Panfletos eleitorais sobrepostos num muro da cidade de Nampula, norte de Moçambique
Ser Presidente de Moçambique é o objetivo que têm em comum Afonso Dhlakama, da RENAMO, Daviz Simango, do MDM, e Filipe Nyusi, da FRELIMO, o partido no poder. Quem são e o que os move à sucessão de Armando Guebuza?
"Pai da democracia moçambicana". É assim que Afonso Dhlakama gosta de se auto-intitular. Alguns simpatizantes chamam-lhe "Mandela ou Obama moçambicano". Mas também há quem o veja como um "senhor da guerra".
Nascido em 1953 em Magunde, na província de Sofala, Dhlakama começou a dirigir a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), quando tinha apenas 23 anos, após a morte do fundador da RENAMO, André Matsangaissa, em 1979.
Moveu então uma guerrilha de 16 anos contra o Governo da FRELIMO, que duraria até 1992, ano do Acordo Geral de Paz. E voltou a envolver-se noutro conflito armado com o Governo, em abril do 2013, que só terminaria a cinco de setembro deste ano, quando assinou com o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, o acordo do fim das hostilidades militares.
Afonso Dhlakama, líder da RENAMO, o maior partido da oposição
Já em momento de estabilidade, Afonso Dhlakama prometeu, mas com condicionalismos: “Não vai haver nenhuma violação do cessar-fogo do nosso lado. A não ser que as Forças Armadas de Moçambique cheguem onde estivermos e disparem para nos matar. Se não conseguirmos fugir, poderemos responder a título de afugentá-los.”
O estilo de fazer política de Afonso Dhlakama tem variado entre juras de amor eterno à paz e ameaças de "incendiar” o país se for "provocado". Por isso, os críticos acusam-no de recorrer à violência para fazer vingar os seus pontos de vista.
“Se não gostarem de mim, depois de cinco anos, podem-me mandar embora, porque não vou matar ninguém", prometeu recentemente o líder da RENAMO num comício.
Dhlakama, que começou a sua campanha duas semanas depois dos adversários, foi recebido por "banhos de multidão" em vários pontos do país. “Por onde passei, senti-me muito satisfeito com aquelas enchentes de pessoas que, vê-se do coração, vêm porque querem ouvir a mensagem.”
Daviz Simango, uma alternativa a "FRENAMO"?
Daviz Simango, líder do MDM, o segundo maior partido da oposição
Quem também se volta a candidatar ao cargo de Presidente da República é Daviz Simango, o edil da Beira, a segunda maior cidade do país. Nascido em 1964, na Tanzânia, este engenheiro civil de 50 anos apresenta-se como alternativa à FRELIMO e à RENAMO, dois rivais históricos.
Simango tornou-se edil da Beira em 2003 em representação do maior partido da oposição, a RENAMO. Em 2008 concorreu à sua sucessão como independente e saiu vencedor.
Em março de 2009 criou um novo partido, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), uma alternativa ao "FRENAMO" com o qual foi reeleito edil da Beira em novembro do ano passado.
O líder do MDM é filho de Uria Simango e de Celima Muchangam, destacados dirigentes da FRELIMO que foram assassinados em campos de reeducação do partido no poder.
Numa entrevista à DW África em 2010, defendeu a criação de uma Comissão de Acolhimento e Verdade para investigar a libertação nacional e a guerra civil moçambicana: “A história moçambicana é contada de acordo com os interesses de três, quatro ou cinco pessoas – o que é mau!”
Na campanha para as eleições de 2014, o MDM foi atacado e denunciou tentativas de assassínio do seu líder. A FRELIMO chegou a inviabilizar um comício do MDM nos arredores da capital, Maputo.
Mas Daviz Simango, que encara a política como uma “missão", não se deixou intimidar. Fez campanha num lugar improvisado, onde apelou aos seus simpatizantes a dizer não à violência: “Se vocês responderem, alguém há-de sair com sangue, alguém pode morrer e nós não queremos governar os mortos. Queremos governar os vivos, por isso, nada de violência meus irmãos”.
Filipe Nyusi, o anónimo da FRELIMO
Filipe Nyusi, candidato da FRELIMO, o partido no poder
O terceiro nome nesta corrida presidencial é Filipe Nyusi, de 56 anos. Filho de antigos combatentes e membro da FRELIMO desde 1973, é o primeiro candidato presidencial do partido de perfil mais tecnocrático. Natural de Mueda, em Cabo Delgado, e de etnia maconde, ainda jovem viveu com os pais na Tanzânia, numa das principais bases de treino de novos guerrilheiros para combater o colonialismo português.
Formou-se em Engenharia Mecânica na antiga Checoslováquia e tem uma licenciatura em gestão pela Universidade de Manchester, no Reino Unido.
Antigo quadro dos Caminhos de Ferro de Moçambique, Nyusi era um desconhecido para muitos moçambicanos até ser convidado para o Governo, em 2008.
Era ministro da Defesa quando, no ano passado, eclodiram os confrontos entre RENAMO e as forças de defesa. Os seus críticos acusaram-no de ter acicatado a violência.
Quando foi escolhido como candidato pelo Comité Central da FRELIMO, declarou: “Vamos todos unidos trabalhar pela consolidação e crescimento de Moçambique e trabalhar para as eleições de 15 de outubro”.
Filipe Nyussi é descrito como sendo uma figura discreta e leal a Armando Guebuza. Durante a campanha, marcada por “showmícios”, prometeu combater o nepotismo, que disse estar a atrasar o desenvolvimento do país.
Mas apesar de o seu lema ser “Força da mudança”, Nyusi prometeu fazer tudo para dar continuidade ao trabalho dos seus antecessores.
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