem ser "uma pretensão legítima".

Aqueles dirigentes do PAIGC observam, contudo, que as pretensões de Pereira não podem colocar em causa os interesses do partido e, por via disso, pedem uma clarificação sobretudo em relação a quem o vai substituir como candidato ao cargo de primeiro-ministro, em caso da vitória nas legislativas.

Os signatários da carta defendem que "parece estar a acontecer" um processo de substituição.

Nas últimas eleições legislativas realizadas em junho de 2023, Simões Pereira apresentou-se como cabeça-de-lista da coligação PAI-Terra Ranka e, com a vitória eleitoral, o partido indigitou o primeiro vice-presidente, Geraldo Martins, para o cargo de primeiro-ministro.

Pereira acabou por ocupar a presidência do parlamento.

"Estando em véspera de um novo processo eleitoral, verificar que o camarada continua a apresentar-se como cabeça-de-lista do PAIGC constitui uma nova antecâmara para novos focos de instabilidade a todos os títulos prejudiciais para o partido e para a Nação", consideram os signatários.

Os subscritores apelam à direção do partido para a abertura de "um diálogo profundo" para que possam apresentar a sua visão sobre as soluções que julgam "mais consentâneas" aos interesses do PAIGC e da Guiné-Bissau.

Fonte do PAIGC disse à Lusa que a carta deu entrada e nos próximos dias a direção irá convocar os seus subscritores para uma audiência e que, de seguida, a decisão a ser tomada partirá dos órgãos internos.

A carta contém oito nomes de dirigentes do PAIGC, mas apenas cinco dos subscritores assinaram o documento.

Todos os nomes são de dirigentes que entraram para o Governo de Iniciativa Presidencial criada a seguir à dissolução do parlamento, mesmo à revelia das orientações do PAIGC.

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