quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

DOMINGOS SIMÕES PEREIRA: "DA MINHA RELAÇÃO COM AS FORÇAS ARMADAS"

Artigo do Presidente e Candidato do PAIGC, Domingos Simões Pereira – Da minha relação com as Forças Armadas


Da minha relação com as Forças Armadas
Se avolumam conselhos e críticas sobre o meu presumível distanciamento, logo convertido por muitos em indiferença, para com as Forças Armadas e seus principais lideres. Meus mais próximos nesse debate, afirmam que isso favorece a crítica em como só apareço para dizer quando algo está mal, e pouco mais. 
Refleti profundamente sobre isso, hesitei muito se este é o melhor momento para abordar um tema deveras sensível, mas concluí que, para corrigir erros e percepções desviadas, não há melhor tempo do que o presente. 
Quero por isso afirmar logo, sem equívocos, que reservo uma honra sincera aos Combatentes da Liberdade da Pátria, um grande respeito ao serviço militar, e uma visão clara de que a paz e a estabilidade interna na Guiné-Bissau passam sem sombra de dúvidas por uma reforma bem-sucedida nas Forças Armadas que devolva dignidade a quem pôs sua vida em linha, pela nossa liberdade e independência e pelos que continuam a servir e proteger a nossa soberania. 
Enquanto chefe do governo da IX legislatura e no quadro do programa Terra Ranka, desenhei um enquadramento para os militares e seus dependentes de forma a reduzir substancialmente, e se possível eliminar, o fosso de diferenciação social ainda existente. Propus e assumi capacidade para proporcionar aos militares, condições de vida nas casernas e serviço, comparáveis a outros lugares de referência no mundo. Reformas com habitação familiar e cobertura médica, formação e inserção das esposas no mercado do trabalho e lares estudantis para que os filhos frequentem a mesma escola da dita classe urbana. Nos 13 meses que durou a minha governação, os militares sentiram a diferença que se produziu e questões como restrições alimentares nos quartéis ou falta do combustível passaram a assuntos do passado.
Tenho todavia a consciência de que, num país de tantas clivagens, tantos conflitos e instabilidade, o político tem de manter alguma distância dos quartéis e assegurar uma relação transparente e regulamentada. Acresce o facto de eu ter estudado na antiga União Soviética, concretamente em Odessa, cidade com uma importante academia militar, o que me proporcionou conhecimento de um número bastante alargado dos atuais oficiais das nossas Forças Armadas. Outros, sobretudo da minha geração, foram meus colegas do liceu e, portanto da minha convivência e amizade. Posso afirmar sem qualquer receio de desmentido, que absolutamente todos os nomes grandes da hierarquia militar são meus conhecidos e muitos mesmo meus amigos, todos gente conhecida e que sabe quem sou. 
Eis a única razão porque tento manter distância e assegurar que não me imiscuo em assuntos que não são de natureza política, para ter condições de, no exercício de cargos públicos, dispor de liberdade para representar e exercer a autoridade necessária, dar tratamento justo a todoscumprir com as leis e normas em aplicação e sobretudo conhecer e respeitar a separação de áreas, âmbitos, domínios e competências.
Garantidos estes pressupostos, sou mais amigo e mais irmão dos militares do que muitos que por aí espavoneam. E a maioria dos militares sabe disso! 

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